Opinión - Bloomberg

Não é necessário ser inteligente para enriquecer

A chave do sucesso na carreira não é necessariamente a inteligência, mas a capacidade de sintetizar suas habilidades em um todo coerente

Inteligencia Artificial
Tempo de leitura: 4 minutos

Bloomberg Opinion — “Se você é tão inteligente, por que não é rico?”

Há muito tempo, essa é uma réplica de empresários para acadêmicos, principalmente os economistas. É uma ótima pergunta – e está ficando cada vez mais claro que ela se aplica também a empresários. A ligação entre a renda obtida e QI, que é reconhecidamente apenas uma medida de inteligência, simplesmente não é tão forte assim.

LEIA +
10 influenciadores de finanças pessoais para ficar de olho e poupar dinheiro

As evidências são impressionantes. Um estudo com CEOs de grandes empresas suecas constatou que, em média, eles se classificaram no 83º percentil do QI medido (para CEOs de empresas menores, a classificação foi o 66º percentil).

Isso está acima da média, mas dificilmente se trata do topo da pirâmide. Muitos CEOs sem dúvida alcançaram sua posição através de trabalho duro, carisma, habilidades pessoais e outras habilidades, além de sorte, é claro.

PUBLICIDADE

Em um sentido mais amplo, a conexão entre QI e renda também é positiva, mas abaixo do esperado. Um estudo concluiu que a passagem do 25º para o 75º percentil do QI se correlaciona com um aumento de 10% a 16% nos ganhos.

Isso pode parecer significativo quando você recebe o aumento, mas isso não o coloca em uma classe socioeconômica totalmente nova.

Você pode pensar que o QI é um mau representante de uma noção mais geral de “inteligência”. Mas o QI é a medida de inteligência mais refinada e comumente usada, e se correlaciona com outras medidas possíveis de inteligência, como resultados de testes padronizados.

PUBLICIDADE

Um estudo recente, também baseado em dados suecos, mostrou dois resultados significativos. Em primeiro lugar, grande parte da correlação inteligência-salário enfraquece significativamente e se estabiliza quando o salário supera os US$ 64 mil por ano.

Em segundo lugar, e talvez mais surpreendente, as pessoas no primeiro percentil superior tinham QI mais baixo do que os que estavam em um nível salarial imediatamente abaixo.

É difícil dizer por que isso acontece. Mas uma possibilidade é que as pessoas mais inteligentes preferem uma vida mais equilibrada em vez de trabalhar o tempo todo. Ou talvez prefiram empregos com status mais alto e salários um pouco mais baixos.

O dinheiro não é a única coisa que você pode desfrutar. Talvez ter muito dinheiro possa até dificultar a confiança em possíveis amigos ou cônjuges.

PUBLICIDADE
LEIA +
Qual o valor acumulado ideal para se aposentar? Investidores respondem

A sorte é outro possível motivo para a desconexão parcial entre QI e renda, especialmente nos níveis mais altos de conquistas. Na maioria dos investimentos há uma troca de risco-retorno, isto é, se você deseja ter uma chance de retorno superior, você deve assumir alguns riscos.

Uma vez que o risco e a sorte são postos em jogo, é fácil ver como duas pessoas de habilidade e inteligência iguais podem acabar com resultados muito diferentes.

Citar a sorte como um fator não é minimizar as conquistas dos empresários e investidores. Até mesmo chegar a um cargo em que a “sorte” possa trazer US$ 5 bilhões a mais requer uma habilidade notável. Dito isto, entre uma pessoa que vale US$ 1 bilhão e uma que vale US$ 6 bilhões, pensar que a pessoa mais rica é mais inteligente não é muito certo.

PUBLICIDADE

Como você pode esperar, os resultados não são os mesmos para todos os países. Dados da Finlândia indicaram que a renda não diminui entre aqueles com o QI mais alto. Ainda assim, estar no 99º percentil para o QI só o coloca no 70º percentil para a renda – segundo as médias.

De modo mais geral, os países nórdicos tendem a coletar a maioria dos dados sobre QI, e há menos resultados precisos para outras partes do mundo.

Uma lição desses estudos é clara: se você está procurando contratar as melhores pessoas, não fique obcecado com a inteligência delas. Isso é um erro cometido frequentemente, principalmente por pessoas inteligentes que buscam outras pessoas iguais.

LEIA +
As 10 melhores cidades do mundo para viver e trabalhar, segundo expatriados

E a maior lição é que o que realmente importa é a capacidade de uma pessoa de sintetizar suas habilidades – não a excelência em uma única.

Considere um atleta de alto nível como LeBron James. Ele nunca foi o mais rápido da NBA, nem o melhor no ataque ou na defesa. Mas ele tem uma inteligência sintética extrema que o tornou possivelmente o maior jogador da história da liga – e, não por acaso, um grande líder.

LeBron James é excepcional, é claro. Mas é possível tomá-lo como exemplo. Quando pensar em seu próprio futuro, não se preocupe demais nem fique muito chateado. Em vez disso, tente descobrir como utilizar todos os seus talentos em harmonia.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Tyler Cowen é colunista da Bloomberg Opinion. É professor de economia na George Mason University e escreve para o blog Marginal Revolution. É coautor de “Talent: How to Identify Energizers, Creatives, and Winners Around the World.”

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também:

Empresas com maior nota de rating têm mais mulheres no topo, diz Moody’s