Movida entra no mercado europeu com compra de locadora de veículos em Portugal

Aquisição da Drive on Holidays por R$ 335 milhões representa início do plano de internacionalização para subsidiária do Grupo Simpar

Movida, subsidiária do Grupo Simpar, anuncia entrada no mercado de aluguel de veículos em Portugal com aquisição da DOH
21 de Setembro, 2022 | 07:25 PM

São Paulo — A Movida (MOVI3), subsidiária do Grupo Simpar (SIMH3), acaba de anunciar ao mercado a aquisição de uma das principais locadoras de veículos leves de Portugal, a DOH (Drive on Holidays). O valor do negócio - o Enterprise Value - foi de 66 milhões de euros (cerca de R$ 335 milhões).

O negócio dá início ao seu plano de internacionalização com a entrada na Europa, um dos maiores mercados do mundo no segmento de Rent a Car (RAC).

A compra da DOH (Drive on Holidays) significa que a Movida terá acesso aos mercados de Lisboa, Porto, Faro e Ponta Delgada, cidades estratégicas devido ao alto volume de turistas nos aeroportos.

A Drive on Holidays possui aliança comercial com plataformas de reservas online (OTA’s, Online Travel Agents) como a Rentalcars, Cartrawler, Auto Europe, AurumCars, BSP Auto, Sunny Cars, Expedia e Rentcars), segundo a Simpar.

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Segundo o comunicado, a DOH tem uma frota de cerca de 3,3 mil veículos em agosto (99% próprios e 1% sob contratos de buy back) e idade média de 1,6 ano.

Um dos acionistas fundadores e executivos da empresa portuguesa, Ricardo Esteves, vai continuar à frente da DOH, que tem 130 funcionários, com uma gestão independente da operação da Movida no Brasil.

“[O negócio está] em linha com o planejamento estratégico [...] em uma região em que a companhia terá a oportunidade de servir os atuais clientes e contribuir com a expertise construída ao longo dos anos para a fidelização dos mesmos e para a concretização de um crescimento orgânico da Movida através de uma nova plataforma internacional”, disse Denys Marc Ferrez, CFO e diretor de relações com investidores da Simpar.

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A DOH, com sede na capital portuguesa, atua no segmento de Rent a Car desde 2011. Entre julho de 2021 e junho de 2022, a companhia apresentou receita líquida de 20,2 milhões de euros, um lucro de 6,7 milhões de euros e uma dívida de 11 milhões de euros. Esses números não são auditados.

A Simpar listou como destaques do negócio a diversificação da receita da Movida em outra moeda (euro), a operação em um país com elevado desenvolvimento socieconômico e economia madura e o fato de servir como porta de entrada para a União Europeia, além de diversas oportunidades de crescimento.

Endividamento

Alguns analistas avaliaram o negócio anunciado com algumas reservas. “Como a companhia tem pouco espaço para alavancagem no balanço (dívida líquida/EBITDA de 3,0x no 2T22), entendemos que o mercado preferiria que a geração de caixa fosse destinada à redução do endividamento. Apesar de esperarmos uma reação negativa, o impacto da aquisição é limitado sobre o endividamento (dívida líquida/EBITDA pro-forma aumentaria 0,03x) e representou apenas 11% do desembolso com aquisição de veículos no trimestre passado”, comentaram os analistas da Eleven Financial, Alexandre Kogake e Pedro Pimenta, em nota.

Já o banco Credit Suisse destacou que o negócio marca o início da internacionalização da companhia, embora seja pequeno. “O mercado pode receber a notícia com ceticismo”, previu a instituição, em comentário. Por outro lado, o analista da Suno Research, José Eduardo Daronco, considerou o anúncio como positivo.

“Apesar de pequena em relação ao todo, avaliamos a transação como positiva para a companhia, porque abre uma importante avenida de crescimento em um mercado fragmentado e com um grande potencial de crescimento. Além disso, o múltiplo da transação foi próximo de 4 vezes o EBITDA dos últimos 12 meses, o que acreditamos ser atraente. Dessa forma, acreditamos que a Movida conseguirá aliar a sua estratégia de fidelização de clientes ao bom uso da frota para conseguir crescer no mercado europeu”, observou Daronco.

O BTG Pactual apontou para a necessidade de os investidores locais monitorarem a capacidade da Movida de atuar no mercado externo com as mesmas vantagens do mercado de locação de veículos observadas no Brasil, como o poder de barganha com os fabricantes e com a venda de veículos usados. O banco de investimento também menciona o interesse da Localiza (RENT3) em uma investida internacional.

“O tema da internacionalização também tem ganho tração na Localiza, sendo mencionado em recentes conversas com investidores. Dado o perfil de mercado consolidado no Brasil, os players locais podem buscar oportunidades adicionais de crescimento no exterior”, comentaram os analistas Lucas Marquiori e Fernanda Recchia, em relatório.

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No fim da manhã desta quinta-feira (22), as ações da Movida registravam queda de 2,90%, cotadas a R$ 12,75. O papel da companhia acumula queda de 17% no ano, enquanto o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, tem valorização acumulada de quase 7% em 2022.

(Atualiza às 11h30 do dia 22/09 com comentários de analistas)

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.