BR Partners: como a saída de uma família pode ser um gatilho para destravar valor

Nova venda eventual de participação de outras famílias pode ampliar liquidez da unit e reduzir o desconto versus pares, segundo fontes à Bloomberg Línea

Região da Faria Lima, em São Paulo: centro financeiro do país e sede de bancos de investimento como a BR Partners
05 de Julho, 2023 | 05:20 AM

Bloomberg — Nos últimos dias, uma família que estava na base de investidores da BR Partners (BRBI11) desde a fundação concluiu a sua saída do maior banco de investimento independente do país. A família de nome não revelado buscou liquidez e conseguiu um acerto com os sócios do banco, segundo fontes disseram à Bloomberg Línea. A operação foi informada ao mercado por meio de comunicado no último dia 26.

No mercado, esse evento foi interpretado como um possível gatilho para aumentar a liquidez das units da BR Partners, em benefício de investidores minoritários que desejam ampliar sua participação. E, por tabela, destravar valor para a unit, reduzindo o desconto com o qual é negociada em relação a seus pares, segundo as fontes, que pediram para não serem identificadas tratando questões privadas.

Essa hipótese foi destacada pelo analista Pedro Leduc, da equipe de research do Itaú BBA, que endereçou a questão em relatório a clientes no domingo (2).

“Nós acreditamos que as iniciativas para melhorar a liquidez comercial podem ajudar a diminuir a diferença com pares como BTG (12x a valor justo). O free float está atualmente em 24%, com um valor de mercado de R$ 1,5 bilhão. Observe que um grupo de famílias detém cerca de 28% das cotas por meio de um fundo com lockup de longo prazo”, escreveu Leduc no relatório.

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O analista faz referência a um lockup de 20 anos, segundo uma das fontes disse à Bloomberg Línea, para o investimento que dez famílias fizeram por ocasião da fundação da BR Partners em 2009 - por meio de cotas de um fundo de investimento em participações, o FIP Brapinvest.

Esse FIP, gerido pela BR Partners, estava de posse de 30,3% do capital total da companhia e, com a saída dessa família, passou a contar com 29%. O valor da transação não foi divulgado.

Segundo as fontes à Bloomberg Línea, a saída concretizada sugere que novas exceções ao lockup podem ser viabilizadas se outras famílias e os sócios da BR Partners demonstrarem interesse e entrarem em acordo. Isso poderia ocorrer de forma organizada, por meio de block trade ou follow on.

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A operação de saída em questão foi concretizada, segundo o comunicado, por meio da aquisição de 1,351 milhão de units da companhia (1,351 milhão de ações ordinárias e 2,702 milhões de ações preferenciais), equivalente a 1,2869% do capital total da companhia, pela HoldCo Participações, o veículo dos sócios da BR Partners dentro do modelo de partnership e que controla a empresa.

A HoldCo, por sua vez, passou a deter 46,7890% do capital total da BR Partners, dos quais 45,5% de forma direta e agora 1,2890% por meio de cotas no FIP Brapinvest.

A unit encerrou negociada a R$ 14,85 nesta terça-feira (4), com valorização de cerca de 20% em 30 dias. O analista do BBA elevou o preço-alvo para a unit no fim do ano de R$ 13 para R$ 18, o que equivale a um P/L de 10x nas estimativas para 2024 - era negociada a 8x na data do relatório.

Ele apontou a empresa como bem posicionada para se beneficiar da melhora do mercado de capitais em atividades como M&A e emissão de dívida com a queda dos juros nos próximos trimestres.

A presença de famílias investidoras como acionistas ou clientes foi também destacada por Leduc em seu relatório.

“A empresa já possui uma forte rede de famílias ultra-ricas do Brasil. As operações de M&A [fusões e aquisições] e DCM [mercado de dívida] frequentemente fornecem liquidez às partes, cujos recursos podem ser capturados pela divisão”, escreveu o analista sobre os planos da BR Partners de começar a atuar com wealth management nos próximos meses, em sinergia com o banco de investimento.

Procurada pela Bloomberg Línea, a BR Partners não quis fazer comentários.

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.