Como o frete marítimo virou a nova dor de cabeça do mercado de petróleo

Custo do transporte chegou ao maior nível desde o início de 2020 com o crescimento da demanda por cargueiros

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Bloomberg — Os crescentes custos de frete pressionam os mercados físicos de petróleo, já atingidos pela incerteza devido ao teto para as cotações dos barris da Rússia e às compras fracas da China.

Os custos na rota comercial de referência do setor ultrapassaram US$ 100 mil por dia na segunda-feira (21), o maior valor desde o início de 2020, quando a covid-19 elevou o número de navios-tanque que armazenavam cargas. Com as sanções à Rússia, agora os navios precisam fazer rotas mais longas, o que reduz o número de cargueiros disponíveis. Com isso, petroleiras e traders são obrigados a pagar preços cada vez mais altos para transportar cargas, o que também eleva o custo do petróleo.

“Transportar se tornou um dreno tangível” sobre o preço do petróleo onde é carregado, agravando as fracas compras da China, disse Viktor Katona, analista-chefe de petróleo da Kpler, uma empresa de dados e análise. Além disso, há “trepidação” dos compradores sobre o impacto no mercado de um teto para os preços do petróleo russo, segundo Katona.

A partir de 5 de dezembro, um teto será imposto às cotações do petróleo da Rússia para empresas que desejam acessar navios e serviços, incluindo seguros fornecidos por companhias do G-7, grupo das sete maiores economias do mundo. O limite concreto do preço ainda não foi definido, o que dificulta o planejamento de clientes sobre o volume a ser comprado da Rússia.

As altas taxas de frete cobradas por proprietários também se refletem nos altos custos de transporte por barril para traders. As remessas do Golfo dos EUA para a China, uma das principais rotas de longa distância do setor, agora custam cerca de US$ 6,60 o barril, mostram dados de frete da Baltic Exchange compilados pela Bloomberg. O preço é quase o triplo do cobrado em fevereiro.

Excedente de carga

Vários tipos de petróleo do Mediterrâneo, que são negociados com diferenciais em relação ao Brent do Mar do Norte, caíram pelo menos US$ 1,50 por barril no prazo de 30 dias, enquanto mais de 20 cargas da África Ocidental aguardam um destino, mesmo depois de os preços de oferta terem sido cortados várias vezes.

O excesso de cargas de petróleo na Europa decorrente de greves trabalhistas no continente “está deprimindo os preços imediatos, assim como os mercados estão comprando barris de mais longe ao trocar Urais”, o tipo de petróleo mais exportado pela Rússia, disse Kit Haines, analista da Energy Aspects.

Os diferenciais spot despencam nas Américas. O petróleo dos EUA para carregamento em dezembro tem sido oferecido com um desconto de US$ 7 frente ao ICE Brent, em comparação com US$ 2 algumas semanas atrás. Enquanto isso, o Castilla da Colômbia mostra os maiores descontos desde a pandemia.

Na Ásia, os prêmios à vista de diversas variedades de petróleo do Oriente Médio, desde o carro-chefe de Abu Dhabi, Murban, até o Qatar Marine e Omã, caíram ainda mais para barris carregados em janeiro, segundo traders que vendem e compram essas cargas.

A queda das compras da China deu mais tempo à Europa, que busca descobrir como substituir cerca de 800 mil barris por dia do petróleo russo, após o embargo da União Europeia às importações do produtor da Opep+ entrar em vigor em duas semanas, disse Haines, que espera o retorno das compras da China no segundo trimestre.

“As compras chinesas estão mornas por enquanto, o que vai amenizar o golpe”, disse. “Mas, uma vez que a China volte ao mercado – provavelmente para barris no segundo trimestre – a China será a principal variável para os saldos de 2023.”

Dito isso, alguns traders acreditam que os preços já caíram o suficiente para estimular mais compras na Ásia. As vendas de barris de petróleo brasileiro entregues em janeiro e fevereiro para a China aumentaram quando os vendedores reduziram o preço para o nível que estatais chinesas de petróleo e refinarias sul-coreanas estavam oferecendo.

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