Bloomberg — À medida que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) define os nomes do seu ministério e traça políticas econômicas, muitos investidores perceberam o pior de seus temores em relação ao cenário fiscal do país se materializar. Olhando somente para o mercado de câmbio (USDBRL), contudo, seria difícil perceber esse movimento.
Enquanto a bolsa local despencou e as taxas de juros futuros dispararam desde a eleição de Lula no fim de outubro, o dólar permaneceu pouco alterado frente ao real no mesmo período, sustentado pelas altas taxas de juros no Brasil. Muitos são céticos de que isso pode durar.
A moeda é negociada nesta segunda-feira (12) na casa de R$ 5,30, depois de fechar a R$ 5,22 na sexta (9). Na última sessão antes do segundo turno (28 de outubro), estava a R$ 5,31 no encerramento.
“O câmbio está atrasado em relação aos outros ativos”, disse Felipe Guerra, sócio fundador da Legacy Capital, em evento na semana passada. “O argumento de você ficar otimista com o câmbio pelo carrego é meio frágil neste momento, com tanta incerteza.”
Operadores esperavam que Lula fosse para o centro do espectro político em reconhecimento ao amplo apoio que recebeu durante a campanha eleitoral - a chave para sua vitória sobre o presidente Jair Bolsonaro (PL).
Mas, desde a votação, Lula apresentou propostas para acelerar as despesas públicas, criticou o teto de gastos e indicou o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad como seu futuro ministro da Fazenda, que é visto como uma das opções menos favoráveis ao mercado.
Como resultado, os juros futuros com vencimento em janeiro de 2025 saltaram 135 pontos-base desde o final de outubro, devido às apostas de que o Banco Central precisará manter a taxa Selic alta por mais tempo, enquanto o Ibovespa (IBOV) caiu 6%. O real, porém, permanece estável.
A resiliência da moeda chama ainda mais atenção quando se leva em conta que investidores estrangeiros e fundos locais estão aumentando suas posições compradas em dólar frente ao real. Juntos, eles compraram US$ 8,4 bilhões desde que Lula venceu a corrida presidencial.
Esses desembolsos parecem ter sido neutralizados pelos bancos locais, que venderam US$ 8 bilhões no mesmo período, um movimento que confundiu muitos operadores, já que dezembro costuma registrar uma saída sazonal de dólares.

“Se a discussão da trajetória da dívida ficar mais preocupante, alguma hora a performance do real será afetada”, disse Júlio Fernandes, gestor da XP Asset Management. “Alguns investidores estão olhando para o carry elevado, mas seguimos sem compreender a tranquilidade do mercado em relação ao real”, disse Fernandes, cujo fundo tem posição comprada em dólar contra real.
A dívida bruta do Brasil representou 77% do PIB em outubro, ante 89% em fevereiro de 2021. Entretanto a PEC da Transição, aprovada no Senado e agora em debate na Câmara dos Deputados, abre caminho para o governo gastar até R$ 168 bilhões mais do que o anteriormente previsto pelo teto de gastos por pelo menos dois anos. Isso corre o risco de aumentar novamente a dívida.
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