Mercados cautelosos e erráticos após atuação do Fed; BoE também sobe juros

Investidores monitoram um cenário desfavorável para os ativos de risco, com chance ainda maior de uma recessão nos EUA. BoE volta a subir juros

Por

Barcelona, Espanha — (Esta é uma versão atualizada e ampliada de nota publicada originalmente às 7h15)

A rota de fuga apresentada pelo Federal Reserve (Fed) para a aterrissagem dos juros acendeu um alerta no mercado. Além disso, a piora das expectativas do Fed para a economia leva os investidores a acreditarem que a recessão não somente é um cenário factível, mas também iminente. Os futuros de índices norte-americanos operam esta manhã com muita volatilidade, mudando constantemente de positivo para negativo. Na Europa, as bolsas de valores retrocedem desde a abertura.

O Fed cumpriu a expectativa de alta de 0,75 ponto percentual dos juros, para um intervalo de 3% a 3,25%. Foi o terceiro aumento consecutivo nessa proporção, o que se traduz na política monetária mais agressiva desde a década de 1980, quando Paul Volcker comandava o banco central. O Fed prevê subir os juros até 4,6% em 2023 antes de terminar seu embate contra a inflação.

🔮 Prognósticos do Fed. As estimativas de inflação foram revisadas ligeiramente para cima. E a perspectiva do Fed para o crescimento econômico piorou bastante, com um avanço estimado para o PIB de 2022 de +0,2%, contra os +1,7% da leitura anterior. Mas o que chamou mais atenção do mercado foi o gráfico que indica a percepção dos diretores do Fed sobre o rumo das taxas, que indicou uma falta de consenso sobre a redução dos juros a partir de 2024.

😵‍💫 Atordoado. A reação do mercado foi errática ao princípio, mas terminou em fortes perdas no fechamento. Esta manhã, os futuros de índices dos EUA tentavam recuperar parte das perdas, mas ontem Wall Street voltou a flertar com o bear market, o mercado de baixa. Ontem, o S&P 500 recuou 21% desde o máximo de 4.797 pontos alcançado em 3 de janeiro.

🆙 BoE volta a subir juros. O Banco da Inglaterra aumentou mais uma vez suas taxas de juros: aplicou um aumento de 0,50 pontos para 2,25%, em linha com as estimativas dos analistas. Esta é a sétima alta consecutiva em um ciclo em que os movimentos ganharam em magnitude - ao principio eram de 0,25 ponto percentual.

📈 Aperto por todos os lados. Além disso, esta manhã o banco central da Suíça também optou por uma alta de 0,75 ponto de seus juros, elevando o custo do dinheiro acima de zero pela primeira vez em quase oito anos. O Banco da Indonésia também subiu sua taxa, em 0,5 ponto percentual, o maior incremento desde 2018, superando estimativas de aumento de 0,25 ponto. E autoridade monetária de Hong Kong sinalizou que os bancos devem elevar, em breve, os custos dos empréstimos.

🏮 Caminho solo. Poucas horas após a decisão do Fed, o Banco do Japão manteve os juros no país, isolando a economia do cenário global de aumento monetário. Ainda na Ásia, o Goldman Sachs Group Inc. cortou sensivelmente a projeção de crescimento da economia da China, como efeito da política Covid Zero. O banco estima agora uma expansão do PIB de 4,5% em 2023, ante 5,3% previstos anteriormente.

O Japão interveio para apoiar o iene pela primeira vez desde 1998, buscando conter um declínio de 20% em relação ao dólar este ano em meio a uma crescente divergência de política monetária com os EUA.

→ Assim se movimentam os mercados esta manhã:

Após perdas importantes no fechamento do pregão em Nova York os investidores se mostram reticentes nos negócios com renda variável. A perspectiva mais firme de recessão nos Estados Unidos se mescla com movimentos similares de outros bancos centrais pelo mundo, como o BoE, que segue no caminho do aperto monetário.

Tendo isso em conta, os índices europeus operam no vermelho. Os futuros das bolsas de Nova York oscilam em um verdadeiro vaivém entre os territórios positivo e negativo. No mercado de dívida, o prêmio pelo título de 10 anos do Tesouro norte-americano era de 3,57% e o do bônus de 2 anos se situava em 4,12%.

→ Leia o Breakfast, uma newsletter da Bloomberg Línea: Como ganhar na pausa da alta dos juros?

🟢 As bolsas ontem: Dow Jones Industrials (-1,70%), S&P 500 (-1,71%), Nasdaq Composite (-1,79%), Stoxx 600 (+0,90%), Ibovespa (-0,52%)

Os mercados acionários americanos oscilaram entre ganhos e perdas após a decisão do Fed, mas no final pesaram sobre os índices as expectativas de que uma política monetária apertada poderia empurrar a economia para uma recessão. O Fed aumentou as taxas de juros em 0,75 pontos percentuais. Os investidores também levaram em conta a nova ofensiva do presidente russo Vladimir Putin na Ucrânia.

Saiba mais sobre o vaivém dos Mercados e se inscreva no After Hours, a newsletter vespertina da Bloomberg Línea com o resumo do fechamento dos mercados.

Na agenda

Esta é a agenda prevista para hoje:

• EUA: Pedidos de Seguro Desemprego, Transações Correntes/2T22, Índice de Indicadores Antecedentes/Ago,Índice de Atividade Industrial do Fed de Kansas/Set, Estoques de Gás Natural;

• Europa: Zona do Euro (Relatório Mensal do BCE, Confiança do Consumidor/Set); Reino Unido (Ata da Reunião de Política Monetária, Confiança do Consumidor GfK/Set)

• Ásia: Japão (Índice de Preços ao Consumidor/Anual); Hong Kong (Índice de Preços ao Consumidor/Ago)

• América Latina: Brasil (Receita Tributária); México (Índice de Preços ao Consumidor/Set); Argentina (Transações Correntes/2T22)

• Banco centrais: Reuniões de política monetária dos bancos centrais do Reino Unido, Turquia, Suíça, Japão, Indonésia e África do Sul; Discurso de Edouard Fernandez-Bollo (BCE), Discurso de Silvana Tenreyro, membros do Comitê de Política Monetária (MPC) do Banco da Inglaterra (BoE)

📌 Para amanhã:

• Secretária do Tesouro dos EUA Janet Yellen discursa em Washington. PMIs da Zona do Euro

(Colaborou Bianca Ribeiro. Com informações da Bloomberg News)