Endurecimento do BC pode encorajar gastos de Lula; equipe econômica se preocupa

Lula deve considerar ampliar os gastos, o crédito e o investimento, segundo fontes ouvidas pela Bloomberg News

Nas últimas semanas, Lula vem intensificando sua rixa com a autoridade monetária em uma série de entrevistas e discursos
Por Martha Beck
07 de Fevereiro, 2023 | 04:05 PM

Bloomberg — O endurecimento da política monetária pelo Banco Central, que sinaliza que os juros podem permanecer altos por um período mais prolongado, deve encorajar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a tentar fortalecer a economia por meio de mais gastos públicos, de acordo com dois integrantes da equipe econômica.

Diante de uma economia enfraquecida e taxa Selic de 13,75%, que eleva o custo da dívida do governo, Lula deve considerar ampliar os gastos, o crédito e o investimento, disseram as pessoas, que demonstraram preocupação com um possível descasamento entre as políticas monetária e fiscal e pediram anonimato para descrever o mal-estar que permeia a equipe.

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O Ministério da Fazenda informou que não comenta o assunto.

A prosperidade econômica é uma promessa de campanha do presidente e poderia ajudar a trazer estabilidade política a uma nação dividida, onde partidários radicais do ex-presidente Jair Bolsonaro tentaram e falharam em derrubar Lula apenas uma semana após sua posse.

Desde que assumiu o cargo em 1º de janeiro, o presidente vem prometendo estimular o crescimento por meio de gastos públicos e crédito. Ele ordenou que a equipe econômica encontre formas de aumentar o salário mínimo acima da taxa de inflação durante todo o seu mandato. Ele pretende ainda anunciar no Dia do Trabalho que os brasileiros que ganham até dois salários mínimos por mês, ou R$ 2.604 reais, estarão isentos de imposto de renda.

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Mas todos os seus planos para fortalecer a economia enfrentam um grande obstáculo: a taxa de juros, que permanece no nível mais alto em seis anos, após uma agressiva campanha de aperto monetário do atualmente autônomo Banco Central presidido por Roberto Campos Neto.

Nas últimas semanas, Lula vem intensificando sua rixa com a autoridade monetária em uma série de entrevistas e discursos. Ele questionou a lei que deu à instituição a tão almejada autonomia em 2019, reclamou que as metas de inflação muito apertadas estão sufocando a economia e, mais recentemente, convocou empresários a se juntarem a ele em protestos contra o nível das taxas de juros.

No entanto, suas queixas só pioraram as coisas para a economia. Os temores de interferência do governo na política monetária pressionaram o dólar, impulsionaram as taxas de juros futuros de longo prazo, bem como as expectativas de inflação. A deterioração do cenário leva o BC a alertar que pode ser forçado a manter os juros no nível atual por mais tempo até que a confiança em suas metas de inflação seja restaurada.

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