Opinión - Bloomberg

Se você tem uma atividade que ama fazer, não ganhe dinheiro com isso

Ter ao menos um ou dois passatempos para realização pessoal faz maravilhas para a saúde mental. Não leve a rentabilidade em consideração para tudo o que faz

Não torne a sua atividade de lazer uma fonte de renda, como ganhar com dicas de viagem para amigos
Tempo de leitura: 3 minutos

Bloomberg Opinion — Durante um jantar no feriado, o anfitrião sugeriu que cada pessoa compartilhasse um momento significativo do ano que chegou ao fim. Quando uma das convidadas comentou sobre como suas aulas de cerâmica haviam permitido que ela explorasse sua criatividade, outra convidada prontamente sugeriu: “Você poderia abrir uma loja e vender seu trabalho”. Antes que ela terminasse a frase, eu exclamei: “Não! Não ganhe dinheiro com sua atividade de lazer”.

LEIA +
Qual é o lugar mais feliz do mundo? Acredite ou não, são os EUA

É um conselho que talvez pareça uma heresia nestes tempos de inflação alta. Afinal, foram necessários US$ 107 em novembro de 2022 para comprar o que custava US$ 100 um ano antes, segundo o Departamento do Trabalho dos EUA.

Entre 2019 e 2020, o aumento de preço havia sido de apenas US$ 1,17. Mas, mesmo diante da pressão inflacionária, é importante manter sob controle a mentalidade de “side-hustle”, que sugere que tenhamos um outro trabalho para ganharmos mais.

Um hobby ou passatempo, por definição, deve ser algo que você busca desenvolver fora do seu trabalho para relaxar.

PUBLICIDADE

É claro que você pode ter atividades de que goste que são mental ou fisicamente desafiadores, como xadrez ou caminhadas. Entretanto um hobby deixa de ser um hobby se você colocar uma etiqueta de preço e começar a vender seus produtos. Isso passa a ser um trabalho.

A “grind culture”, em que as pessoas ficam obcecadas pela produtividade, tem enfrentado um pequeno acerto de contas nos últimos anos, tendo sido rotulada até mesmo de tóxica por alguns. Certamente pode ser arriscado levar as pessoas a considerarem a rentabilidade o tempo todo.

Como um membro em recuperação de uma comunidade em constante mudança, posso dizer com segurança que respeitar a inviolabilidade de pelo menos um ou dois passatempos para a realização pessoal é ótimo para nossa saúde mental.

PUBLICIDADE
LEIA +
Por que a quinta-feira ganhou força como um dos dias preferidos para home office

O fato de eu escrever artigos de opinião sobre finanças deriva do que antes era um hobby. Um pequeno blog no qual compartilhava minhas reflexões e experiências com finanças pessoais acabou se transformando em oportunidade para dar palestras, escrever de forma independente e até mesmo publicar livros.

Como isso se tornou minha carreira em tempo integral, o trabalho, apesar de estar alinhado com minhas áreas de interesse e habilidade, perdeu o fator diversão que me motivou no início.

Isso também mudou a forma como meu cérebro avaliava outros hobbies. Cada área de interesse se tornou uma potencial fonte de receita - ou eu acabava escapando de potenciais hobbies por ter percebido restrições de tempo, menos energia e custos iniciais para algo que não daria lucro.

Pois eu estava muito errada.

PUBLICIDADE

A pandemia afetou meu trabalho por um período, o que me fez perceber que, além da leitura e da televisão, havia sobrado pouco para preencher meu tempo. Por mais que eu achasse essas atividades relaxantes, eu ansiava por mais criatividade e estímulo que costumam vir de um hobby.

Nos últimos dois anos, eu aprendi a fazer crochê e comecei a ter aulas de sapateado em um centro comunitário local.

Ambos são passatempos que me custam dinheiro em vez de gerar receita. Mas ambos têm gerado retornos não financeiros significativos. Há uma nova conexão com meu eu criativo, um senso de realização por aprender uma nova habilidade, o benefício de desafiar minha mente e meu corpo a aprender novas maneiras de me mover e o acesso a uma nova comunidade intergeracional.

PUBLICIDADE

Sim, o crochê é uma habilidade que eu poderia facilmente monetizar, mas as margens de lucro seriam inexistentes se fizesse as contas do custo dos suprimentos e as horas de trabalho dedicadas em uma peça. Em vez disso, eu faço doação de minhas criações ou dou de presente em aniversários e datas comemorativas.

LEIA +
Quer se mudar? Confira os países em que os imóveis estão ficando mais baratos

Há uma concessão sobre a monetização de um hobby: para aqueles cujos interesses resultam em produtos físicos, como marcenaria, pintura, cerâmica ou joias, isso pode resultar em desordem. Uma bagunça linda, mas que talvez seja excessiva para ter em casa.

Nesse caso, pode fazer mais sentido vender seus produtos e talvez usar esse dinheiro para reinvestir em seu hobby. Mas vender um excedente é muito diferente de ter um segundo trabalho.

Como alguém que teve múltiplas fontes de receita durante a vida adulta, entendo que há um benefício em ter mais de uma maneira de ganhar dinheiro. Mas alguns passatempos devem ser simplesmente passatempos. Temos permissão para criar e aprender para enriquecimento pessoal, mesmo que isso nos custe algum dinheiro - e não renda nada.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Erin Lowry é colunista da Bloomberg Opinion e escreve sobre finanças pessoais. É autora da série “Broke Millennial”.

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também

Desafio ou oportunidade? O que esperar para as startups após o aperto de 2022