Por que o JPMorgan cortou a recomendação para as ações da PagSeguro

Banco americano cita receio com impacto dos juros elevados nos custos de captação de recursos, bem como com a deterioração da qualidade dos ativos na região

JPMorgan prevê significativa desaceleração no volume transacionado pelo setor de adquirência
29 de Novembro, 2022 | 01:56 PM

Bloomberg Línea — O JPMorgan rebaixou a recomendação para as ações da PagSeguro (PAGS) de “overweight” (acima da média do mercado) para “neutral” (em linha com a média do mercado), citando receios de que os juros mais elevados por mais tempo no Brasil vão manter elevados os custos de captação de recursos (funding), enquanto a qualidade dos ativos continua se deteriorando pela região, informou a Bloomberg News, nesta terça-feira (29).

O analista Domingos Falavina escreveu, em nota, que, diante de conversas com investidores, o banco considera que o próximo grande catalisador para as ações do setor de meios de pagamento será o corte na taxa Selic (atualmente em 13,75% ao ano), mas que está mais difícil ter uma visão mais construtiva diante de tanta oscilação na curva dos juros.

O JPMorgan também trabalha com a expectativa de uma significativa desaceleração no volume transacionado pelo setor de adquirência (conhecido pela sigla TPV). O analista também menciona que a deteriorização persistente da qualidade dos ativos começou a pesar no apetite de risco dos bancos, o que deve reduzir o crescimento da indústria de cartões de crédito.

O rebaixamento do JPMorgan para neutro coincide com a atual recomendação de outro banco americano Goldman Sachs. Relatório, divulgado há seis dias, apontou tendências negativas no balanço do terceiro trimestre da PagSeguro, como maiores despesas financeiras e receitas mais fracas.

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“O crescimento do TPV desacelerou sequencialmente (2% abaixo da nossa estimativa), parcialmente compensado por um melhor ‘take rate’ [comissão cobrada dos clientes], que veio em linha com nossa estimativa”, analisou o relatório do Goldman Sachs.

Concorrente da PagSeguro, a Cielo já indicava, no início de novembro, um menor ritmo do crescimento do TPV em 2023, citando que a participação de cartões de crédito está desacelerando, o que impacta o volume transacionado da indústria. Além disso, o uso do Pix, sistema de pagamento instantâneo, se popularizou no varejo brasileiro e rivaliza com cartões.

Os principais bancos brasileiros, como Bradesco (BBDC4), Itaú (ITUB4) e Santander (SANB11) alertaram o mercado, na divulgação dos balanços do terceiro trimestre, que os indicadores de inadimplência só devem estabilizar completamente no primeiro semestre de 2023. As instituições financeiras têm reforçado suas provisões para devedores duvidosos e reduzindo a emissão de cartões de crédito, principalmente de pessoas físicas e pequenas empresas, devido ao risco da inadimplência.

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Cenário do crédito

O rebaixamento das ações da PagSeguro ocorre após a divulgação de informações oficiais indicando, em outubro, uma tendência de desaceleração na concessão de crédito pelas instituições financeiras no Brasil com o impacto da inadimplência elevada, mostrada nos últimos balanços do 3º trimestre.

Dados de crédito de outubro, divulgados ontem pelo Banco Central, apontaram uma escalada da inadimplência (4,2%) nos créditos com recursos livres, com contribuição de pessoas física e jurídica. Por outro lado, houve um aumento do spread geral (20,1%) das novas concessões, assim como do ICC (Indicador de Custo de Crédito), de 13,9% no mês anterior para 14,1%.

Em outubro, o BC também apurou um aumento da carteira de crédito do SFN (Sistema Financeiro Nacional) no comparativo mensal (+1,1%), com contribuição predominantemente das pessoas físicas, mas desaceleração no comparativo anual (+15,8%, de +16,4%).

Em relatório, o BB Investimentos analisou os dados divulgados pelo BC e apontou as tendências predominantes: a desaceleração do crédito, oriunda da maior seletividade dos bancos dada a inadimplência crescente, especialmente da pessoa física, associada à menor demanda das famílias, com o comprometimento de renda chegando ao maior nível da série histórica desde 2011; a escalada mais firme dos spreads, dado o contexto da reprecificação das carteiras de crédito, que permitem melhores taxas de aplicação à medida em que as taxas de captação se estabilizam, e por fim, a inadimplência geral ainda reduzida, mas no segmento de pessoa física nas modalidades livres atingindo o desconfortável pior nível desde 2017, especialmente em cartão de crédito e crédito pessoal.

“Dado esse contexto, acreditamos que os bancos com maior desenvoltura para surfar o atual ciclo de desaceleração do crédito com alta na inadimplência sejam os bancos com carteira de crédito de varejo mais equilibrada, como o Itaú, e aqueles com maior exposição à PJ como ABC (ABCB4) e BTG (BPAC11)”, avaliou o relatório do BB Investimentos.

(Atualiza às 15h20 com dados do BC sobre crédito em outubro)

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-- Com informações da Bloomberg News

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.