Resgate dos EUA ainda deixa dúvidas e ações de bancos caem em Nova York

Investidores continuam se questionando se o colapso do SVB terá mais consequências para o mercado financeiro; papéis de bancos médios são os mais afetados

Investidores avaliam que as medidas de contenção do governo não resolvem um problema-chave que ajudou a quebrar o SVB
Por Steve Dickson
13 de Março, 2023 | 10:04 AM

Bloomberg — Mesmo com a divulgação do plano de resgate para o sistema bancário, montado às pressas pelo governo dos EUA no fim de semana, os investidores continuam se questionando se o colapso do Silicon Valley Bank (SVB) terá mais consequências para o mercado financeiro.

As ações dos bancos americanos caíram, incluindo as do First Republic Bank, com sede em San Francisco, que tentou tranquilizar os investidores com uma declaração sobre a força de sua liquidez. As ações da empresa caíram um recorde de 65% em Nova York. Entre outros bancos regionais, o Western Alliance Bancorp, com sede em Phoenix, caiu 75%, e o PacWest Bancorp, com sede em Beverly Hills, Califórnia, caiu 35%.

As principais instituições financeiras também foram atingidos. Wells Fargo & Co. caiu 4,2% (WFC), Citigroup Inc. (C) caiu 4,4% e Bank of America Corp. (BAC) caiu 6,4%.

O Federal Reserve, o Federal Deposit Insurance Corp. (FIDIC) e o Departamento do Tesouro disseram no domingo que criariam um programa de financiamento para fazer empréstimos aos bancos, e o banco central americano afrouxou os termos para empréstimos por meio de sua janela de desconto. As autoridades disseram que os depositantes do SVB com sede em Santa Clara, Califórnia, teriam acesso a todo o seu dinheiro, segurado pelo FDIC ou não.

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Embora os clientes com depósitos no banco tenham obtido alívio, os acionistas do SVB e certos detentores de dívidas não garantidos não serão protegidos pelo acordo - uma medida dos reguladores que pode se aplicar a outros bancos que encalhem.

As medidas de contenção do governo não resolvem um problema-chave que ajudou a quebrar o SVB e que alguns outros bancos ainda enfrentam: um descompasso na duração entre ativos e passivos. Aumentando a preocupação dos acionistas está a incapacidade do governo até agora de encontrar um comprador para o SVB.

“Acreditamos que o risco sistêmico é menor com o apoio do Fed/FDIC/Tesouro, mas o ambiente operacional deve se tornar muito mais difícil para os bancos”, disse Brandon King, analista da Truist Securities, em nota aos clientes. “Acreditamos que os bancos regionais e comunitários estão enfrentando níveis de lucratividade estruturalmente mais baixos daqui para frente.”

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Investidores temem contágio e ações de bancos médios desabam nos EUAdfd

O First Republic disse em comunicado na noite de domingo que tinha mais de US$ 70 bilhões em liquidez não utilizada para financiar operações de acordos que incluíam o Fed e o JPMorgan Chase. Mais liquidez está disponível por meio do novo mecanismo de empréstimo do Fed, de acordo com o First Republic. Também no domingo, o Signature Bank, com sede em Nova York, foi fechado por reguladores estaduais, com autoridades federais oferecendo a seus depositantes proteções semelhantes às oferecidas ao SVB.

Charles-Henry Monchau, diretor de investimentos do Syz Group, citou uma série de problemas que contribuem para a queda das ações da First Republic. Aproximadamente 68% da base de depósitos do First Republic não tinha seguro em 31 de dezembro. Além disso, assim como o SVB e o Signature Bank, que os reguladores de Nova York fecharam no domingo, o First Republic tem atuação “muito grande” em negócios bancários de capital de risco e private equity, segundo Monchau.

Ao aceitar a liquidação do Signature Bank, os reguladores americanos ofereceram aos seus clientes proteções semelhantes às oferecidas ao SVB. O anúncio surpresa lembrou aos investidores que mais turbulências, pelo menos entre os bancos regionais, ainda são possíveis. De fato, um alto funcionário do Tesouro dos EUA disse que algumas instituições tiveram problemas semelhantes ao Silicon Valley Bank.

O mercado está enfrentando maiores despesas de financiamento, um aumento do custo de capital e, eventualmente, mais consolidação, de acordo com Betsy Graseck, analista do Morgan Stanley. “Não acreditamos que haja uma crise de liquidez no setor bancário”, disse ela em relatório.

-- Com a colaboração de Kit Rees. Reportagem atualizada às 12h07 para incluir novos dados das ações.

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