Guerra comercial tech: Japão se junta a EUA e restringe venda de chips à China

Casa Branca lidera esforços para limitar acesso da potência asiática ao know-how de semicondutores; cerca de 10 empresas japonesas vão precisar de licenças extras

Saguão na Bolsa de Tóquio: decisão do governo pode afetar empresas do país nas exportações para a China (Kiyoshi Ota/Bloomberg)
Por Takahiko Hyuga - Yuki Furukawa
31 de Março, 2023 | 06:10 PM

Bloomberg — O governo do Japão disse que vai ampliar as restrições às exportações de 23 tipos de tecnologia de ponta para a fabricação de chips, em um momento em que os Estados Unidos intensificam os esforços para limitar o acesso da China ao know-how de semicondutores.

Cerca de dez empresas japonesas, entre elas a Tokyo Electron, precisariam obter licenças para enviar uma gama maior do que o esperado de equipamentos usados para transformar silício em chips, o que abrange limpeza, deposição, recozimento, litografia, gravação e testes.

A decisão do governo japonês vem na esteira de meses de lobby dos EUA para trazer o Japão à iniciativa de restringir as exportações de ferramentas de semicondutores para a China. O Japão e a Holanda concordaram inicialmente em se unir aos EUA, mas buscaram traçar um caminho intermediário entre as duas superpotências.

O ministro do Comércio do Japão, Yasutoshi Nishimura, disse que a medida não foi tomada em coordenação com os EUA e não configura uma proibição.

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“Esses controles de exportação se aplicam a todas as regiões e não visam atingir nenhum país em particular”, disse a repórteres na sexta-feira (31). “Vamos verificar se há algum perigo de apropriação militar.”

No entanto os parceiros comerciais mais favorecidos do Japão – incluindo Coreia do Sul, Singapura e Taiwan – poderão continuar importando sem licença, disseram autoridades do Ministério do Comércio.

As remessas de equipamentos restritos para a China exigiriam a aprovação dos funcionários do controle de exportação.

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O anúncio do Japão ocorre um dia antes da visita do ministro de Relações Exteriores, Yoshimasa Hayashi, à China, a primeira de um líder da pasta em mais de três anos. Também coincide com a viagem da presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, aos EUA, o que foi alvo de protesto da China.

Com a ajuda da Holanda e do Japão, os EUA tentam criar um bloqueio global para impedir que a China obtenha equipamentos-chave agora essenciais para fabricar os chips mais modernos usados em computação quântica, redes sem fio avançadas e inteligência artificial.

Muito depende de como o Japão vai implementar os controles. Se o governo japonês se recusar a aprovar qualquer remessa, isso pode ser um golpe tanto para os fabricantes de equipamentos de semicondutores do país quanto para a China, disse Kazunori Ito, analista da Morningstar.

As medidas do governo de Tóquio - que estarão sujeitas a uma consulta pública antes da implementação prevista para julho - afetam uma ampla variedade de equipamentos, semelhantes às restrições dos EUA em alcance. Máquinas de gravação capazes de produzir chips de 14 e 16 nanômetros e mais avançados seriam afetadas, por exemplo.

“Se nossas exportações não forem reapropriadas para uso militar, continuaremos com os embarques”, disse Nishimura a repórteres. “Acreditamos que o impacto nas empresas será limitado.”

A China criticou a decisão do Japão. Mao Ning, porta-voz do Ministério de Relações Exteriores, disse que politizar questões comerciais e tecnológicas, além de sabotar a cadeia de suprimentos global, só traz danos a todos, de acordo com a rede estatal CCTV.

Juntos, EUA, Holanda e Japão controlam equipamentos críticos para a China fabricar chips de ponta. Os EUA proibiram fornecedoras de equipamentos americanas, como Applied Materials, Lam Research e KLA, de exportar algumas de suas tecnologias mais avançadas para a China sem licença.

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A japonesa Tokyo Electron e a holandesa ASML são outras duas fornecedoras de peso que os EUA precisam para frear a ascensão tecnológica da China.

A longo prazo, a China será obrigada a desenvolver suas próprias máquinas de fabricação de chips, disse Hideki Yasuda, analista da Toyo Securities. “Uma dissociação completa de padrões em chips tornaria difícil para a China produzir semicondutores a baixo custo.”

- Com a colaboração de Takashi Mochizuki e Debby Wu.

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