Falas de Powell geram dúvidas sobre descompasso com mensagem dura do Fed

Bolsas caíram após o comunicado no Fomc na quarta, mas apagaram as perdas após Powell indicar que não estava preocupado com o rali recente do mercado

Powell pode ter tentado transmitir uma mensagem severa de que o Fed ainda tem muito trabalho a fazer para domar a inflação, mas não foi isso que os investidores ouviram
Por Vildana Hajric - Lu Wang
02 de Fevereiro, 2023 | 04:18 PM

Bloomberg — A portas fechadas, os formuladores de política monetária do Federal Reserve temem que o rali dos mercados seja um empecilho aos esforços para conter a inflação. Mas, toda vez que Jerome Powell fala em público, ele dá mais espaço para altas.

Quando o presidente do Fed subiu ao púlpito na tarde de quarta-feira (1º), as bolsas pairavam perto das mínimas da sessão. O banco central americano havia acabado de realizar sua oitava alta consecutiva de juros e sinalizou que mais estão por vir, e que o posicionamento excessivamente otimista dos mercados neste ano havia diminuído um pouco.

Quando Powell terminou de falar, cerca de 45 minutos depois, as ações haviam disparado. O S&P 500 atingiu sua máxima do dia, com alta de 1,8%, e os operadores de renda fixa passaram rapidamente a dar lances por títulos do Tesouro americano e dívida corporativa a juros mais baixos. As criptomoedas também tiveram valorização.

Powell pode ter tentado transmitir uma mensagem severa de que o Fed ainda tem muito trabalho a fazer para domar a inflação, mas não foi isso que os investidores ouviram. Em vez disso, eles ouviram um presidente que indicou que estava vendo evidências claras de desaceleração da alta de preços ao consumidor e que não parecia particularmente incomodado com o rali dos mercados em janeiro.

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Desconexão

Pelo segunda vez consecutiva, a primeira pergunta que fizeram a ele na coletiva foi se estava preocupado que o rali estaria criando condições financeiras mais frouxas que poderiam atrapalhar sua luta contra a inflação e, mais uma vez, ele optou por não rebater muito. “Nosso foco não são movimentos de curto prazo, mas mudanças sustentadas” nas condições financeiras, disse ele.

“Há uma desconexão real entre o que ele disse, o que o comunicado disse, talvez o que ele queria dizer, e o que os mercados ouviram”, disse Jeffrey Rosenberg, da BlackRock, na Bloomberg TV. “Mas o que os mercados ouviram foi essa questão do conflito entre condições financeiras mais frouxas e se isso afetaria ou não a política monetária do Fed — e ele descartou isso.”

A resposta de Powell veio em um contexto em que não faltaram falas duras sobre inflação. Ele enfatizou repetidamente que, embora as pressões de preços na economia tenham diminuído, a batalha estava longe de ser vencida.

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Os formuladores de política monetária dos EUA elevaram a taxa de referência em 0,25 ponto percentual, para uma faixa de 4,5% a 4,75%, e disseram que mais serão apropriados, um sinal para a maioria de que uma pausa no aperto não é iminente.

Mas os investidores estavam se preparando para comentários mais duros do Fed com o objetivo de esfriar o recente rali dos ativos de risco. Em vez disso, o presidente argumentou que os dados apertaram “muito significativamente” no ano passado com a alta do Fed.

--Com a colaboração de Isabelle Lee.

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