Empresas reduzem apetite por recompras de ações em sinal de cautela nos EUA

Valor somado dos planos de compra das próprias ações acumula queda de 8% em relação ao ano passado

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Bloomberg — Empresas dos Estados Unidos, que estavam entre os poucos compradores estáveis de ações no atual mercado baixista, estão com menos disposição para gastar, em mais uma evidência de que a desaceleração induzida pelo Federal Reserve tem afetado o clima de negócios.

Até segunda-feira (8), companhias americanas haviam anunciado planos para comprar US$ 580 bilhões de suas próprias ações este ano, uma queda de 8% na comparação anual, segundo dados compilados pela Birinyi Associates. É uma mudança de tendência em relação a janeiro, quando as recompras tiveram um início recorde.

Dois trimestres de lucros em queda têm sobrecarregado a máquina geradora de caixa, ao mesmo tempo em que o estresse bancário e o espectro de uma recessão se aproximam.

Algumas empresas veem tudo isso como uma razão para economizar. Estrategistas do Goldman Sachs perceberam a mudança e cortaram suas previsões para recompras em todo o mercado, com projeção de um declínio de 15% neste ano.

“As recompras dão às empresas a flexibilidade de tirar o pé do pedal quando veem uma mudança chegando”, disse Jeff Rubin, diretor de pesquisa da Birinyi. “Eu diria que a queda na atividade corporativa real é uma combinação de empresas que analisam o cenário macro da economia, bem como seus lucros anuais mais baixos, e decidem reduzir suas compras como medida de precaução.”

As companhias batem em retirada depois de um recorde de compras de US$ 923 bilhões em 2022 que desafiou os mais pessimistas. Na época, os gastos corporativos ajudaram a evitar que o mercado acionário baixista piorasse quando investidores de todos os tipos decidiram fugir.

Agora, esse compromisso dá sinais de perder força, quando o S&P 500 acumula alta de 15% em relação à mínima de outubro e os lucros devem se retrair por mais dois trimestres.

Nos primeiros três meses de 2023, as recompras reais entre os componentes do índice caíram 21% em relação ao ano anterior, segundo dados compilados pelo Goldman.

Os estrategistas do banco, que incluem Ryan Hammond e David Kostin, esperam que as empresas gastem menos este ano depois de o nível de caixa cair para o patamar mais baixo desde 2010.

Sem contar o setor financeiro, os saldos de caixa encolheram 13% nos últimos 12 meses, na queda mais forte já registrada.

Com menos dinheiro em caixa, as recompras tendem a cair bastante, já que os CEOS tendem a manter os planos de dividendos e gastos de capital. O total de recompras deve somar US$ 808 bilhões este ano, segundo a equipe do Goldman, abaixo da estimativa de novembro de US$ 869 bilhões.

“A desaceleração no crescimento dos lucros, a maior incerteza da política após o recente estresse bancário e os altos ‘valuations’ iniciais para recomprar ações representam obstáculos para as recompras”, escreveram os estrategistas em nota esta semana. “O custo da dívida aumentou muito, o que elimina o incentivo para recompras financiadas por dívida.”

Embora a equipe espere que as recompras retornem em 2024, a queda prevista para este ano afasta um dos maiores aliados de investidores que têm apostado em ações. Em um cálculo realizado pelo Goldman, as compras corporativas de ações superaram com a maior diferença na última década todas as outras categorias de investidores, como pensões, fundos mútuos e famílias.

Há sinais de que investidores estão cada vez mais desconfiados quanto à sustentabilidade desse poder de compra. Um índice que acompanha ações do S&P 500 com as maiores recompras está 7 pontos percentuais abaixo do indicador de referência desde janeiro, o pior desempenho até agora em um ano, atrás apenas da crise da pandemia em 2020 e do estouro da bolha da internet em 2000.

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