Bloomberg Línea — Milhares de manifestantes subiram a rampa do Congresso Nacional, em Brasília, e tomaram a área externa sobre o prédio nesta tarde de domingo (8), rompendo o bloqueio de segurança imposto pelo ministro da Justiça, Flávio Dino. Muitos invadiram a parte interna do Congresso, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF), com cenas de depredação em vídeos que circulam nas redes sociais.
No início da noite, a Polícia Militar e a Força Nacional conseguiram retomar o controle dos prédios e dispersar os manifestantes dos prédios públicos com uso de spray de pimenta e bombas de efeito moral.
Os manifestantes, vestidos de verde e amarelo e simpatizantes do ex-presidente Jair Bolsonaro, questionam o resultado das eleições presidenciais, que deram a vitória ao presidente Lula (PT). Desde o fim do segundo turno, em 30 de outubro, apoiadores do ex-presidente protestam nas redes sociais e em diferentes cidades do país e chegaram a obstruir centenas de estradas e avenidas em novembro.
O presidente Lula não estava em Brasília no momento das invasões. Ele cumpria agenda em Araraquara, no interior de São Paulo, região castigada por chuvas intensas e alagamentos nos últimos dias.
Após a invasão, o ministro da Justiça, Flávio Dino, se manifestou sobre a situação no Twitter.
“Essa absurda tentativa de impor a vontade pela força não vai prevalecer. O governo do Distrito Federal afirma que haverá reforços. E as forças de que dispomos estão agindo. Estou na sede do Ministério da Justiça”, disse Dino.
No sábado (7), o ministro da Justiça tinha autorizado o emprego da Força Nacional de Segurança Pública “em razão das manifestações políticas no centro da capital federal”, em referência a caravanas com manifestantes contrários ao resultado das eleições.
O grupo estava concentrado nos últimos dias em frente ao Quartel General (QG) do Exército.
A declaração de Dino faz referência ao fato de que a segurança em Brasília é de responsabilidade do governador Ibaneis Rocha (MDB), um aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro. O secretário de Segurança Pública do Distrito Federal é o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, que está nos Estados Unidos.
Rocha declarou após a invasão que iria exonerar Torres do cargo de secretário.
Bolsonaro deixou o país em 30 de dezembro e viajou para Orlando, nos Estados Unidos, onde ainda se encontra. Dias depois do segundo turno, o então presidente fez pronunciamento em que deu autorização para os trâmites para a transição para o governo eleito, em reconhecimento da derrota. Os trabalhos foram liderados pelo então vice-presidente Hamilton Mourão e pelos principais ministros.
Na noite de domingo (8), Bolsonaro publicou em seu twitter que “manifestações pacíficas, na forma da lei, fazem parte da democracia. Contudo, depredações e invasões de prédios públicos como ocorridos no dia de hoje, assim como os praticados pela esquerda em 2013 e 2017, fogem à regra”.
Bolsonaro disse ainda que ao longo de seu mandato, “sempre estive dentro das quatro linhas da Constituição respeitando e defendendo as leis, a democracia, a transparência e a nossa sagrada liberdade. No mais, repudio as acusações, sem provas, a mim atribuídas por parte do atual chefe do executivo do Brasil”.
Ataque ao Capitólio
O ataque dos manifestantes remete à invasão do Capitólio, a sede do Legislativo dos Estados Unidos, em Washington há dois anos, em 6 de janeiro de 2021, por manifestantes que protestavam contra a derrota do então presidente Donald Trump para Joe Biden nas eleições presidenciais de novembro de 2020.
-- Atualizada às 9h56 de Brasília do dia 9 de janeiro para incluir tuíte de Jair Bolsonaro
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