BC deve desacelerar ritmo de cortes da Selic e mercado vê chance de voto dividido

Para analistas consultados pela Bloomberg, piora do cenário com exterior adverso e aumento das expectativas de inflação dificulta decisão da autoridade monetária

Banco Central em Brasília
Por Josue Leonel e Maria Eloisa Capurro
07 de Maio, 2024 | 11:25 AM

Bloomberg — O Banco Central deverá desacelerar o ritmo de corte da taxa Selic para 0,25 ponto percentual nesta quarta-feira (8), após seis cortes consecutivos de 0,50pp, segundo a maioria dos analistas consultados pela Bloomberg.

O cenário do Copom mudou para pior, dizem os economistas, com um pano de fundo externo mais adverso pelo adiamento das apostas em corte de juros nos EUA – o que chegou a levar o dólar para acima de R$ 5,20 nas últimas semanas. Além disso, as expectativas de inflação subiram na esteira da revisão da meta fiscal.

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Entre 28 analistas consultados pela Bloomberg, 19 esperam redução de juro de apenas 0,25pp, para 10,50%, contra nove que preveem que o BC cortará a Selic em 0,50pp, respeitando o chamado “forward guidance”, a sinalização futura do Copom, dado na reunião de março.

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A curva de juros projeta redução de menos de 30 pontos-base e, na segunda-feira (6), as taxas futuras voltaram a subir, com o receio do impacto das chuvas no Rio Grande do Sul. O temor é de que a enchentes afetem a produção agrícola e elevem os preços dos alimentos, além de piorar o cenário fiscal, dado o gasto com ajuda federal ao estado.

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O presidente do BC, Roberto Campos Neto, também tem chancelado a cautela do mercado. A partir de meados de abril, Campos Neto passou a citar incerteza maior com fatores como a dívida e a piora da expectativa inflacionária — mesmo com os recentes dados mais benignos de inflação.

  

Economistas consideram também que a decisão pode não ser unânime, seja para um corte de 0,25pp ou 0,50pp. O BC deve remover o guidance — alterado em março para dizer que, se o cenário se confirmasse, antevia “redução de mesma magnitude na próxima reunião”.

Confira a seguir as projeções de economistas do mercado financeiro para a decisão desta quarta:

Mário Mesquita, economista-chefe do Banco Itaú

  • BC deve cortar juro em 0,25pp e manter a sinalização de dependência dos dados;
  • Pano de fundo é de maior incerteza externa, com adiamento e redução de orçamentos de cortes de juros, e doméstica, com convergência da dinâmica das contas públicas mais tardia e mais incerta;

Cassiana Fernandez e Vinicius Moreira, do JPMorgan

  • BC deve reduzir o passo;
  • Membros do Copom reconheceram publicamente que a combinação do aperto monetário global e da redução da meta fiscal de 2025 aumenta a incerteza;
  • “Vemos chances crescentes de um voto dissidente”;

Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs

  • BC deve se desviar de seu forward guidance e desacelerar o ritmo; Goldman não descarta um ou mais votos por redução de 0,50pp;
  • Também há alguma probabilidade de corte de 0,50pp, com dissenso em favor de corte menor e um “comunicado hawkish”, sugerindo espaço limitado para um relaxamento monetário adicional significativo;

Claudio Ferraz e equipe do BTG Pactual

  • “Na dúvida, vá mais devagar”, diz banco, que vê corte de 0,25pp e remoção de forward guidance;
  • Houve aumento da incerteza externa desde o Copom anterior, especialmente sobre desinflação nos EUA;

Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco

  • Há espaço para redução de 0,50pp, mas a comunicação do BC parece ter indicado uma preferência por um corte de 0,25pp – que é o que BC deve fazer;
  • “Um corte de 0,25pp pode até fazer sentido tático, para que o Copom ganhe tempo”;

Caio Megale, economista-chefe da XP, e equipe

  • BC deve cortar 0,25pp e decisão pode ter dissenso;
  • Câmbio está mais depreciado, commodities subiram e mercado de trabalho está mais forte que o esperado;

Tatiana Pinheiro, economista da Galapagos Capital

  • Mensagens de cautela com relação à economia internacional e local serão mantidas mesmo após os últimos dados nos EUA;

Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter

  • BC deve manter do corte de 0,50pp, mas remover guidance;
  • Apesar da volatilidade maior, principalmente nos dados externos, os fundamentos da inflação no Brasil continuam melhores, mostrando desaceleração dos núcleos e serviços subjacentes;

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