Kanastra, startup para investimentos alternativos, compra Limine e mira boom de FIDC

Combinação cria um grupo com cerca de R$ 7 bilhões de ativos sob serviço; Kanastra fornece tecnologia para estruturação e administração de fundos estruturados e securitização

Região da Faria Lima, em São Paulo, setembro de 2022. Foto: Victor Moriyama/Bloomberg
02 de Abril, 2024 | 09:46 AM

Bloomberg Línea — O crescimento do mercado de investimentos alternativos, que inclui produtos como FIDCs, FIIs, CRIs e CRAs, tem aberto oportunidades para empresas no país que fornecem serviços a instituições que fazem a administração e a gestão desses instrumentos financeiros.

De olho nesse movimento, a startup Kanastra divulga nesta terça-feira (2) a aquisição da Limine DTVM, em uma combinação que cria um grupo com cerca de R$ 7 bilhões de ativos sob serviço e com uma equipe de cerca de 130 pessoas. O valor da transação não foi divulgado e a conclusão depende da aprovação pelo Banco Central.

O negócio é o primeiro realizado pela Kanastra desde que a startup levantou US$ 13 milhões em uma rodada Seed anunciada em julho do ano passado, que contou com a participação de fundos como Valor Capital, Quona e QED.

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Fundada por Gustavo Mapeli e Manuel Netto em 2022, a startup se especializou em fornecer a estrutura tecnológica de backoffice para o mercado de crédito privado de forma unificada, com o objetivo de consolidar o setor. É a tecnologia por trás da estruturação, da gestão e da administração de fundos estruturados e de ativos de securitização, como os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e Agrícolas (CRA).

Segundo Mapeli, a aquisição da Limine traz uma importante licença regulatória de DTVM que faltava à empresa para cumprir o seu objetivo de integrar em um lugar só os serviços para originadores, investidores, administradores e gestores que atuam com FDICs e securitizações.

“A Limine vem para completar o portfólio de licenças regulatórias e permitir que possamos oferecer um produto completo em primeiro lugar. Queríamos fazer isso com uma transação que fosse agregar do ponto de vista de pessoas e vimos isso na Limine”, disse Mapeli, CEO e cofundador, à Bloomberg Línea.

Os atuais fundadores da Limine, Elton Porpino e Nivea Yoshida, vão se tornar sócios da Kanastra e seguirão na empresa, que manterá uma operação independente.

A Limine foi fundada por eles em 2016 para ser uma boutique de administração fiduciária e serviços para crédito estruturado, e é focada em administração e custódia de FIDCs e escrituração de notas comerciais. Ao todo hoje a empresa trabalha com 70 fundos.

“Junto com a Kanastra, com a proposta de tecnologia e de um backoffice digital, isso vai permitir que a gente consiga implantar essa visão boutique, mas de uma maneira escalável”, disse Porpino em entrevista.

CVM 175

A tese dos fundadores é de que a nova Resolução 175 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que entrou em vigor em outubro do ano passado e traz novas regras para a indústria de fundos de investimento, vai “catapultar” o mercado de capitais, aumentando a demanda pelos seus serviços.

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Uma das mudanças na nova regulamentação é a possibilidade de o investidor de varejo acessar os FIDCs, antes disponíveis apenas a investidores qualificados ou profissionais.

“A 175 trouxe muita clareza e segurança jurídica para esse mercado. Ela permitiu a entrada de mais investidores em FDICs. Ficou muito mais seguro agora do ponto de vista institucional. E permite modelos de negócios mais completos e centralizadores”, afirmou Mapeli, da Kanastra, que já trabalhou no SoftBank e na consultoria BCG.

“Essa transação entre Kanastra e Limine faria pouco sentido há talvez três, quatro anos atrás, enquanto a regulação estava mais obscura”, completou.

Dados da Anbima indicam que os fundos estruturados crescem em ritmo acelerado no país. De janeiro de 2022 a dezembro do ano passado, o patrimônio líquido somado desse tipo de instrumento financeiro subiu de R$ 1,07 trilhão para R$ 1,44 trilhão, considerando FIDCs, FIIs e FIPs.

Em 2023, em um ano em que a indústria de fundos como um todo registrou saída líquida de R$ 127,9 bilhões no Brasil, os fundos estruturados tiveram entradas de R$ 66,2 bilhões.

“Quando a 175 estiver totalmente implantada, no final de 2025, os nossos veículos de investimento no Brasil vão estar equiparados aos veículos globais. Existe, portanto, uma grande oportunidade de ter a entrada de novos investidores. Mas, para que isso aconteça, é preciso uma transformação da infraestrutura e da tecnologia. É isso que estamos ajudando a construir”, disse Porpino, da Lumine.

Gustavo Mapeli, CEO da Kanastra, não descarta novas operações de M&A à frente de olho nessa oportunidade e na consolidação do mercado, mas diz que a startup não está em uma agenda de fazer múltiplas aquisições nos próximos meses. “Olhamos, acima de tudo, a qualidade e o alinhamento estratégico”, afirmou.

Filipe Serrano

É editor da Bloomberg Línea Brasil e jornalista especializado na cobertura de macroeconomia, negócios, internacional e tecnologia. Foi editor de economia no jornal O Estado de S. Paulo, e editor na Exame e na revista INFO, da Editora Abril. Tem pós-graduação em Relações Internacionais pela FGV-SP, e graduação em Jornalismo pela PUC-SP.