Intel diz que vendas de computadores não devem melhorar tão cedo; ações caem

Empresa prevê uma forte perda no trimestre atual e um volume de vendas abaixo das estimativas dos analistas em bilhões de dólares

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Bloomberg — A Intel (INTC) apresentou uma das previsões trimestrais mais sombrias de sua história depois que uma queda na venda de computadores pessoais devastou os negócios da fabricante de chips, derrubando as ações e atrasando ainda mais os esforços de uma retomada.

A empresa prevê agora uma forte perda no trimestre atual e vendas abaixo das estimativas dos analistas em bilhões de dólares. Segundo as estimativas da companhia, a receita seria a menor para um trimestre desde 2010.

Os dados mostram um cenário difícil para uma empresa que tenta se reerguer há anos, sob o comando do CEO Pat Gelsinger, que assumiu o cargo em 2021.

Uma desaceleração pós-pandemia no principal negócio da Intel (chips para PC) dificultou ainda mais os esforços para colocar o desempenho financeiro da empresa de volta nos trilhos. Em vez disso, está apenas perdendo mais terreno.

“Gostaria de lembrar a todos que estamos em uma jornada de longo prazo”, disse Gelsinger durante uma teleconferência. As ações da Intel caíram quase 10% na quinta-feira (26) no final do pregão após o anúncio.

No acumulado de janeiro, os papéis da companhia sobem 14% na bolsa de Nova York, parte de uma recuperação das ações de chips. A queda da Intel após o guidance, contudo, ameaça apagar a maior parte desse ganho.

Os últimos resultados e perspectivas foram “muito fracos”, disse Aaron Rakers, analista da Wells Fargo & Co., em nota, e não há previsão para o ano, aumentando a incerteza.

Menos demanda por PCs

Além da Intel, os números indicam que a queda na demanda por PCs pode persistir este ano, pressionando ações de fabricantes de chips como Advanced Micro Devices e Nvidia.

A Intel previu que sua margem bruta — a porcentagem de vendas remanescentes após a dedução do custo de produção — seria de 39% no primeiro trimestre. Isso representa uma queda de 14,1 pontos em relação ao mesmo período do ano anterior e mais de 10 pontos a menos que a de sua rival mais próxima, a AMD.

Nas projeções, a companhia estima que as vendas do primeiro trimestre serão de US$ 10,5 bilhões a US$ 11,5 bilhões. Isso se compara com uma estimativa média de Wall Street de US$ 14 bilhões.

Em uma base ajustada, a previsão da Intel para o primeiro trimestre marca sua primeira previsão de prejuízo em décadas.

Para voltar aos trilhos, a empresa precisa que os fabricantes de computadores trabalhem rapidamente com o restante de estoque e voltem a encomendar componentes. Isso ajudaria a Intel a fortalecer suas finanças, que já estavam sobrecarregadas por planos ambiciosos de atualizar sua tecnologia.

Corte de custos

A Intel vem cortando custos para lidar com a menor demanda. Três meses atrás, a empresa anunciou reduções de pessoal, desaceleração nos gastos em novas fábricas e outras medidas que resultariam em economias de US$ 3 bilhões este ano. Esse número aumentará para US$ 10 bilhões anualmente até o final de 2025, disse a empresa.

“Continuaremos a enfrentar os desafios de curto prazo enquanto nos esforçamos para cumprir nossos compromissos de longo prazo”

Pat Gelsinger, CEO da Intel

De acordo com o plano de Gelsinger, a Intel visa acelerar a introdução de novas tecnologias de fabricação, além de construir fábricas nos Estados Unidos e na Europa, desviando a concentração da produção na Ásia.

E Gelsinger procura transformar a Intel em mais uma fabricante terceirizada, lidando com trabalho terceirizado para outras empresas e desafiando a Taiwan Semiconductor Manufacturing Co.

O alto custo de realizar todos esses sonhos, entretanto, já preocupava analistas e investidores mesmo antes da última crise.

Espera-se que a Intel obtenha assistência do governo para ajudar a financiar a expansão da fábrica, e seu plano de corte de custos pode ajudar nisso. Mas reconquistar a participação de mercado e retomar suas margens de lucro antes invejáveis para a faixa de 50% não é “um esforço pequeno”, disse Jason Pompeii, analista da Fitch Ratings, em nota.

Em uma nota mais positiva para os investidores, a empresa continua comprometida em oferecer um dividendo competitivo, disse o diretor financeiro Dave Zinsner na quinta (26).

Balanço do 4º trimestre

No quarto trimestre, a Intel registrou prejuízo líquido de US$ 664 milhões, ou US$ 0,16 por ação, abaixo do lucro registrado no mesmo período do ano anterior. A receita caiu 32%, para US$ 14 bilhões, atingindo seu nível mais baixo desde 2016.

Excluindo certos itens, os ganhos foram de 10 centavos por ação. Wall Street esperava um lucro de 19 centavos sobre vendas de US$ 14,5 bilhões.

A empresa espera “volatilidade em todos os mercados” este ano. O mercado de PCs será um ponto particularmente fraco, encolhendo para o limite inferior da gama de previsões da Intel - ou cerca de 270 milhões de unidades.

O mercado de servidores também se contrairá no primeiro semestre do ano, disse a Intel. Assim como os fabricantes de PCs, os clientes estão cortando pedidos enquanto trabalham com estoques não utilizados. A Intel espera que o mercado de servidores retome o crescimento no segundo semestre de 2023.

Ainda de acordo com o balanço, a receita de computação para clientes encolheu 36% e a receita operacional da unidade de chip para PC caiu 82%. Os mercados de consumo e educação foram os mais atingidos, disse a Intel. As vendas de data centers diminuíram em um terço e o lucro operacional dessas empresas foi reduzido em 84%.

Os resultados sombrios mostram que a Intel está ficando ainda mais atrás de seus rivais.

A receita total da companhia em 2022 foi menor do que a da TSMC, uma fabricante de chips rival que permite que alguns clientes projetem seus próprios componentes. A outrora dominante Intel já havia ficado atrás da Samsung Electronics Co. em vendas.

A indústria de computadores está passando por uma grande redefinição após um aumento nas vendas impulsionado pela tendência do trabalho remoto. As remessas de PCs caíram 16% em 2022 e cairão novamente para apenas 260 milhões este ano, de acordo com uma estimativa do analista da Northland Securities, Gus Richard. O número está abaixo dos quase 350 milhões em 2021.

A Intel ainda domina o mercado de processadores usados em servidores, com uma participação de mais de 70%. Mas seu controle sobre esse mercado lucrativo caiu.

Isso porque a empresa demorou para lançar novos produtos nos últimos anos, abrindo brecha para rivais como a AMD. Alguns clientes também estão desenvolvendo chips internos para substituir os processadores Intel.

Isso tudo trouxe uma recessão dolorosa para a Intel, que já controlou 99% do mercado.

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