Combo com ministro e PEC ‘indesejáveis’ levaria dólar a R$ 6, diz Opportunity

Gestora tradicional avalia que PEC da Transição tira do Teto de Gastos valor maior que o necessário e diz que nesse cenário um corte de juro em 2023 ficaria descartado

Aloizio Mercadante (à esquerda), Gleisi Hoffman e Geraldo Alckmin lideram trabalhos de transição para novo governo
Por Barbara Nascimento
29 de Novembro, 2022 | 04:23 PM

Bloomberg — A combinação da escolha de um ministro da Fazenda e da aprovação de uma PEC que desagradem o mercado, nos moldes do atual formato sinalizado pelo governo, levaria o dólar a R$ 6 e causaria ainda mais perdas à bolsa, disse em entrevista Marcos Mollica, gestor macro da Opportunity, casa com R$ 81 bilhões em ativos sob administração.

“O dólar iria para perto de R$ 6 - sem ser muito pessimista - e o cenário se tornaria muito desafiador para a bolsa”, disse, emendando que os juros já tiveram uma piora nos últimos dias em antecipação.

Mollica, que administra os fundos multimercado da gestora, destacou que o desenho fiscal do projeto enviado pelo governo, mais próximo de um waiver de R$ 200 bilhões, embute uma folga muito maior do que a estimada pela Opportunity para cumprir com as promessas de campanha de Lula. O waiver seria o mecanismo para deixar de fora um volume de recursos fora do Teto de Gastos.

Para ele, um valor mais próximo de R$ 80 bilhões seria suficiente para cobrir tanto o incremento no auxílio social, já com o adicional de R$ 150 por criança, quanto o reajuste do salário mínimo. “A PEC é muito maior do que a necessidade e o mercado entrou numa dinâmica negativa”, disse o gestor.

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Nesse cenário, não só o prêmio de risco do Brasil ficaria bem mais alto como a inflação voltaria a ser pressionada, sobretudo o núcleo de serviços. “Com a PEC, corte de juros fica fora do cardápio para o ano que vem”. E vai além: hoje, uma alta em 2023 é “bem mais provável” do que um corte.

Mollica gere os quatro fundos multimercados do Opportunity, que totalizam R$ 4 bilhões, e contou que migrou de uma posição mais otimista com Brasil logo depois do segundo turno para um cenário mais pessimista: estão tomados em juros, vendidos em bolsa e em dólar.

No cenário global, ele explicou que os fundos sob sua gestão estão tomados em juros, mas que reduziu bastante as posições.

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Mollica disse que vê sinais de desaceleração da inflação nos Estados Unidos, mas acha que, a partir de certo ponto, os indicadores precisarão da ajuda de uma desaceleração econômica para chegar no ponto desejado pelo Federal Reserve. Nesse cenário, avaliou que as bolsas americanas estão em território “otimista demais” para o contexto.

Entre emergentes, o Opportunity tem posições em juro no Chile e no México e observa Polônia e República Tcheca.

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