Nem só de ganhos vive Buffett: Berkshire paga caro para emitir títulos no Japão

Especulação em torno da política monetária da economia asiática aumenta o prêmio que emissores precisam oferecer e isso afetou a holding do bilionário investidor

A Berkshire Hathaway, de Warren Buffet, pagou caro para vender títulos de sua emissão denominados em ienes
Por Finbarr Flynn
14 de Abril, 2023 | 05:04 AM

Bloomberg — Dias após revelar o aumento de suas apostas nas grandes empresas do Japão, Warren Buffett mostrou que até um dos mercados mais estáveis do mundo tem sido pelas incertezas da política monetária.

A sua holding de investimentos, a Berkshire Hathaway, vendeu o equivalente a US$1,2 bilhão em títulos denominados em ienes e teve que pagar alguns de seus custos mais altos de todos os tempos para vender dívida lastreada na moeda japonesa. A especulação sobre o aperto da política monetária do Banco do Japão (BoJ), o banco central do país, aumenta a carga para os emissores.

A Berkshire, uma das maiores emissoras de dívida em ienes, pagou spreads mais altos em todos os cinco vencimentos na comparação com uma oferta realizada em dezembro. Os custos totais para a transação nesta sexta-feira (14) refletiram um salto ainda mais acentuado no empréstimo.

A nota de cinco anos emitida pela empresa foi cotada com um prêmio de 1,135%, segundo um email da Mizuho Securities Co., uma das coordenadoras da negociação conjunta. Isso é quase sete vezes maior do que quando a empresa com sede em Omaha, Nebraska, pagou quando estreou no mercado de emissão de títulos em ienes em 2019. Isso mostra que o Japão não ficou imune à alta global nos custos de empréstimos.

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A negociação ocorreu apenas alguns dias depois que o bilionário investidor chamou a atenção dizendo que aumentou a exposição a ativos japoneses. A Berkshire atraiu investidores de títulos em ienes com classificações de crédito mais fortes feitas por Moody’s Investors Service e S&P Global Ratings, comparativamente à avaliações de crédito concedidas à dívida soberana japonesa.

Relativamente, no entanto, os custos de empréstimos japoneses ainda permanecem baixos pelos padrões globais, mas os traders estão apostando que o Banco Central do Japão, o BoJ, seguirá os pares globais e sairá das taxas negativas com seu novo mandatário, Kazuo Ueda.

“Existe uma forte possibilidade de que o iene se valorize, já que o BoJ não tem para onde ir além de subir, enquanto a desinflação em outros lugares significa que as taxas globais atingiram o pico”, disse Amir Anvarzadeh, estrategista da Asymmetric Advisors em Cingapura. “As ações japonesas estão baratas e Buffett ganhou muito dinheiro com essas negociações que comprou em 2020″.

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Os recursos da oferta serão usados para fins corporativos gerais, incluindo o refinanciamento de algumas dívidas, de acordo com o emissor em um comunicado no início deste mês. Uma tranche de 56,3 bilhões de ienes em títulos da Berkshire Hathaway vence na sexta-feira.

O conglomerado de Buffett vendeu cerca de 1,2 trilhão de ienes em dívidas, incluindo a oferta de hoje, desde sua primeira venda em 2019.

A empresa americana, que Buffett assumiu o controle em 1965, surpreendeu os mercados japoneses em 2020 ao comprar ações de tradings locais após precificar uma das maiores transações de títulos em ienes de todos os tempos por um emissor estrangeiro.

As ações das principais tradings do Japão saltaram na terça-feira depois que Buffett disse ao jornal Nikkei que a Berkshire havia aumentado suas participações para 7,4%, de cerca de 5% em 2020. Buffett disse estar “muito orgulhoso” dos investimentos, em uma transcrição publicada da entrevista. Ele acrescentou que, embora não tenha participação em outras grandes empresas japonesas, “sempre pensa em algumas”, informou o jornal.

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