Copom mantém Selic em 13,75% pela 6ª vez e indica que juros devem seguir elevados

Em reunião de política monetária nesta quarta, colegiado de diretores do BC decidiu manter a taxa básica no mesmo patamar pela 6ª vez consecutiva

Inflação tem retrocedido no Brasil, mas as expectativas continuam acima da meta do BC
03 de Maio, 2023 | 06:54 PM

Bloomberg Línea — O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, decidiu manter a Selic em 13,75% ao ano, mesmo diante das críticas persistentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao patamar atual da taxa básica de juros.

O Copom manteve a Selic em 13,75% pela sexta vez consecutiva desde que os juros atingiram esse patamar em agosto do ano passado, em um longo ciclo de aperto monetário para combater a inflação elevada no país, que tem tornado as condições financeiras mais restritivas.

A decisão foi em linha com o esperado pelo mercado financeiro. Quase todos os analistas consultados pela Bloomberg previam a manutenção da Selic em 13,75%. Apenas um estimava um corte a 13,50% ao ano.

Em decisão de política monetária divulgada nesta quarta-feira (3) após o fechamento do mercado, o Copom apontou que a aprovação do novo arcabouço fiscal e a reoneração dos combustíveis reduziram parte das incertezas sobre a política fiscal, mas ressaltou que o processo de queda da inflação tende a ser lento.

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“O Copom enfatiza que não há relação mecânica entre a convergência de inflação e a aprovação do arcabouço fiscal, e avalia que a desancoragem das expectativas de longo prazo eleva o custo da desinflação necessária para atingir as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional. Nesse cenário, o Copom reafirma que conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas”, diz o comunicado do Copom, composto por diretores do Banco Central.

“Considerando a incerteza ao redor de seus cenários, o Comitê segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação. O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê avalia que a conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária. O Copom enfatiza que, apesar de ser um cenário menos provável, não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”, afirmou o Copom.

Na visão de analistas, o comunicado do Copom foi mais duro (ou hawkish) do que o esperado por sugerir que a Selic deve ficar no nível atual durante um período mais longo.

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“A surpresa, na minha opinião, ficou por conta do tom da manutenção da Selic no patamar atual por mais tempo, pegando o mercado meio que na contramão, em um momento em que havia a esperança de um corte de juros no curto prazo”, disse Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil.

“O Comitê caminhou no sentido contrário por entender que ainda há muito a ser feito, principalmente para ancorar as expectativas de inflação, tentando cumprir a meta de forma técnica, mas tendo que cobrar um custo alto para isso.”

Os dados mais recentes têm mostrado um arrefecimento dos preços no país e também um aumento do desemprego. No entanto, as expectativas para o IPCA, índice oficial de inflação do país, continuam acima das metas do Banco Central, o que tem exigido uma postura dura do Copom.

Analistas do mercado financeiro estimam que o IPCA deve encerrar 2022 em alta de 6,04% e 2023, em 4,18%, de acordo com o relatório Focus, do Banco Central, mais recente.

A meta de inflação do Banco Central é de 3,25% para 2023 e de 3% para 2024, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto porcentual. As metas de inflação são definidas pelo próprio governo por meio de representantes no Conselho Monetário Nacional (CMN) em reuniões periódicas.

A decisão do Copom nesta quarta-feira é a primeira após a divulgação dos detalhes do texto do arcabouço fiscal, as novas regras para limitar o crescimento das despesas do governo federal.

O projeto era aguardado por analistas do mercado financeiro e a expectativa do governo era a de que ele pudesse reduzir as incertezas em relação às contas públicas levando a uma queda dos juros no mercado e das estimativas de inflação.

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O novo texto, no entanto, tem sido criticado por especialistas por depender do aumento da arrecadação para a melhora das contas públicas sem redução de despesas e por não estabelecer controles que exigem cortes de gastos.

O texto está em tramitação no Congresso e a expectativa é de que seja votado ainda este mês.

Inflação em queda

Depois de atingir um pico de 12,13% em abril do ano passado, a inflação acumulada em 12 meses desacelerou após o alívio nas bandeiras tarifárias de energia e o corte de impostos sobre combustíveis e serviços essenciais promovido pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro no ano passado.

O IPCA encerrou 2022 em 5,79% e segue em desaceleração, atingindo alta de 4,65% no acumulado dos últimos 12 meses até março (último dado disponível).

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O resultado ficou abaixo do teto da meta de inflação do Banco Central, de 4,75%, o que reforçou as expectativas de analistas de um corte na taxa básica de juros em 2023. A maioria dos analistas do mercado financeiro espera que a Selic encerre o ano em 12,50%, de acordo com o relatório Focus.

-- Atualizado às 19h15 para incluir mais informações

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Filipe Serrano

É editor da Bloomberg Línea Brasil e jornalista especializado na cobertura de macroeconomia, negócios, internacional e tecnologia. Foi editor de economia no jornal O Estado de S. Paulo, e editor na Exame e na revista INFO, da Editora Abril. Tem pós-graduação em Relações Internacionais pela FGV-SP, e graduação em Jornalismo pela PUC-SP.