Como a mudança climática afeta os rios, as geleiras e as chuvas pelo mundo

Um novo relatório climático mostrou que o ano passado foi um dos 7 anos mais quentes já registrados, com temperaturas 1,1°C mais altas

De um lado, grandes enchentes que deixam milhares de mortos e centenas de desabrigados; de outro, secas recordes em diferentes países
Por Laura Millan Lombrana
03 de Dezembro, 2022 | 08:44 AM

Bloomberg — A mudança climática está distorcendo os padrões de chuva em todo o planeta, levando a secas e inundações, enquanto o aumento das temperaturas está causando o derretimento das geleiras, de acordo com a primeira análise abrangente dos recursos hídricos da Organização Meteorológica Mundial (OMM).

A organização afirma que pretende publicar relatórios globais sobre a água anualmente a partir de agora, em resposta aos pedidos de dados mais precisos em uma era de demanda crescente e suprimentos limitados.

O relatório State of Global Water Resources para 2021, divulgado na terça-feira (29), analisa os efeitos que as temperaturas mais altas estão causando nos rios de água doce do planeta. As temperaturas globais estão agora 1,1°C mais altas do que nos tempos pré-industriais, e o ano passado foi um dos sete anos mais quentes já registrados.

“Os impactos da mudança climática são muitas vezes sentidos através da água – secas mais intensas e frequentes, inundações mais extremas, chuvas sazonais mais erráticas e derretimento acelerado das geleiras”, disse o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, em comunicado. Todos esses eventos têm “efeitos em cascata nas economias, ecossistemas e todos os aspectos de nossas vidas diárias”.

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Cerca de três quartos de todos os desastres naturais entre 2001 e 2018 foram relacionados à água, de acordo com a UN-Water, que coordena o trabalho das Nações Unidas (ONU) sobre água e saneamento. Ao mesmo tempo, 3,6 bilhões de pessoas, quase metade da população global, enfrentam acesso inadequado à água por pelo menos um mês a cada ano – e espera-se que esse número aumente para mais de 5 bilhões até meados do século.

Medições inconsistentes e falta de dados coletados dificultam a compreensão de alguns dos efeitos que a mudança climática está causando nos sistemas hídricos, disse a OMM. Os pesquisadores preencheram essas lacunas em parte com dados modelados e com informações de satélites do programa Gravity Recovery and Climate Experiment, ou GRACE, da NASA, destacando a importância dos satélites e do sensoriamento remoto para medir o aquecimento global.

Veja como alguns dos impactos hídricos mais relevantes de 2021 foram vistos do espaço:

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Geleiras

O derretimento glacial acelerou globalmente em 2021. Massas de gelo no oeste do Canadá e nos EUA e na Europa Central sofreram as perdas mais significativas nas últimas quatro décadas, mostrou o relatório da OMM. A água corrente do derretimento das geleiras aumenta no início, alimentando rios e lagos próximos até atingir um ponto de inflexão que os cientistas chamam de “pico de água”. Depois disso, o escoamento diminui e as áreas que dependem dessa água podem sofrer seca.

Lagos

Também conhecido entre os glaciologistas como o “Terceiro Pólo“, o planalto tibetano abriga a maior reserva de água doce fora das regiões polares. A água é armazenada principalmente em geleiras no alto das montanhas. Temperaturas mais altas estão acelerando seu derretimento, encolhendo as geleiras e, ocasionalmente, levando a inundações repentinas. Grandes quantidades de água acabam em lagos de montanha, que estão crescendo como resultado.

Rios minguantes

A seca em várias partes dos EUA se agravou em 2021, com todo o Oeste do país afetado a partir do mês de junho. Os dados de descarga dos rios Colorado, Missouri e Mississippi mostram que a quantidade de água que eles carregavam estava muito abaixo do normal.

Em alguns lugares, a quantidade de água armazenada na terra está crescendo – em nenhum lugar mais do que na região do Lago Vitória, na África. Mas, no geral, os rios estão diminuindo mais do que crescendo, uma tendência que continuou em 2021.

Seca extrema

O déficit de água que o Irã, o Iraque e a Síria experimentaram em 2020 foi intensificado por um inverno quente que continuou em 2021. Isso significava que lagos e reservatórios não se reabasteciam antes dos meses quentes de verão. A seca resultante afetou até 12 milhões de pessoas no Iraque e na Síria e 4,8 milhões no Irã, levando a confrontos mortais na província de Khuzistão.

A seca no Chifre da África levou a uma crise alimentar devastadora que afetou 18 milhões de pessoas. Nem mesmo as chuvas intensas entre dezembro de 2020 a fevereiro de 2021 — tipicamente a estação seca da região — ajudaram a aliviar a situação.

Enchentes

A mudança dos padrões climáticos levou a quantidades sem precedentes de água caindo em períodos muito curtos, dando origem a inundações devastadoras. Em 2021, as inundações na Europa Ocidental mataram 219 pessoas, causando até 46 bilhões de euros em danos.

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Turquia, Afeganistão, Índia e a província chinesa de Henan também foram atingidos por inundações que causaram mais de 1.500 mortes. Foi um forte lembrete de que os efeitos da mudança climática estão sendo sentidos em todos os lugares.

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