Como Wall Street está alterando a sua visão sobre produtos ESG

JPMorgan está lançando um produto que busca atender ao conceito de dupla materialidade, incluindo, portanto, as externalidades potenciais dos ativos analisados

JPMorgan
Por Greg Ritchie
09 de Setembro, 2022 | 06:30 PM

Bloomberg — Um novo produto ESG que o JPMorgan (JPM) está prestes a oferecer aos clientes mostra a rapidez com que as percepções sobre estratégias de investimento estão mudando em Wall Street.

O JP Morgan, o maior banco dos Estados Unidos, juntou-se à empresa de software Datamaran para desenvolver uma ferramenta de análise de dados para que os clientes avaliem não apenas os riscos ambientais, sociais e de governança enfrentados pelas empresas do portfólio mas também que representam para o mundo. Embora o conceito - conhecido como dupla materialidade - já esteja incorporado nos regulamentos ESG da União Europeia, ainda não fez incursões nos EUA.

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A dupla materialidade é “a única maneira de pensar sobre ESG de uma maneira que seja prospectiva e abrangente”, disse Jean Xavier Hecker, co-diretor de pesquisa ESG para EMEA (Europa, Oriente Médio e Ásia) no JPMorgan e arquiteto por trás da nova ferramenta chamada ESG Discovery.

“Se você limitar seus pontos de vista a coisas que atualmente são financeiramente relevantes, por definição, você perderá as que em breve se tornarão financeiramente relevantes”, disse ele em entrevista. “Você também corre o risco de perder de vista a sustentabilidade.”

Até que ponto a dupla materialidade deve ser aplicada continua sendo assunto de intenso debate. Nos EUA, membros proeminentes do Partido Republicano argumentaram que o ESG já vai longe demais ao trazer a suposta política progressista para as decisões de investimento e começaram a penalizar bancos e gestores de ativos que adotam o ESG. Na outra ponta do debate, o ESG foi criticado por não fazer o suficiente para reduzir as emissões de gases de efeito estufa ou combater a desigualdade.

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Mas, com as principais instituições do setor financeiro, como o JPMorgan, levando o conceito da dupla materialidade para os produtos ESG, essa base está se expandindo.

E a Global Reporting Initiative, que está trabalhando em estreita colaboração com o International Sustainability Standards Board em suas próximas regras sobre divulgação de riscos ESG, diz que empresas e investidores em todas as jurisdições devem esperar se adaptar a um mundo em que a dupla materialidade terá que ser levada em conta.

“Observar apenas a materialidade financeira produziria informações ESG incompletas que não refletem a relação de risco/retorno do investimento potencial a longo prazo”, disse Hecker.

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A ferramenta agora disponível para clientes do JPMorgan usará inteligência artificial para compilar dados de divulgações corporativas, regulamentos e mídia online. Ele não fornecerá uma classificação ou pontuação ESG e, em vez disso, se concentrará em desagregar os aspectos ESG individuais. O objetivo é centralizar as ferramentas de IA da Datamaran e a análise ESG do time de research do JPMorgan em um só lugar.

Sophie Warrick, co-head de Global Research de ESG do JPMorgan, disse que o objetivo é permitir que os clientes vejam os dados subjacentes.

“Há um grande número de plataformas de Inteligência Artificial para ESG. Em teoria, eles geralmente parecem ótimos, mas, quando você entra nos detalhes e percebe o que está impulsionando a análise de palavras-chave e assim por diante, geralmente não é tão sofisticado quanto você esperava”, disse ela em entrevista.

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“Investidores têm preocupações sobre reunir e juntar um amplo conjunto de considerações em um único resultado ESG. O ESG é muito mais complexo do que isso.”

O setor financeiro está escalando a análise de produtos ESG, à medida que investidores sofrem para navegar por um volume de dados aparentemente sem fim. Na quarta-feira (7), a Morningstar lançou uma ferramenta chamada Investable World, que, segundo ela, ajudará os usuários a reduzir o ruído. O produto, entre outras coisas, destina-se a ajudar a esclarecer as lacunas entre ESG e investimento sustentável.

“Algumas empresas que têm suas receitas fortemente alinhadas com as métricas de impacto social positivo podem enfrentar muito risco ESG externo”, disse Adam Fleck, diretor de pesquisa ESG de ações da Morningstar.

A disseminação da dupla materialidade no universo ESG, por sua vez, pode representar um desafio para uma pedra angular da indústria, ou seja, os provedores de ratings ESG. Muitos deles ainda medem apenas os riscos financeiros que os fatores ESG representam para os emissores que classificam, e não seu impacto no meio ambiente.

“O fato de [os ratings] terem ‘um olhar para trás’ é uma crítica comum às classificações ESG”, disse Hecker. “O foco na dupla materialidade é uma necessidade de negócios para os investidores.”

Alguns provedores de score ESG começaram a responder à demanda dos investidores por uma avaliação mais ampla. Por exemplo, a Sustainable Fitch acaba de lançar um sistema de pontuação ESG financeiro alavancado que oferece uma visão independente do impacto ESG geral de um emissor.

Expandir a definição de ESG no atual clima político não é isento de riscos. Wall Street está neste ano sob ataque direto do Partido Republicano, com membros proeminentes do partido acusando empresas como a BlackRock de vender estratégias alinhadas ao que se chama de “woke capitalism”, um capitalismo que olha demais para questões ESG, e menos do que deveria para o retorno para o investidor.

Para Hecker, do JPMorgan, o ESG não é mais político do que outras formas de análise financeira. Um foco na dupla materialidade, por outro lado, pode ajudar a provar seu impacto no mundo real que está por vir.

“Todo tipo de estratégia de investimento tem considerações políticas”, ele disse.

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