Como investir com Selic a 13,75%, em cenário de inflação e juros altos

Especialistas recomendam evitar mudanças bruscas de posições e adotar uma maior diversificação da carteira

O ambiente ainda desafiador para alocação, marcado pela inflação elevada e pelos juros no maior patamar desde 2017 exigem, contudo, cautela
21 de Setembro, 2022 | 07:43 PM
Últimas cotações

Bloomberg Línea — O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu nesta quarta-feira (20) manter a taxa Selic em 13,75% ao ano, interrompendo o ciclo de alta de juros após uma sequência de 12 aumentos seguidos.

No comunicado divulgado junto com a decisão, o Banco Central reiterou que “essa decisão reflete a incerteza ao redor de seus cenários e um balanço de riscos com variância ainda maior do que a usual para a inflação prospectiva”.

Sobre as próximas reuniões, o Copom reforçou que “os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”.

Apesar da manutenção da taxa Selic, o ambiente ainda é desafiador para a alocação de investimentos e exige cautela dos investidores, em meio a um período marcado pela inflação elevada e pelos juros no maior patamar desde 2017. A eleição presidencial também deve trazer maior volatilidade para os ativos domésticos. Tal contexto exige que o investidor diversifique mais o portfólio e evite fazer mudanças bruscas em sua carteira.

PUBLICIDADE

Considerando esse cenário, a Bloomberg Línea consultou especialistas para entender quais as oportunidades disponíveis hoje e como alocar investimentos, levando em conta que o investidor já tenha uma reserva de emergência.

A avaliação é a de que a incerteza ainda paira sobre os mercados, o que sugere que o investidor evite movimentações bruscas no portfólio e que destoem de seu perfil de investidor.

Oportunidades na renda fixa conservadora

Os juros elevados e o sentimento de maior cautela têm contribuído para uma maior atratividade de ativos de renda fixa, em especial os títulos pós-fixados, isto é, atrelados à taxa Selic. É o caso, por exemplo, do título público Tesouro Selic, que tem alta liquidez, e de Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) pós-fixados.

PUBLICIDADE

Dado o ambiente de inflação elevada, os papéis atrelados ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) também ganham destaque entre as preferências de alocadores.

Wilson Barcellos, CEO da Azimut Brasil Wealth Management, diz gostar dos títulos Tesouro IPCA+ de curto prazo, como aqueles com vencimento em 2026, que pagavam nesta quarta-feira (21) a inflação mais uma taxa de 5,67% ao ano.

A avaliação é compartilhada por Flavio Byron, sócio do escritório Guelt Investimentos, que diz ver uma inflação alta e ainda persistente no mundo, no qual uma taxa real entre 5,5% e 6,5% é “bem atrativa”, principalmente no longo prazo.

Para investidores mais conservadores, Byron costuma indicar os papéis com vencimentos mais curtos, como 2026 e 2028; para os moderados, 2035; enquanto para o investidor agressivo, prazos a partir de 2045 podem ser mais interessantes, segundo ele.

Hora dos prefixados?

Com o mercado esperando o fim do ciclo de alta da Selic, investidores se questionam se não seria hora de entrar em papéis prefixados, de forma a se preparar para uma captura do movimento de queda da Selic.

Para Byron, da Guelt, a alocação pode ser interessante para prazos mais curtos, de um a dois anos. A visão é compartilhada por Antonio van Moorsel, sócio do escritório Acqua Vero.

“As revisões altistas para a projeção do IPCA em 2024 no relatório Focus sinalizam a desancoragem das expectativas inflacionárias em relação às metas e, portanto, continuam estimulando exposição moderada [aos títulos prefixados]”, disse.

PUBLICIDADE

Segundo ele, a prioridade deve recair sobre os títulos com vencimentos entre 2024 e 2025, em que há mais prêmio implícito.

Crédito privado

Ainda no campo de renda fixa, mas de maior risco, estão os produtos de crédito privado, que oferecem uma boa relação entre risco e retorno, segundo Barcellos, da Azimut, em especial aquelas com baixo risco de crédito.

Ele chama a atenção para fundos de crédito privado com rating “AAA” e retornos na casa dos 105% do CDI.

Byron, da Guelt, também reforça uma análise caso a caso das emissões, com foco em papéis de rating “AA” ou “AAA”, que podem oferecer hoje retornos isentos de impostos na casa dos 6% ao ano. Ele destaca, por exemplo, o setor de infraestrutura, que tem se destacado.

PUBLICIDADE

Fundos multimercados

Na avaliação de Barcellos, da Azimut, uma alternativa “inteligente” para o pequeno investidor pode ser a alocação em fundos multimercados, que permitem uma diversificação com gestão profissional.

“Apesar do cenário lá fora ainda nebuloso, nós aqui fizemos o dever de casa. Uma redução dos juros no horizonte, concretizando decisões que o BC fez acertadamente no passado, vai trazer benefícios para quem conseguir antecipar o movimento”, disse.

Neste contexto, o pequeno investidor pode adequar seu perfil de investimento e sua necessidade de liquidez em fundos multimercados, podendo surfar não apenas o movimento de queda dos juros e alta da bolsa, como também os momentos de cautela, destaca.

Durante a escolha do fundo, Barcellos destaca a necessidade de se analisar um horizonte de longo prazo, da ordem de três anos, para entender como o gestor se comportou em cenários adversos. Vale lembrar que a rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura.

PUBLICIDADE

Fatia internacional

Na cena externa, Gustavo Aranha, sócio da gestora GeoCapital, destaca que tem visto boas oportunidades em ações internacionais, com ativos descontados, que podem ser interessantes para prazos mais longos, de três a cinco anos.

Na casa, a preferência tem sido por ações de grandes empresas, geradoras de caixa, que tendem a ser mais resilientes em ambientes de maior incerteza, como o atual.

PUBLICIDADE

É o caso, por exemplo, dos papéis da Visa (V), Boooking.com (BKNG), Berkshire Hathaway (BRK-B), Disney (DIS), Alphabet (GOOGL) e Microsoft (MSFT), os maiores nomes do portfólio da casa que, juntos, somam cerca de 40% do fundo.

Leia também:

Os brasileiros do setor financeiro entre os 500 mais influentes da América Latina

Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.