Por que o Banco Safra decidiu comprar o grupo Alfa por R$ 1 bilhão?

Com aquisição, banco reforça presença em serviços corporate, private banking e wealth management

Além de atuar no segmento financeiro, grupo tem negócios em hotelaria, materiais de construção, agroindústria, alimentos e bebidas, cultura e comunicações
24 de Novembro, 2022 | 08:11 AM
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Bloomberg Línea — O Banco Safra, um dos maiores bancos privados do Brasil, anunciou na noite de quarta-feira (23) a compra do controle do conglomerado financeiro Alfa (BRIV3, BRIV4), por R$ 1,03 bilhão, reforçando sua presença em serviços corporate, private banking e wealth management no Brasil.

O conglomerado financeiro é formado por Banco Alfa, Banco Alfa de Investimento, Financeira Alfa, Alfa Leasing, Alfa Corretora, Alfa Seguradora e Alfa Previdência.

Desde o primeiro semestre, o mercado aguardava um desfecho para a negociação do Banco Alfa. Em setembro, a instituição financeira, fundada pelo banqueiro Aloysio Faria, morto em 2020, chegou a admitir, em comunicado, a possibilidade de negociação com o BTG Pactual (BPAC11).

A transação é um marco na história do banco no Brasil”, disse, em nota, David Safra, filho caçula do banqueiro Joseph Safra (1938-2020), fundador da instituição sediada em São Paulo.

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O CEO do Alfa, Fábio Amorosino, também destacou a transação como “histórica” no mercado financeiro brasileiro. “Temos a convicção de que a operação entre os dois bancos seculares, fruto de trajetória empreendedoras de sucesso e baseados em valores comuns, potencializará a qualidade, perenidade e excelência que sempre oferecemos aos nossos clientes e colaboradores”, afirmou.

O acordo firmado envolveu o Safra e a Administradora Fortaleza, dona da totalidade das ações nas empresas do conglomerado financeiro Alfa.

O Banco Alfa faz parte de um conglomerado que atua principalmente nos segmentos de crédito a pessoas jurídicas e físicas, tesouraria, administração de recursos de terceiros, private banking, wealth management, mercado de capitais e fusões e aquisições.

Na área de corporate, o Alfa aglutina grupos econômicos com faturamento de R$ 100 milhões a R$ 1 bilhão, sendo que a divisão de large corporate reúne empresas que movimentam acima de R$ 1 bilhão.

Outra área de atuação em comum entre os dois bancos é o financiamento de veículos de luxo, principalmente importados. Em relatório sobre o setor bancário brasileiro, divulgado em fevereiro, a agência de classificação Moody’s destacou que o Safra e o Alfa são players-chave desse segmento no Brasil, já que ambos estão focados em financiar clientes de alta renda e compras de carros de luxo.

Em ranking divulgado pelo site do Banco Central, o Safra ocupa o terceiro lugar entre os bancos com menores taxas de juros pré-fixadas cobradas de pessoas físicas para a aquisição de veículos. Entre os dias 3 e 9 deste mês, a instituição cobrava 1,36% ao mês e 17,61% ao ano, atrás da BMW Financeira (1,01% ao mês e 12,78% ao ano) e do Banco Volkswagen (1,29% ao mês e 16,60% ao ano). Já a Financeira Alfa aparece em 22% lugar (1,92% ao mês e 25,69% ao ano).

O Alfa também tem sido reconhecido como um dos bancos que mais contratam startups no país. O programa de inovação do Alfa, lançado em 2020, contabiliza 19 startups em seu portfólio atual. Entre as participantes de seu hub de inovação, estão startups voltadas para análise de crédito como a Cignifi, DataRisk, DataRudder, Débito Direto, Join Analytics e Ume, selecionadas em agosto.

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Em 2021, o Alfa fechou o ano com a marca histórica de R$ 12,8 bilhões em estruturação de operações no mercado de capitais. Agronegócio, energia e saneamento foram os setores com as principais operações. Entre elas, estava a coordenação da 6ª emissão de debêntures da Copel (Companhia Paranaense de Energia) de R$ 1,5 bilhão, sendo o maior deal da história da empresa.

No agronegócio, o Alfa tem liderado a coordenação de emissões de CRA (Certificados de Recebíveis de Agronegócio) de clientes relevantes, como a Yara, gigante europeia de fertilizantes, que liquidou em junho uma operação de R$ 520 milhões, a maior da empresa no mercado brasileiro de capitais, após duas emissões no ano passado, também com a liderança do Alfa.

O acordo firmado com o Safra não inclui as empresas não financeiras de setores variados do grupo Alfa, tais como hotelaria (Rede Transamérica de Hotéis), materiais de construção (C&C Casa e Construção), agroindústria (Agropalma), águas mineiras (Águas Prata), alimentos (Sorvetes La Basque), cultura (Teatro Alfa), comunicações (Rede Transamérica de Rádio) e eventos (Transamerica Expo Center).

A incorporadora KSM, do BTG Pactual, comprou o terreno onde se encontram o Teatro Alfa e o Hotel Transamerica, em Santo Amaro, na zona sul de São Paulo, informou o jornal Folha de S.Paulo, nesta quinta-feira. Sem citar fontes, o jornal Valor Econômico acrescentou que o local deve ser transformado em um clube.

O Rothshild & Co e Mattos Filho atuaram como assessores financeiro e legal da Administradora Fortaleza na venda do controle do conglomerado. Pelo Safra, a assessoria financeira foi do J.Safra Investment Banking e a assessoria legal foi do Pinheiro Neto Advogados, segundo a nota conjunta.

(Atualiza às 15h30 com informações sobre ativos do grupo Alfa)

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.