Nubank se valoriza 176% e Vélez vê mercado favorável a fintechs maiores em LatAm

Em entrevista à Bloomberg News, o cofundador e CEO global diz que clientes continuam a usar cada vez mais o banco para suas principais operações, de empréstimos a investimentos

O executivo e empreendedor colombiano David Vélez, cofundador e CEO global do Nubank (Foto: Divulgação)
Por Cristiane Lucchesi - Vinícius Andrade - Leda Alvim e Daniel Cancel
17 de Janeiro, 2024 | 09:33 AM

Bloomberg — David Vélez disse que o Nubank está abocanhando clientes de rivais em meio a uma consolidação nas startups financeiras latino-americanas, o que ajudou a alimentar uma alta de 176% em suas ações desde o momento mais baixo em junho de 2022.

O Nubank (NU) atraiu a atenção por usar cartões de crédito com limites baixos e aplicativos de celulares fáceis de usar para atrair brasileiros, mexicanos e colombianos, muitos dos quais nunca tiveram contas bancárias. Vélez, cofundador e CEO global, também tem como objetivo conquistar participação de mercado dos concorrentes, incluindo grandes bancos e pequenos concorrentes digitais.

Após anos de enxurrada de financiamentos, os fundos de capital de risco reduziram os investimentos em empresas de tecnologia do setor financeiro na América Latina, enquanto as taxas de juros mais elevadas tornaram mais difícil atrair clientes sensíveis a preços.

O Nubank abriu o capital antes de outras fintechs, em dezembro de 2021, acumulou clientes mais rapidamente e agora tem o que precisa para prosperar enquanto outros têm mais dificuldades, disse Vélez em uma entrevista à Bloomberg News na sede do Nubank em São Paulo.

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“As fintechs que construíram a maior base de clientes em serviços financeiros – e isto é verdade para o Brasil, o México, a Colômbia – provavelmente se beneficiarão desproporcionalmente de um ambiente de menos fragmentação”, disse ele.

Investidores correram para comprar as ações do Nubank desde que elas atingiram o seu nível mais baixo, alimentando uma recuperação que empurrou o valor de mercado da fintech para níveis acima de seu IPO e ampliando a fortuna de Vélez de US$ 3,9 bilhões para US$ 9,2 bilhões, de acordo com o Bloomberg Billionaires Index.

O Nubank dobrou o número de clientes para 90 milhões desde que abriu o capital.

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O sucesso desbancou os céticos que duvidavam que o banco digital e emissor de cartões de crédito poderia se comparar aos grandes bancos que dominam a América Latina.

“Nós explicamos a fórmula, não deveria ser tão difícil de entender: ‘Temos 90 milhões de clientes, com 7.000 funcionários; nossos concorrentes têm 90 milhões de clientes com 110 mil funcionários e 5 mil agências”, disse Vélez.

Desde que atingiram a mínima, as ações do Nubank superaram com folga o retorno de 28% de um índice de ações financeiras do Russell 1000, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

“A primeira sensação foi, OK, é mais uma outra loucura que só vai trazer resultados daqui a 15 anos”, disse Fernando Fontoura, gestor de portfólio da Persevera Asset Management, com sede em São Paulo. “Esse não foi o caso.”

Fontoura foi um dos muitos investidores brasileiros que mudaram sua visão sobre o Nubank depois que a fintech registrou seu primeiro lucro, surfou com tranquilidade uma crise de crédito no Brasil e mudou sua estratégia de relações com investidores ao contratar Jörg Friedemann — um analista bancário veterano que estava com o Citigroup quando o banco ajudou a coordenar o IPO da fintech.

O Nubank tem hoje uma das ações com maior presença nas carteiras dos gestores de fundos do Rio de Janeiro, segundo pesquisa do Itaú. E a maioria dos analistas abandonou as recomendações de venda que atribuíram às ações logo após o IPO.

“Não sabemos se o Nubank vai continuar mantendo o ritmo de crescimento que tem tido, é caro comparado com outros bancos, mas é um preço bem palatável,” disse Leonardo Rufino, gestor de portfólio da Mantaro Capital.

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Vélez disse que o Nubank é hoje o principal banco para 60% de seus clientes, contra 30% no início de 2019. No Brasil, tem 14% do mercado de cartões de crédito, comparado com os 10,4% na época do IPO, e 6% do mercado de empréstimos pessoais, contra 3,7% em dezembro de 2021.

“Temos visto mais clientes nos usando para receber salários, cartão de crédito, empréstimos pessoais, investimentos, seguros e acreditamos que essa tendência continuará”, disse Vélez.

Fundado em 2013 como uma das primeiras startups a desafiar os grandes bancos da região, o Nubank ganhou ainda na fase de capital fechado investimentos de empresas como a Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, e a Sequoia Capital, pioneira do Vale do Silício e ex-empregadora de Vélez.

A fintech se expandiu de sua base no Brasil para o México e a Colômbia, onde Vélez nasceu antes de se mudar para a Costa Rica ainda criança e, eventualmente, para a Califórnia, onde estudou na Universidade de Stanford.

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Ele planeja levar a empresa para além da América Latina em algum momento, mas não tem planos imediatos. África, Ásia e até mesmo os Estados Unidos têm gigantes bancários que estão prontos para serem desafiados, disse ele.

O Nubank já se tornou um dos emissores de cartões de crédito com crescimento mais rápido na Colômbia e no México, mesmo com as altas taxas de juros prejudicando a demanda.

“Nesses dois mercados, estamos seguindo o manual seguro que seguimos no Brasil: começar com um cartão de crédito, construir uma marca, obter uma licença, lançar depósitos e depois construir todo o banco totalmente digital”, disse ele.

“O que fomos capazes de mostrar após o IPO, mesmo em um momento de ambiente macroeconômico globalmente difícil, foi o aumento no número de novos clientes e agora, efetivamente, uma das maiores lucratividades no mundo dos serviços financeiros, que era o que estava faltando”, disse ele.

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O lucro líquido ajustado no terceiro trimestre de 2023 atingiu US$ 355,6 milhões, mais de cinco vezes superior ao valor do mesmo período de 2022.

O seu retorno sobre o capital próprio, uma medida de rentabilidade, atingiu 25% no mesmo trimestre, em comparação com cerca de 21% no Itaú, o maior banco da América Latina.

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A sua abordagem conservadora nos empréstimos ajudou a fintech a controlar as perdas com inadimplência e os altos juros cobrados compensaram essas perdas.

“À medida que eles começam a pagar suas contas e conhecemos melhor os clientes, começamos a dar a mais limites de crédito”, disse Vélez.

A queda das taxas de juros deve ajudar a reduzir os riscos de crédito no Brasil, criando um “ambiente benigno para o crescimento”, disse ele.

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No Brasil, Vélez pretende focar na expansão dos investimentos e do crédito à classe média, especialmente o crédito consignado. Também tem construíudo um marketplace online por meio de parcerias com grandes varejistas como Amazon e AliExpress.

“O Nubank não é grande”, disse Vélez. “Na verdade, somos pequenos, dada a oportunidade significativa de crescimento que ainda temos.”

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