CEO do Itaú: Houve um crescimento artificial dos cartões de crédito no Brasil

Milton Maluhy Filho espera que inadimplência de pessoa física se estabilize no começo de 2023 após ajustes nos critérios de concessão de crédito

Ritmo de crescimento da carteira de crédito deve desacelerar em 2023 diante das incertezas nos cenários global e brasileiro e do maior rigor do banco na concessão de empréstimos
11 de Novembro, 2022 | 01:12 PM

Bloomberg Línea — O CEO do Itaú Unibanco (ITUB4), Milton Maluhy Filho, deu um recado aos analistas das maiores instituições financeiras com atuação no país que cobrem o setor, durante teleconferência de quase duas horas sobre o resultado do 3º trimestre: o maior conglomerado bancário do país está disposto a tomar medidas adicionais para conter a onda de inadimplência no segmento de pessoas físicas que atingiu com força os principais bancos de varejo. Ele espera uma estabilização dos indicadores de atrasos no pagamento das faturas até o primeiro trimestre de 2023.

O executivo disse que uma oferta excessiva de cartões de crédito, principalmente por meio de fintechs, é um fator que explica a atual onda de inadimplência de pessoas físicas com esse tipo de produto financeiro. Segundo ele, houve uma sobreoferta de cartões no mercado nos últimos anos, que gerou um desequilíbrio nesse segmento.

“Em um dia, a pessoa pode abrir seis a sete contas na internet, sem custo, e conseguir um cartão de crédito. Aí vai usando o produto até ter um problema para pagar a fatura. Houve um crescimento artificial dos negócios com cartões, porque as fintechs buscavam um crescimento rápido, uma redução do custo de aquisição de cliente e estavam em outro cenário, de juros baixos”, explicou.

Segundo o CEO, o cenário macroeconômico mudou desde o primeiro semestre do ano passado, quando o Banco Central começou a elevar a taxa Selic, antes estacionada em 2%, para 13,75% ao ano atualmente, a fim de conter as pressões inflacionárias, que são mundiais. “Agora, está mais difícil, porque o poder de compra do consumidor está corroído com a alta dos juros e da inflação”, observou.

PUBLICIDADE

O executivo reforçou, durante diversas respostas aos analistas, as ações tomadas nos trimestres anteriores para evitar uma deterioração acelerada da carteira de crédito com os atrasos mais longos dos clientes. O Itaú Unibanco cortou em 90% a emissão de cartões de crédito no chamado “mar aberto”, clientes do meio digital que, sem outros vínculos com o banco, apenas solicitam a emissão de cartão, oferecendo risco maior de inadimplência.

Estamos fazendo ajustes relevantes no portfólio de cartões, assim como todo o mercado. Essas medidas vão desde a revisão de limites a ajustes na concessão”, afirmou o CEO do Itaú.

Incertezas

Mesmo com o maior rigor em seus modelos de avaliação de risco para a concessão de crédito, o Itaú Unibanco vai continuar apostando na concessão de cartões para clientes de maior poder aquisitivo, com histórico de relacionamento com o banco, que ofereçam menor risco de inadimplência, num monitoramento constante sobre o cenário macroeconômico, segundo o CEO.

PUBLICIDADE

Ele lembrou que o portfólio de cartões de crédito é importante para as receitas do banco. “É uma carteira volátil, mas não podemos crucificar o portfólio de cartões. Em vez disso, temos de monitorar as novas safras para evitar uma deterioração”, disse.

O executivo afirmou que o Itaú está reduzindo sua exposição ao perfil de clientes de baixa renda, principalmente em produtos não garantidos nos canais digitais, devido aos maiores riscos de atrasar os pagamentos de fatura de cartão e crédito pessoal. “Podemos fazer ajustes adicionais”, disse, se referindo a mais medidas para restringir a produção de cartões e reduzir os limites desses clientes.

Sobre 2023, o CEO disse que ainda há uma baixa visibilidade, incertezas e indefinições sobre como a economia brasileira e mundial vai se comportar, bem como o novo governo. No ínicio do ano que vem, o Itaú deverá divulgar ao mercado guidance (projeção) para seus principais indicadores.

“Vamos ver nossa carteira de crédito crescendo menos em 2023, mas existem compensações para isso no portfólio diversificado do banco”, apontou Maluhy Filho, relacionando a performance positiva do banco em áreas como tesouraria, seguros, private banking, asset e operações no exterior.

O aumento de provisões para devedores duvidosos deve prosseguir no quarto trimestre, segundo o executivo. “O cenário inspira cautela”, repetiu o executivo, como fizera nos trimestres anteriores.

Leia também

Além do aço: como a Gerdau pretende lucrar com o aluguel de caminhões

Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.