Esta empreendedora deixou o mercado financeiro para abrir uma rede de cafés

Daniela Coelho trabalhou em escritórios de investimento e abriu o Café Zinn, que conta com cinco unidades, uma delas nos Jardins, e avalia expansão para shoppings de alta renda

Número de cafeterias independentes em São Paulo continua a crescer, segundo associações do setor (Linh Pham/Bloomberg)
02 de Abril, 2023 | 02:42 PM

Bloomberg Línea — A cidade de São Paulo é conhecida por sua cena gastronômica, entre bares, restaurantes e cafeterias. Não é difícil caminhar pela cidade e encontrar nomes internacionais e marcas consolidadas no mercado de café a cada esquina, ainda que a oferta de commodity tenha sido afetada ultimamente.

O mundo enfrentará escassez de café pelo terceiro ano consecutivo “sem precedentes” devido à colheita abaixo do esperado do maior produtor brasileiro, de acordo com a trader Volcafe.

A oferta global ficará atrás da demanda em 3,8 milhões de sacas na próxima temporada, com o grão robusta atingindo um déficit recorde em meio à crescente demanda pela variedade usada no café instantâneo e como mistura em expressos, disse a divisão ED&F Man em um relatório recente.

As projeções da Volcafe pode significar preços mais elevados do café. Um déficit de robusta de tal magnitude poderia tornar até mesmo as marcas tradicionais no supermercado mais caras para os consumidores que tentam cortar despesas enquanto lidam com os preços altos dos alimentos.

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O Brasil também deve colher menos arábica, o grão preferido da Starbucks, o que pode se traduzir em preços mais altos também para as grandes cadeias de cafés.

Mas isso não impede também o aumento do número de empreendedores familiares que querem criar sua própria marca.

Após alguns anos trabalhando em escritórios de investimentos em São Paulo, a empresária mineira de 26 anos Daniela Coelho decidiu dar continuidade à produção de café da família e abriu sua primeira loja em 2021, na zona oeste de São Paulo. Hoje, eles têm cinco unidades, no Rio e em São Paulo, sendo três lojas físicas e duas dark kitchen - cozinhas que só atendem pedidos por delivery.

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No primeiro ano de operação, o Café Zinn vendeu 20 toneladas de café para uso em loja, que vem da produção da família em Minas Gerais, assim como o pão de queijo, também produzido por eles, em que foram vendidos 12 toneladas. Para além da produção familiar, o carro-chefe da casa, o bolo de chocolate, é uma receita da própria Daniela e gerou vendas de 156 mil fatias em 2022.

Agora, a Daniela conduz os planos de expansão. Após receber convites do Shopping Iguatemi, em São Paulo, e do Shopping Leblon, no Rio de Janeiro, ambos para o público de alta renda, ela agora quer novas lojas chamadas experience, como a primeira de todas, na Rua Haddock Lobo, perto da Oscar Freire, nos Jardins.

A marca cresceu 250% no segundo ano de operação e agora quer dobrar o número de unidades em 2024.

Apesar da ambição, Daniela dispensa investimentos de fora da família neste momento. “Na minha percepção, estaria pensando muito pequeno se eu quisesse abrir mão agora e já ter sócios, que talvez isso diminua meu poder aqui”, explicou a empresária em entrevista à Bloomberg Línea. “Quem sabe depois de 2024 a gente consiga pensar nisso.”

Questionada se teria ficado receosa por abrir seu primeiro empreendimento em uma cidade já tão cheia de opções e nomes famosos como São Paulo, ela disse que sua experiência na área financeira ajudou. “Por ter vindo do mercado financeiro, acho que eu já cheguei calejada. Ali eu aprendi muito.”

Daniela Coelho, que trabalhou no mercado financeiro antes de abrir a rede Café Zinn, com atendimento de olho no público de alta renda em São Paulo e no Rio de Janeirodfd

Sustentabilidade do negócio

A empresária explicou que percebe que seu público - majoritariamente formado por mulheres jovens - exige mais explicações sobre sustentabilidade. Por isso, o Café Zinn neutraliza a pegada de carbono das produções de café, que vem registrado na embalagem, e de pães de queijo.

Daniela disse que, além da sustentabilidade do meio ambiente, a busca pela experiência é outro pilar da companhia. “É um desafio transformar uma commodity em um produto que encante clientes. Nós tentamos ser a segunda casa das pessoas que frequentam, principalmente por meio do treinamento da equipe e da nossa recepção.”

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A empresária disse que ter funcionárias mulheres à frente do negócio também ajuda na promoção de um ambiente mais acolhedor. Cerca de 70% da equipe de colaboradores do Café Zinn é formada por mulheres e 90% delas são líderes. A aposta de Daniela é na experiência como fidelização da clientela.

“Tenho um perfil bem arrojado. Eu brinco que, quando decidi abrir, não sabia onde eu estava entrando. Mas foi uma surpresa boa”.

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Kariny Leal

Jornalista carioca, formada pela UFRJ, especializada em cobertura econômica e em tempo real, com passagens pela Bloomberg News e Forbes Brasil. Kariny cobre o mercado financeiro e a economia brasileira para a Bloomberg Línea.