Este fundador brasileiro soube do SVB pelas redes. Um dia depois, o banco fechou

CEO da Zazos, Alexandre Maluli foi alertado no LinkedIn por um colega empreendedor e tirou mais de R$ 1 milhão do Silicon Valley Bank horas antes de o banco quebrar

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Bloomberg Línea — O CEO da Zazos, Alexandre Maluli, foi alertado por outro colega empreendedor para tirar dinheiro do Silicon Valley Bank, o SVB, horas antes do banco quebrar. E isso mudou tudo.

“Quinta-feira foi o dia mais caótico da minha vida”, disse Maluli em uma publicação no LinkedIn. No começo do dia, o empreendedor havia publicado um texto na plataforma contando dos produtos financeiros e contábeis que usava na Zazos, sua startup para gestão de recursos humanos.

Nesse post ele também disse que utilizava o SVB (Silicon Valley Bank), que no dia anterior tinha anunciado que precisava captar US$ 2,25 bilhões para recompor sua base de capital. Na quinta, dia em que a Zazos tinha mais de R$ 1 milhão no SVB, as ações do banco derreteram 60%.

O cofundador da startup Lastro José Thomaz Pereira alertou Maluli para fazer o resgate. Bruno Costa, CEO da Abstra, alertou o mesmo no grupo de empreendedores da Y Combinator no Brasil.

“Eu tinha mandado e-mail para o nosso investidor lá de fora, para ver o que ele estava achando da situação, e ele não estava tão preocupado. Mas por precaução eu quis tirar o dinheiro do SVB”, Maluli disse à Bloomberg Línea.

Por volta de meio-dia (no horário de Brasília), ele ligou para o SVB para entender como usar a interface nova do produto SVB Go.

Cerca de 26 horas depois, autoridades regulatórias da Califórnia e o FDIC (o equivalente ao Fundo Garantidor de Crédito no Brasil) tinham tomado o controle e fechado o banco.

Maluli conseguiu enviar o dinheiro para a Brex, fintech dos brasileiros Henrique Dubugras e Pedro Franceschi, no Vale do Silício, por volta das 13h. Ele recebeu a confirmação da transferência total às 16h. Na quinta-feira, soube-se depois, o SVB recebeu pedidos de resgate de US$ 42 bilhões.

“O sistema bancário dos EUA é pior que o brasileiro. Lá as transferências por ACH demoram mais. O Pix é mais rápido. Foi uma ansiedade esperar aprovar esses pagamentos para a Brex”, disse.

O fundador contou que, como próximos passos, irá abrir contas em bancos tradicionais como o Morgan Stanley (MS), em que já está com um processo em andamento, e o JPMorgan (JPM). “Vou deixar dividido entre bancos mais tradicionais e comprar ativos do governo, porque assim o risco é transferido para o governo e não depende do banco. É mais difícil o governo quebrar”, disse.

Fundadores de startups brasileiras - mesmo os que tinham mais de US$ 250 mil no SVB, limite coberto pelo FDIC - conseguiram sacar o dinheiro de forma integral nesta segunda-feira (13), conforme anunciado pelo governo americano na noite de domingo (12). Era possível, inclusive, resgatar pontos do cartão para startups por meio da plataforma SVB Go.

Para onde vai o dinheiro do SVB?

Maluli disse que continuará com conta nos “bancos mais novos”, mas com um dinheiro menor mês a mês. “No Brasil também devo investir em ativos do governo, é mais seguro.”

O desafio com os bancos maiores nos EUA é que eles não são tão rápidos em abrir contas, segundo Brian Requarth, CEO do Latitud. “Você pode abrir contas simultaneamente nos ‘bancões’, mas é melhor focar em fintechs também. Enquanto isso, você pode focar em uma companhia intermediária para não ter implicações legais”, disse em conferência para empreendedores na segunda-feira (13).

“As pessoas também estão muito preocupadas com o sistema bancário no geral, não sabem onde colocar o seu dinheiro, e muitos fundadores querem saber se podem colocar o montante em suas contas pessoais, mas isso pode trazer algumas questões legais”, disse Andy Mattson, sócio da empresa de contabilidade Moss Adams, na mesma conferência do Latitud.

“Quando você é um banco nos Estados Unidos, existe uma quantidade significativa de regras de compliance que você precisa seguir, e muitos não querem trabalhar com a burocracia de lidar com paraísos fiscais.”

Geralmente, para uma startup brasileira receber investimento no exterior, ela atua com três empresas: uma no Brasil, uma nas Ilhas Cayman e outra em Delaware, nos EUA.

Dan Green, sócio do escritório de advocacia Gunderson Dettmer, disse que o JPMorgan “está bem interessado em aumentar seu capital na América Latina. Eles estão se movendo bem mais rápido para conseguir alocar essas contas.”

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