Crise bancária: por que o First Republic voltou a preocupar os mercados

Banco de médio porte reacendeu o temor dos investidores em Nova York sobre a situação das instituições financeiras; ações derreteram 75% nesta semana

Reguladores e credores travam disputa para ver quem irá salvar o banco problemático
Por Jenny Surane, Hannah Levitt e Katherine Doherty
29 de Abril, 2023 | 05:44 AM
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Bloomberg — O destino do First Republic Bank (FRC) tornou-se uma disputa complicada entre o governo dos Estados Unidos e os maiores rivais do banco, com ambos os lados tentando evitar grandes perdas e esperando que o outro cuide da empresa problemática.

As ações do banco derreteram 75% nesta semana em um sequência de fortes perdas após a divulgação do balanço. Ainda assim, os reguladores até agora se abstiveram de intervir na instituição financeira.

Eles esperaram para ver se os bancos que depositaram US$ 30 bilhões no First Republic no mês passado podem fechar um acordo para garantir que a empresa não entre em colapso e leve parte de seu dinheiro com ela.

Em 16 de março, JPMorgan (JPM), Bank of America (BAC), Citigroup (C) e Wells Fargo (WFC) acertaram contribuir com US$ 5 bilhões em depósitos cada, enquanto Goldman Sachs (GS) e Morgan Stanley (MS) entraram com US$ 2,5 bilhões cada. PNC Financial Services Group, Bank of New York Mellon, Truist Financial, U.S. Bancorp e State Street contribuiram com US$ 1 bilhão cada.

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Funcionários seniores da Federal Deposit Insurance Corp (FDIC) chegaram a discutir se reduziriam sua avaliação privada do banco, uma medida que restringiria seu acesso a um par de linhas de crédito do Federal Reserve (Fed).

Por outro lado, executivos de vários grandes bancos estão hesitando em se envolver ainda mais de uma forma que traria prejuízos. Alguns avaliam que, se esperarem, receberão pelo menos alguns desses depósitos de volta — e podem se sair ainda melhor do que se intervirem, potencialmente jogando um bom dinheiro atrás do ruim.

“Há algum nervosismo sobre como o Silicon Valley Bank (SVB) caiu e talvez eles gostariam de ver se o First Republic pode resolver seus problemas sozinho”, disse Stephen Lubben, professor da Escola de Direito da Seton Hall University.

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“Os reguladores provavelmente também estão preocupados que, se isso não parar, quem será o próximo?” ele disse. “Isto é, quem vem depois do First Republic?”

Um porta-voz do First Republic se recusou a comentar.

O que causou a crise no First Republic

Os problemas do First Republic decorrem de seu estoque de empréstimos a taxas de juros baixas, incluindo uma carteira grande de hipotecas gigantescas para clientes ricos. Essas dívidas perderam valor em meio aos aumentos do Federal Reserve, levando muitos depositantes a sacar seu dinheiro.

Depois que o colapso do Silicon Valley Bank em março alimentou as preocupações sobre a solidez dos bancos regionais, o First Republic pagou mais pelo financiamento do que ganha com muitos de seus ativos. Isso significa que a empresa enfrenta o que os analistas preveem que será pelo menos um ano de perdas.

O banco continua operacional e os executivos enfatizaram em um relatório de resultados na segunda-feira (24) que ele tem acesso mais do que amplo a dinheiro para atender os clientes. Ainda assim, seus líderes reconheceram que estão buscando opções estratégicas.

O relógio para fechar tal acordo começou a correr mais alto no final da semana passada. Os reguladores dos EUA entraram em contato com alguns líderes do setor, encorajando-os a fazer um esforço renovado para encontrar uma solução privada para fortalecer o balanço do First Republic, de acordo com pessoas com conhecimento das discussões.

As ligações também vieram com um alerta de que os bancos devem estar preparados caso algo aconteça em breve.

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Negócios propostos

Várias propostas de resgate até agora não foram concretizadas.

No início desta semana, a Bloomberg News informou que a First Republic procurava vender entre US$ 50 bilhões a US$ 100 bilhões em ativos para grandes bancos que também receberiam garantias ou ações preferenciais como incentivo para comprar as participações acima de seu valor de mercado.

Na quarta-feira (26), os assessores do First Republic estavam lançando em particular um conceito semelhante, no qual os bancos mais fortes comprariam seus títulos por mais do que valessem, para que pudessem vender ações a novos investidores. Embora isso significasse contabilizar perdas iniciais, os bancos poderiam reter as dívidas por meio do pagamento integral.

Nesse cenário, sugeriram os proponentes, os grandes bancos poderiam economizar dinheiro garantindo a segurança de seus US$ 30 bilhões em depósitos e evitando uma avaliação especial do FDIC se o regulador interviesse.

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Mas executivos de cinco dos maiores bancos, falando sob a condição de não serem identificados, rejeitaram a ideia de se unirem novamente para sustentar o First Republic, especialmente quando isso pode significar abrir caminho para investidores ou um concorrente abocanhar a empresa a preço de banana.

Um expressou vontade de participar – mas apenas se os reguladores forçassem o grupo a agir.

Recuperando depósitos

Vários bancos prefeririam que, se necessário, o FDIC tomasse o First Republic e o vendesse. Tal resolução, disseram eles, seria mais limpa, mesmo que os bancos perdessem dinheiro. Alguns já fizeram reservas.

O grupo de bancos foi responsável pela maior parte dos US$ 50 bilhões em depósitos não segurados do First Republic no final do primeiro trimestre. Mas, como depositantes, eles estariam na linha de frente para recuperar o dinheiro se a questão fosse resolvida.

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Dois executivos cujos bancos contribuíram com US$ 5 bilhões cada um em depósitos no mês passado disseram que esperam recuperar pelo menos parte — embora não todo — desse dinheiro no pior cenário.

Em toda a indústria, o relatório de lucros trimestrais da First Republic na segunda passou a ser considerado um desastre. A empresa anunciou uma queda maior do que a esperada nos depósitos e se recusou a responder a perguntas enquanto os executivos apresentavam um briefing de 12 minutos sobre os resultados.

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As ações prontamente mergulharam no final do pregão daquele dia. Ao todo, caíram 97% neste ano.

Cenário alternativo

Executivos do setor disseram que é possível que — independentemente das ações — o First Republic possa seguir em frente indefinidamente.

E o FDIC mostrou que não tem pressa em confiscar a empresa e dar outro golpe multibilionário em seu fundo de seguro.

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O aparente impasse ocorre apenas algumas semanas depois que a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, divulgou a injeção de US$ 30 bilhões que ela ajudou a arquitetar com o CEO do JPMorgan Chase, Jamie Dimon, como uma demonstração de apoio ao sistema financeiro.

Naquela época, a maioria dos grandes bancos dos EUA estava disposta a mostrar seu interesse em participar e também apontou esses esforços em relatórios de ganhos recentes, com Dimon dizendo que todos “fizeram a coisa certa”.

Para os aspirantes a socorristas, o colapso do SVB e do Signature Bank ofereceu um lembrete infeliz no mês passado: os licitantes às vezes conseguem o negócio mais lucrativo sendo pacientes e esperando para pegar um banco ou seus ativos assim que a agência intervém.

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Depois que esses dois bancos foram vendidos, ambos os compradores viram suas ações estourarem.

- Com colaboração de Matthew Monks, Sonali Basak, Sridhar Natarajan, Gillian Tan, Max Reyes e Katanga Johnson.

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