Machu Picchu volta a receber turistas após fechar por quase um mês no Peru

Visitas foram interrompidas em janeiro por causa da onda de protestos no país; setor de turismo do país busca recuperação depois de ser prejudicado durante a pandemia

Alta temporada começa em março e vai até o fim do inverno
Por Lebawit Lily Girma
20 de Fevereiro, 2023 | 06:07 PM

Bloomberg — Quando os protestos antigoverno começaram e ficaram violentos em Lima e Cusco em janeiro de 2023, o setor de turismo do Peru havia acabado de começar a se recuperar de quase dois anos de restrições pela pandemia, após apresentar um dos maiores números de óbitos pela doença no mundo. As notícias de que havia turistas presos em Machu Picchu se espalharam – eles tiveram de ser resgatados por helicópteros ou tiveram que caminhar por sete horas pelos trilhos até Aguas Calientes, a pequena cidade no vale abaixo. Então, chegou uma onda de cancelamentos de viagens para o país.

Um mês depois, o país tenta superar o ocorrido e reconquistar os turistas. Machu Picchu, que foi fechada indefinidamente em 21 de janeiro, reabriu para os visitantes em 15 de fevereiro, segundo confirmação do governo nacional.

A venda de ingressos foi retomada, e os turistas puderam visitar a cidade, de acordo com as notícias locais. A reabertura do popular Patrimônio Mundial da Unesco ocorreu dias antes de um prazo final do Congresso para decidir se realizaria eleições antecipadas este ano, em resposta aos contínuos protestos.

“Há cerca de três ou quatro semanas, as coisas pareciam muito ruins, e era difícil para nós, porque o turismo é um setor muito sensível”, diz Raúl Ccolque, guia e fundador da Alpaca Expeditions, uma empresa de passeios de Cusco e de propriedade de indígenas peruanos que foca nas trilhas que chegam a Machu Picchu, incluindo a popular Trilha Inca de quatro dias, que limita o número de participantes diários a 500, entre outros. “Ultimamente, as coisas estão melhorando aqui no Peru. Tudo está aberto em Cusco – lojas, hotéis. As coisas se acalmaram”.

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Autoridades governamentais disseram em um comunicado à imprensa que a reabertura da antiga cidade inca ao turismo está condicionada à inexistência de outros protestos que ameacem a atividade turística, o transporte e a equipe de Machu Picchu.

“A importância da reabertura não pode ser exagerada – espera-se que as perdas na indústria do turismo superem os US$ 400 milhões, segundo os últimos dados do governo, sendo Lima, Cusco, Puno e Arequipa as regiões mais afetadas”, diz Fernando Rodriguez, gerente geral da empresa de passeios de aventura Intrepid Travel, que tem sede na Austrália, mas tem escritórios em Lima e Cusco. A empresa oferece 44 passeios em todo o Peru e tem 40 funcionários que trabalham em período integral no país, além de 60 líderes de turismo e mais de 250 terceirizados sazonais.

A Intrepid confirmou à Bloomberg que reiniciará seus passeios no Peru em 1º de março, com 25 viagens reservadas e programadas, como o passeio de 15 dias “Premium Peru”, que sai de Lima em 19 de março. A empresa teve que cancelar um total de 140 passeios após o fechamento da cidadela. Os transtornos e cancelamentos começaram em dezembro de 2022; mais tarde a empresa cancelou todas as viagens de 6 a 28 de fevereiro.

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Ccolque confirma ter visto turistas em Cusco e em Machu Picchu. Algumas manifestações ainda podem acontecer, diz ele, mas em geral, mesmo em meio aos ataques a manifestantes, transeuntes nunca eram atacados. “Acredito que o Peru seja um país seguro para turistas em geral”, diz ele. “Principalmente a região de Cusco”.

A companhia ferroviária que atende a Machu Picchu, a PeruRail, voltou a operar e espera um aumento do serviço à medida que a demanda aumentar, segundo os operadores turísticos que falaram com a Bloomberg. Contudo, o trem para o Lago Titicaca, na região de Puno, a sudeste de Cusco, continua com as operações suspensas, diz Ccolque.

A Trilha Inca também está atualmente fechada, mas isso é normal para esta época do ano: a manutenção da trilha e do acampamento acontece todo mês de fevereiro, pois esta é estação chuvosa do país, que recebe menos turistas. A trilha deve reabrir em 1º de março.

O ano de 2022 foi um bom ano para a Alpaca Expeditions. Cerca de 50% dos turistas que haviam confirmado suas viagens para o Peru em 2020 tiveram que cancelá-la por causa do covid-19, e os outros 50% adiaram suas reservas para 2022. Assim que as fronteiras reabriram, o turismo começou a se recuperar rapidamente.

Se for viajar, planeje com antecedência

A alta temporada de turismo no Peru e Machu Picchu começa em março continua durante o inverno. Ccolque recomenda que os turistas sempre reservem viagens com antecedência, incluindo toda a logística. Os ingressos com hora marcada para Machu Picchu são limitados a 4.500 por dia, portanto, é essencial se planejar com antecedência.

O site oficial de turismo do país não comentou sobre os protestos de janeiro e interrupções no setor, mas a Câmara Nacional de Turismo do Peru e a Embaixada dos Estados Unidos no país compartilham atualizações regularmente. Para os americanos, a advertência para viagens ao Peru emitida pelo Departamento de Estado dos EUA em 22 de dezembro, permanece no “Nível 3: Reconsiderar Viagens”, aconselhando maior cautela devido a crimes e agitação civil.

O órgão também aconselha os turistas a não viajar para determinadas áreas, incluindo Cusco, mas não há referências específicas a Machu Picchu. A última atualização também mostra que o governo peruano prorrogou o estado de emergência em Lima e em algumas outras províncias por 30 dias como medida preventiva.

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Além de Cusco, as atrações turísticas no norte e leste do Peru, incluindo o circuito de praia de Lambayeque, estão funcionando normalmente. As reservas e atrações nacionais da região de Ica também estão abertas, de acordo com as atualizações enviadas por e-mail pelo conselho de turismo. Os cruzeiros na Amazônia estão operando normalmente, inclusive em áreas turísticas como Iquitos, segundo o e-mail.

O Peru também estabeleceu uma “Rede de Proteção ao Turista”, por meio da qual operadores turísticos, agências de viagens e outros serviços podem se comunicar rapidamente com a divisão turística da polícia nacional do Peru para auxiliar os turistas em caso de transtornos.

O conselho de turismo do Peru recomenda aos turistas que baixem o aplicativo da Polícia Turística do país em seu smartphone e mantenham à mão números de emergência, incluindo os da polícia turística, a Central Poltur, e do escritório de informações turísticas do Peru, o Iperú.

Em 2019, 1,5 milhão de pessoas visitaram Machu Picchu. Ccolque diz ter certeza de que o pior dos protestos já passou, já que Cusco depende do turismo. “As reservas estão voltando pouco a pouco”, diz ele. “Desde que Machu Picchu abriu, começamos a receber pedidos de passeios para os meses de maio, junho, julho e agosto”. Ccolque diz que a maioria dos dias em abril e maio estão esgotados para a Trilha Inca. “Essas reservas são aquelas que não foram canceladas, além de novas reservas que estão sendo feitas agora. Isso é um bom sinal”.

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