Como as eleições de meio de mandato nos EUA afetam os latino-americanos

Para América Latina e para os latinos que vivem em território americano, as eleições podem ditar novas políticas a depender do partido que comandará o Congresso

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Bloomberg Línea - Boston — Os americanos votam novamente nesta terça-feira (8), desta vez na eleição de meio de mandato, que decide qual partido vai controlar o Congresso dos Estados Unidos, com poder para definir para onde vão os gastos do governo americano. Por isso, a América Latina e os latinos, em especial, são parte relevante do jogo.

O cientista político e professor de Relações Internacionais da Universidade de Minnesota, Larry Jacobs, disse, em resposta à Bloomberg Línea, que os eleitores de língua espanhola são uma das partes que mais crescem no eleitorado americano e “uma influência potencialmente decisiva nos resultados”.

“A grande população latina no sul da Flórida e no Texas pode muito bem decidir o resultado dessas eleições de meio mandato”, pontuou Jacobs.

Os Estados Unidos têm um grande número de eleições. Só o no plano federal americano há uma eleição a cada dois anos, enquanto no Brasil e a maioria dos países da América Latina fazem eleições gerais a cada quatro anos.

Além disso, os Estados Unidos também diferem dos países latino-americanos pelo número de cargos do governo que são eleitos. Os EUA também votam para escolher juízes ou promotores, por exemplo.

Pressões

Leonardo Paz, pesquisador do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da Fundação Getúlio Vargas, desenhou dois possíveis cenários para as eleições de meio mandato que escolhem os parlamentares da Câmara dos Deputados (House of Representatives) e do Senado.

Para ele, um Congresso mais republicano pode dar menos atenção para a América Latina e estar menos preocupado com o que está sendo feito na região do que os democratas.

“Um Congresso mais republicano - e é um republicano mais clássico, um pouco diferente do republicano à la Trump - é um Congresso que dá um pouco menos atenção para a América Latina e é um pouco mais duro com os latinos de maneira geral no próprio território americano”, disse.

“Repare que, nesses últimos anos de governo Bolsonaro, o governo americano, via Congresso, fez críticas em relação ao governo brasileiro, direcionadas a direitos humanos, ou à preocupação com as eleições, ou com o clima. Mas sempre a carta do Congresso americano para criticar o Brasil veio de um conjunto de deputados democratas, e não republicanos”, disse Paz.

Para a região como um todo, Paz afirma que os países do mundo ficaram menos preocupados com críticas dos Estados Unidos em relação ao que eles faziam com as questões deles, especialmente direitos humanos e questão climática. “E o governo Trump foi um bom exemplo disso”, afirmou.

“Democratas são mais críticos e mais ativos na hora de pressionar os países em relação à agenda do clima, democracia e direitos humanos”, disse.

Imigração

Se para a política externa com a América Latina os congressistas democratas podem pressionar mais, internamente nos Estados Unidos os democratas são mais flexíveis com os direitos dos latinos, em especial em relação aos chamados “Dreamers”, latinos que foram levados quando crianças para os Estados Unidos e que viveram toda sua história em território americano.

“O Congresso americano mais democrata tende a aumentar os direitos dessas pessoas se aproximando dos direitos dos americanos, enquanto os republicanos tentam travar mais esse processo. Isso também se dá na política de imigração”, disse Paz.

Um Congresso que debata uma política de imigração mais republicana é uma política de forma geral mais dura, mais restritiva, enquanto a democrata tende a ser mais flexível, segundo o professor.

“Apesar de que o governo Biden, na minha opinião, não avançou tanto para derrubar ou flexibilizar as políticas mais duras que o governo Trump fez. Mas o congresso mais democrata geralmente tende a ir mais nessa direção”, disse.

Paz afirmou ainda que uma preocupação relevante em relação a um Congresso republicano tem a ver com a atuação para supressões de voto, ou seja, a criação de leis que limitam a capacidade de determinadas pessoas votarem nos Estados Unidos.

“Se os chamados Felon Re-Enfranchisement ou pessoas que foram presas perdem o direito de votar, de certa maneira isso atinge mais proporcionalmente os latinos do que os americanos brancos”, disse. “Se houver um direcionamento federal para políticas de supressão de voto, que geralmente são políticas locais, pode aumentar o impacto sobre os latinos, que de maneira geral são mais vulneráveis a essas políticas mais duras de restrição de votos.”

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