Quem é a família que comprou o SVB e ficou bilionária ao adquirir bancos falidos

Donos do First Citizens cresceram fazendo negócios com instituições em situação financeira delicada; banco agora será um dos 15 maiores dos EUA em ativos

Banco é agora um player nacional, com mais de 500 agências e escritórios de private banking espalhados pelo país, além de mais de 10 mil funcionários
Por Jenny Surane - Paige Smith - Ben Stupples
01 de Abril, 2023 | 03:01 PM

Bloomberg — Na última semana, o banco First Citizens BancShares (FCNCA) assinou um acordo de US$ 72 bilhões para comprar o que restou do Silicon Valley Bank (SVB) após a quebra da instituição que era especializada em gerir depósitos de startups.

O negócio criou uma carteira de US$ 143 bilhões e transformou o First Citizens, então um banco pouco conhecido, em uma das 15 maiores instituições financeiras dos Estados Unidos, com mais ativos do que o Morgan Stanley (MS) ou a American Express (AXP), de acordo com dados do Federal Reserve.

Por trás do negócio do First Citizens está a história da família do CEO Frank B. Holding Jr., que fez fortuna com o banco e já comprou pelo menos uma dúzia de instituições financeiras falidas desde 2008.

“Aquisição é convincente financeira, estratégica e operacionalmente”, disse Holding, de 61 anos, que é o diretor-presidente e um dos maiores acionistas pessoa física do banco, em uma teleconferência na segunda-feira (27). As ações do First Citizens dispararam após o anúncio. “É também uma grande ilustração do trabalho conjunto de órgãos reguladores e bancos para proteger os depositantes.”

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O First Citizens começou com US$ 10 mil de capital como o Smithfield Bank em 1898, atendendo principalmente ao Condado de Johnston, na Carolina do Norte. Em 1935, o avô de Frank Holding Jr., R.P. Holding, assumiu a presidência da empresa, liderando o banco até sua morte nos anos 1950.

Naquele momento, a liderança do banco foi transferida para seus três filhos, Robert Holding, Lewis R. Holding e Frank B. Holding. Na década de 1970, a empresa mudou sua sede para Raleigh, na Carolina do Norte, uma vez que os ativos ultrapassaram US$ 1 bilhão pela primeira vez, de acordo com o site da empresa.

Foi somente em 1994 que a First Citizens começou a abrir filiais fora de seu estado de origem após adquirir um banco no estado da Virgínia Ocidental. Alguns anos mais tarde, a empresa acrescentou uma subsidiária federal, permitindo sua expansão pelo país.

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Frank B. Holding Jr. foi nomeado CEO do First Citizens em 2008, depois presidente do conselho no ano seguinte, no auge da crise financeira global. Alguns outros executivos do banco – incluindo a vice-presidente Hope Holding Bryant e o presidente Peter Bristow – também são membros da família Holding.

“Ele se parece com o banqueiro da família”, disse Lawrence Baxter, um professor da Duke University School of Law que já foi cliente do First Citizens e vê regularmente Holding em anúncios que fazem parte do patrocínio do banco na emissora PBS da Carolina do Norte.

Cinco ramos

Holding e seus parentes tornaram-se parte do grupo de ultrarricos do mundo por meio de seus negócios bancários, tornando-se uma dinastia financeira bilionária dividida em pelo menos cinco ramos.

Como outras dinastias bilionárias, como os Murdoch, a família mantém um controle rigoroso sobre a direção de seu principal ativo, mesmo não detendo a maioria de suas ações, ao empregar uma estrutura acionária de duas classes.

Frank Holding Jr. e seus parentes detêm ações Classe B com 16 direitos de voto cada, em comparação com o voto único para cada ação Classe A que a dinastia bancária também detém, e eles passaram seu patrimônio entre gerações ao transferir as ações para dezenas de trusts.

Frank Holding Jr. e seus parentes listados como acionistas do First Citizens supervisionam uma participação de mais de US$ 1,7 bilhões no First Citizens depois que as ações da empresa subiram 54% na segunda-feira, apagando sua repentina queda de patrimônio com o colapso do SVB, de acordo com o Índice Bloomberg Billionaires. Eles também receberam ao menos US$ 35 milhões por meio de dividendos e da venda de ações nas quatro últimas décadas e diversificaram suas fortunas com imóveis comerciais, agricultura e filantropia.

Compra de ações

Frank Holding já tirou vantagem do colapso do SVB ao se juntar a outros executivos de bancos regionais na aquisição de ações de suas empresas. Ele gastou US$ 260 mil na compra de ações do First Citizens no início de março por US$ 650 a ação, 27% abaixo do preço atual das ações da empresa de US$ 895,61, de acordo com documentos regulatórios.

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Alguns membros mais jovens da família Holding já trabalham no banco. Perry Bailey, filha de Frank, ganhou US$ 224.082 trabalhando no First Citizens no ano passado, enquanto seu primo e sobrinho de Frank, John Patrick Connell, recebeu US$ 105.116 durante o mesmo período, de acordo com as informações regulatórias.

Mas nem todos na família são banqueiros. Olivia Holding, irmã de Frank, é presidente da E&F Properties, uma empresa de investimentos imobiliários que adquiriu terrenos na Carolina do Norte. Ela também ajuda a supervisionar a Twin States Farming, uma empresa agrícola que aluga o espaço excedente de escritórios do First Citizens.

“Nossa família está na Carolina do Norte há pelo menos cinco gerações”, disse Olivia Holding para um perfil de 2016. “Queremos promover o sucesso do estado”.

Compra de bancos

Desde a crise financeira global, o First Citizens adquiriu bancos em uma série de negócios em todo o país.“O First Citizens tem um histórico de bancos problemáticos”, disse Herman Chan, analista da Bloomberg Intelligence, por e-mail. “É uma estratégia para fazer crescer o banco quando os tempos ficam difíceis – realizar fusões e aquisições a preços vantajosos.

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Contudo, o crescimento não vem apenas com a negociação de bancos em colapso: no ano passado, o First Citizens concluiu a aquisição do CIT Group em um negócio avaliado em mais de US$ 2 bilhões.

“No longo prazo, o que teremos é mais – mais serviços, mais maneiras de administrar dinheiro, mais lugares onde porem nos encontrar”, disse Holding a clientes em um vídeo anunciando a aquisição. “Não estamos apenas fazendo um banco maior, estamos fazendo um banco ainda melhor.”

As mudanças significaram que o First Citizens é agora um player nacional, com mais de 500 agências e escritórios de private banking espalhados pelo país. Com mais de 10 mil funcionários, o banco oferece os negócios bancários tradicionais a consumidores pessoa física e jurídica, e é também um dos maiores credores da indústria ferroviária – mesmo possuindo uma frota de vagões e locomotivas que aluga a ferrovias e transportadora.

Proezas de negociação

Mas é a aquisição do Silicon Valley Bank que eleva o First Citizens, que era o 30º maior banco comercial dos EUA por ativos no final de 2022, a um nível superior entre os bancos americanos. E também mostra a proeza de negociação que Holding tem aperfeiçoado em seus inúmeros negócios com os reguladores nos últimos anos: o First Citizens está comprando cerca de US$ 72 bilhões em ativos do SVB com um desconto de US$ 16,5 bilhões, de acordo com uma declaração da FDIC.

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O First Citizens disse que assumirá US$ 56 bilhões em depósitos, e 17 agências começarão a operar como Silicon Valley Bank, uma divisão do First Citizens. Não haverá mudança imediata nas contas dos clientes.

“A seleção do First Citizens por meio de um processo de licitação competitivo reflete não apenas a atratividade de nossa oferta, mas também a força, estabilidade e experiência que estamos trazendo para o negócio do SVB”, disse Holding Jr.. “Também temos um histórico comprovado de sucesso na integração de aquisições”.

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--Com a colaboração de Tom Maloney, Noah Buhayar e Jack Witzig.

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