Governo do Paraná anuncia plano para privatizar a Copel; ação dispara 22%

Plano informado ao mercado prevê que o estado venda o controle da estatal de energia, reduzindo fatia com direito a voto de 69,7% para pelo menos 10%

A Copel tem atuação em geração, transmissão e distribuição de energia no estado do Paraná
21 de Novembro, 2022 | 05:00 PM

Bloomberg Línea — O setor elétrico brasileiro deve continuar a avançar no processo de privatização, após o sucesso da operação envolvendo a Eletrobras (ELET3; ELET6) em junho deste ano. A próxima estatal na lista deve ser a Copel (Companhia Paranaense de Energia). O estado do Paraná, governado por Carlos Massa Ratinho Junior (PSD), reeleito para um segundo mandato a partir de 2023, confirmou nesta segunda-feira (21) a intenção de vender o controle da empresa, por meio de uma oferta pública de ações.

As ações da companhia (CPLE6) dispararam mais de 22% logo após a divulgação da informação, no início da tarde. No fechamento, a valorização foi de 22,07%.

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Em fato relevante, a Copel informou que o plano é que o Estado do Paraná permaneça com participação relevante não inferior a 15% do capital total e 10% do capital votante, o que exigirá mudanças no estatuto social. Atualmente a participação é de 31,1% e de 69,7%, respectivamente, além de 6,9% de ações preferenciais.

A operação tem que ser analisada pelo TCE (Tribunal de Contas do Estado do Paraná).

Nenhum acionista ou grupo em acordo poderá exercer votos em número superior a 10%, independentemente do tamanho de sua posição na companhia.

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“A ideia é semelhante à recém-utilizada com sucesso na privatização da Eletrobras”, observou Bernardo Viero, analista da Suno Research, em nota.

“Aos preços atuais e mantendo 10% das ações ordinárias, o Estado arrecadaria quase 90% do que a Secretaria da Fazenda do estado estima como perdas de receitas pela redução do ICMS em 2023″, disse Viero.

“Tal modelo mantém a empresa protegida do risco de concentração de controle com um player nocivo, além de permitir a atração de investidores estratégicos que podem agregar ainda mais ao negócio”, apontou.

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Outro fator apontado por Viero para apostar na viabilidade da intenção de privatizar a Copel é político: como o atual governador (Ratinho Junior) foi recentemente reeleito com 69,6% dos votos, com 40 dos 54 deputados da Assembleia Legislativa na sua base de coligação, não deve haver grandes dificuldades na condução do processo.

“Ainda assim, o investidor deve ter ciência de que, como em toda privatização, o seu andamento exige paciência para a superação das burocracias que são naturais a esses casos. A privatização é muito positiva e, mesmo que ela não ocorra, estamos falando de uma empresa que gera muito caixa e é bastante lucrativa. Era o caso da Eletrobras e hoje é o caso da Copel”, afirmou o analista da Suno.

Leilão

Antes da formalização da oferta pública para a privatização, a Copel já tratava de venda de ativos. Ao comentar, neste mês, o balanço do terceiro trimestre com analistas, o CEO da Copel, Daniel Slaviero, já havia sinalizado que a termelétrica Araucária deveria passar por um processo de venda. No período, a Copel lucrou R$ 403,4 milhões, com redução de 47% na comparação em 12 meses.

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Segundo o analista da Suno, o CEO da Copel também falou sobre o leilão de venda do controle da hidrelétrica de Foz do Areia, que ocorrerá como prerrogativa para que a companhia mantenha o ativo em seu portfólio sem precisar disputar a concessão novamente.

“Na conference call, foi dito que grandes e respeitadas empresas do setor elétrico já estão interessadas [nos ativos]. A Engie é uma das principais candidatas, tendo em vista o interesse reiterado pelo CEO da empresa recentemente e a boa relação entre as companhias, que constituíram parceria para participar do último leilão de transmissão”, escreveu Viero, em nota.

Sobre a queda de 11,8% registrada no Ebitda ajustado no terceiro trimestre, houve o impacto de uma base de comparação inflada pelo despacho da termelétrica Araucária durante a crise hídrica no mesmo período do ano passado, tendo em vista uma situação hidrológica mais favorável atualmente.

Segundo ele, um dos destaques do resultado foi a queda de 29% nos custos com pessoal (R$ 250,3 milhões), fruto do programa de desligamento voluntário que compensou os bônus por resultados e reajuste salarial de 10,78%.

“Apesar de já ser considerada uma das estatais mais eficientes [do país], a Copel possui espaço para otimização no seu quadro. A empresa roda com uma relação de despesas com pessoal sobre a receita líquida em torno de 5%, contra em torno de 3% de pares comparáveis como a Energias do Brasil”, avaliou.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.