10 gráficos que mostram os efeitos da guerra na Ucrânia após seis meses

Inflação histórica, crise energética sem precedentes e deslocamento de refugiados são apenas algumas das consequências da invasão russa

Além da devastação econômica, a guerra também deixa uma crise humanitária, com mais de 6 milhões de refugiados pela europa
28 de Agosto, 2022 | 12:38 PM

Bloomberg Línea — A última quarta-feira (24) marcou seis meses desde que o presidente russo Vladimir Putin ordenou a invasão da Ucrânia, iniciando uma guerra que não só criou uma crise humanitária mas também teve notáveis impactos econômicos com efeitos que transcendem os países envolvidos no conflito armado: em particular, a guerra está acelerando a rota da Europa rumo a uma recessão.

O conflito deixou mais de 6 milhões de refugiados, mais de 5 mil civis mortos e uma crise global, a segunda em menos de dois anos desde que a pandemia de covid-19 foi declarada.

No nível econômico, o aumento dos preços das commodities e de energia, seu impacto na inflação e no comércio global e a resposta dos bancos centrais para conter o aumento do custo de vida levaram as principais agências multilaterais a apresentar um panorama sombrio para 2022, justamente quando as economias estavam começando a se recuperar do choque da pandemia.

Por causa de sua forte dependência do gás russo, a Europa viu os preços da energia atingir níveis estratosféricos, foi atingida pelo declínio da confiança do consumidor e viu a moeda comum da União Europeia perder força em relação ao dólar - para o menor patamar da história.

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Os sinais de recessão estão cada dia mais fortes e, nesse contexto, a Bloomberg Línea compilou dados para gerar 10 gráficos que mostram o impacto da guerra no continente.

1. Custos de energia nas alturas

Em 2021, a Rússia forneceu quase 40% do gás natural recebido pela Europa, principalmente por meio do gasoduto Nord Stream. Após as sanções pelos Estados Unidos e pela União Europeia à Rússia, os fluxos para a região se tornaram o centro das atenções, com reduções acentuadas que chegam a ser totais (a Rússia argumenta que são necessárias para a manutenção) e países que se recusam a pagar Moscou por medo de infringir as sanções.

No início da semana que passou, o contrato holandês de referência aproximou-se de US$ 280, pois os governantes alertaram ao povo de que o próximo inverno será difícil diante da necessidade de economizar energia. Os receios aumentaram nos últimos dias, pois espera-se que a Rússia interrompa os fluxos para a Europa entre 31 de agosto e 2 de setembro por trabalhos de manutenção não programados.

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2. Indústria em queda

A atividade econômica na área do euro, medida pelo PMI (o Índice de Gerentes de Compras) de manufatura, caiu pelo segundo mês consecutivo. De acordo com Andrew Harker, economista da S&P Global, os dados apontam para uma contração real da economia no terceiro trimestre.

O declínio na produção está sendo observado em diversos setores, desde materiais básicos e automóveis até o turismo e o setor imobiliário, à medida que a fraqueza econômica se torna mais ampla”, disse ele.

David Powell, economista sênior da Bloomberg Economics, foi mais longe, alertando que os dados sugerem que a economia está “deslizando para a recessão sob o peso do aumento dos custos de energia, e o pior provavelmente ainda está por vir”.

3. Inflação dispara

Ainda que a atividade econômica desacelere, o que em tese alivia a pressão exercida pela demanda, os preços continuam pressionando a inflação. O alto valor das commodities, impulsionado em parte pela interrupção dos suprimentos devido à guerra na Ucrânia e as sanções, afetou o custo dos alimentos e principalmente da energia.

A inflação na zona do euro atingiu 8,9% na taxa anualizada em julho, a mais alta de sua história, impulsionada pelo aumento da energia e dos alimentos frescos A taxa é mais de quatro vezes a meta de 2% do Banco Central Europeu (BCE).

O mesmo comportamento foi observado no Reino Unido, onde a inflação aumentou 10,1% na taxa anual, o maior aumento de preços desde 1982, segundo a agência nacional de estatísticas.

4. Aumento do custo do dinheiro

Diante da inflação implacável, os bancos centrais hesitaram em agir, mas acabaram sendo obrigados a fazê-lo. Em julho, o Banco Central Europeu elevou sua taxa de juros em 50 pontos base, para zero, no primeiro aumento em 11 anos e o maior desde 2000.

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“O conselho considerou adequado dar um primeiro passo mais largo na normalização da política monetária”, disse Christine Lagarde, presidente do BCE, no anúncio da decisão.

A ata dessa reunião, divulgada na semana que passou, sinalizou mais uma alta de 50 pontos base em setembro. “Considerando as pressões inflacionárias generalizadas, nosso cenário base é a de grande aumento”, disse antes da divulgação da ata Maeva Cousin, economista sênior da Bloomberg Economics, em um reflexo da visão de boa parte do mercado.

5. Juros mais altos no Reino Unido também

O Banco da Inglaterra (BoE) não ficou atrás na luta contra a inflação, uma vez que dezenas de bancos centrais em todo o mundo já elevaram sua taxa de referência. No início do mês, a autoridade monetária britânica aumentou sua taxa de juros em 50 pontos base, chegando a 1,75%, o maior aumento desde 1995.

“Trazer a inflação de volta à meta de 2% continua sendo nossa prioridade absoluta. Sem exceções”, disse o presidente do BoE, Andrew Bailey, em uma coletiva de imprensa.

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6. Euro depreciado em nível inédito

Enquanto a economia contrai e a inflação continua aumentando, o euro (EUR) perdeu valor em relação ao dólar a ponto de cair abaixo da paridade com a moeda em níveis não vistos desde que entrou em circulação. No início da semana, a moeda comum caiu para uma nova mínima de duas décadas com a persistência de receios de uma recessão.

A queda é apenas o início de um declínio mais profundo da moeda, segundo estrategistas consultados pela Bloomberg News. Por exemplo, o Morgan Stanley (MS) projeta que o euro cairá para US$ 0,97 neste trimestre, um nível não visto desde o início dos anos 2000.

7. Consumidor é impactado

Todos esses números acima citados se refletem no sentimento do consumidor com a economia. Embora o indicador mensal da Comissão Europeia tenha melhorado em agosto, ele ainda permanece em níveis mais baixos do que os aferidos durante a pandemia.

8. E o PIB da Europa crescerá menos

Além da confiança mais baixa do consumidor, as agências multilaterais também previram uma queda no crescimento econômico da União Europeia e da Zona do Euro. O Fundo Monetário Internacional (FMI) previu em abril que a economia da zona do euro cresceria 2,8% neste ano, mas a atualização desse índice estima uma desaceleração para 2,6%.

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O golpe seria ainda maior no próximo ano, quando o PIB da região cresceria apenas 1,2%, menos que os 2,3% estimados em abril. Embora na época do relatório os números não apontassem para uma recessão, as autoridades do FMI advertiram que o cenário poderia piorar cada vez mais se as sanções contra a Rússia continuassem atingindo as economias europeias.

9. Economia pode até se contrair

Com todo esse desempenho, as chances de uma recessão na Europa só aumentaram. Segundo um índice da Bloomberg News, há uma chance de 55% de que isso aconteça na zona do euro, um número não visto desde 2020, quando as economias ainda estavam navegando na incerteza da pandemia.

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Esse cenário colocaria mais tensão sobre o Banco Central Europeu, que terá que avaliar se deve continuar aumentando as taxas de juros às custas do crescimento econômico. “O aumento da sensibilidade ao crescimento não significa que a normalização da taxa esteja completamente descartada”, disse Greg Fuzesi, economista do JPMorgan (JPM), em um relatório para clientes visto pela Bloomberg News. “O BCE terá que tomar decisões muito difíceis.”

10. Custos sociais enormes também

Mas, além dos dados econômicos, a guerra na Ucrânia também deixa uma crise humanitária. Estatísticas compiladas pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) estimam que há 6,6 milhões de refugiados ucranianos em toda a Europa, que tiveram que deixar seu país para escapar das bombas da invasão russa.

Países vizinhos, incluindo a Rússia, acolheram muitos ucranianos, mas centenas de milhares também estão espalhados pelo continente. Uma pesquisa liderada pelo ACNUR mostrou que a maioria das pessoas afetadas são mulheres e que 80% dos entrevistados disseram ter sido separados de outros membros da família.

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Em 22 de agosto, o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos registrava 13.477 vítimas civis no país como efeito dos seis meses de guerra: 7.890 feridos e 5.587 mortos, incluindo 175 crianças.

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Carlos Rodríguez Salcedo (BR)

Jornalista colombiano, especializado em economia. Fui jornalista e editor do jornal La República, com experiência em questões macroeconômicas, comerciais e financeiras. Eu também trabalhei para a agência de notícias Colprensa.