Campos Neto: subir a meta de inflação agora teria efeito oposto ao desejado

Presidente do Banco Central disse que momento atual, em que expectativas estão desancoradas, não é o mais adequado para a revisão e que mercado cobraria prêmio de risco maior

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central: disse que está aberto a conversar com o governo sobre a taxa de juros (Andre Coelho/Bloomberg)
14 de Fevereiro, 2023 | 07:49 AM

Bloomberg Línea — O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que está aberto a dialogar com representantes do governo, incluindo o presidente Lula (PT), além de congressistas, sobre as taxas de juros e outros assuntos, mas expressou a avaliação de que o aumento das metas de inflação neste momento teria o efeito contrário do desejado, ao levar possivelmente a expectativas mais altas de preços.

As declarações foram feitas nesta segunda-feira (13) em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, gravada no fim da tarde e transmitidas no fim da noite.

Questionado sobre o tema que foi colocado no centro do debate público pelo presidente Lula nos últimos dias, a mudança da meta de inflação, Campos Neto disse que uma mudança neste momento teria efeito contrário ao desejado pelo governo.

“Se nós fizermos uma mudança no sentido de ganhar flexibilidade [no combate à inflação], o efeito prático vai ser o contrário, vamos perder flexibilidade”, disse Campos Neto.

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Atualmente a meta de inflação está em 3,25% em 2023 e 3,00% em 2024, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

“Há um grupo de economistas que acredita no sistema de inflação e que está um pouco dividido. Tem um grupo que diz que essa meta é muito baixa mesmo, que a inflação americana subiu e precisamos entender que ficou muito difícil atingir essa meta, porque ela foi definida em um momento em que a inflação mundial era baixa, que se acreditava que a pandemia iria deflação”, afirmou.

“E tem outro grupo que diz que se você aumenta a meta em um momento como este, em que as expectativas estão um pouco desancoradas, os economistas e os analistas vão projetar uma meta igual à nova, mas, como ela foi aumentada em um momento em que ela não está sendo atingida, vai ser exigido um prêmio de risco maior ainda. Você não só não ganha como vai perder flexibilidade. Hoje eu me situo neste segundo grupo”, disse o presidente do Banco Central sobre o assunto.

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A definição sobre a meta de inflação é feita pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), formado pelo ministro da Fazenda (Fernando Haddad), pelo presidente do Banco Central e pela ministra do Planejamento (Simone Tebet).

A reunião que discutirá a meta de 2025 e a possível revisão da meta para este ano e 2024 em tese aconteceria em junho, mas o governo defende antecipar esse debate e a mudança.

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