Por que as projeções para o PIB de 2022 não param de subir

Economistas do mercado agora preveem um segundo semestre mais aquecido, impulsionado pela liberação de benefícios sociais e por cortes de impostos

Programas sociais e corte de impostos devem impulsionar a economia no segundo semestre
22 de Agosto, 2022 | 10:47 AM

Bloomberg Línea — Economistas do mercado financeiro passaram a prever um cenário mais positivo para a economia brasileira em 2022 do que o projetado anteriormente. Se no fim do ano passado, a expectativa era de uma estagnação ou até uma recessão, agora bancos e consultorias avaliam que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro poderá encerrar o ano com alta de 2% ou mais.

De acordo com o relatório Focus, do Banco Central, divulgado nesta segunda-feira (22), a mediana das expectativas dos analistas do mercado financeiro está em 2,02%. As projeções vêm crescendo desde março, quando a expectativa era de um crescimento de apenas 0,3% neste ano.

Algumas instituições, como o Bank of America Merrill Lynch (BofAML), projetam uma expansão ainda mais forte, de até 2,5%. O banco americano revisou sua estimativa na semana passada, citando resultados mais positivos do que o esperado do setor de serviços, da indústria e do varejo no segundo trimestre. Antes, a estimativa do BofAML era a de alta de 1,5%.

“Praticamente todos os componentes da atividade econômica surpreenderam pelo lado positivo: produção industrial, serviços e vendas no varejo ficaram acima do esperado no primeiro semestre de 2022″, escreveu David Beker, economista-chefe do banco para o Brasil, em relatório divulgado a clientes.

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Impulso do setor de serviços

O crescimento do setor de serviços já era esperado no primeiro semestre, com a retomada do consumo das pessoas em restaurantes, bares, agências de viagem, consultórios médicos, transporte etc.

De acordo com a Pesquisa Mensal de Serviços, do IBGE, o volume de serviços prestados subiu 6,3% em junho sobre o mesmo mês do ano passado e acumula alta de 11,7% em 12 meses. O crescimento é impulsionado pelos serviços prestados às famílias, que tiveram expansão anual de 34,7%.

Se por um lado essa atividade mais forte dos serviços era prevista para o primeiro semestre, por outro, havia a expectativa de uma desaceleração da economia na segunda metade do ano diante de um cenário de juros altos, inflação ainda elevada (embora desacelerando) e uma eleição presidencial turbulenta trazendo incertezas para empresas e investidores.

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O que mudou essa visão foram as medidas de estímulo fiscal adotadas pelo governo, com apoio do Congresso, que causaram um efeito reverso na inflação – reduzindo especialmente os preços de energia elétrica e de combustíveis – e devem despejar um montante de R$ 338 bilhões na economia (cerca de 3,5% do PIB) por meio de benefícios fiscais, como o Auxílio Brasil a R$ 600 e a bolsa-caminhoneiro, e desonerações fiscais.

As medidas tendem a favorecer o consumo das famílias e o crescimento dos serviços, além de impulsionar o crédito, estimulando a economia nos próximos meses. A redução dos preços da gasolina e da energia elétrica também ajuda a incentivar o consumo, uma vez que as famílias podem usar a folga no orçamento doméstico para consumir outros produtos.

Por isso, a expectativa é a de um aquecimento maior do que o esperado também no terceiro e no quarto trimestre do ano. “Nós já tínhamos uma expectativa mais positiva em relação ao terceiro trimestre, mas o que estamos vendo agora, e considerando essas medidas [de estímulo fiscal], é que é bem provável que o resultado fique acima do esperado”, disse Rodrigo Nishida, economista da consultoria LCA. “Tem um viés positivo até para a nossa projeção de PIB, que é um pouco superior a 2%.”

O economista afirmou que a projeção atual da consultoria é a de um crescimento trimestral de 0,2% do PIB no terceiro trimestre (2,8% na comparação interanual), mas a tendência é que seja revisada para cima, diante dos últimos resultados de atividade econômica e a liberação dos recursos pelo governo.

Cenário nebuloso para 2023

Um ponto de incerteza, segundo os especialistas, é o cenário global. A expectativa de um aperto ainda maior nos juros nos Estados Unidos por parte do Federal Reserve, e uma desaceleração da economia mundial, incluindo da China, tendem a ter reflexos no Brasil, afetando a atividade de alguns setores importantes ligados ao setor externo. A queda dos preços de commodities, especialmente soja, minério de ferro e petróleo, pode afetar as exportações, por exemplo.

Além disso, o crescimento impulsionado pelas medidas fiscais tem data para acabar em 31 de dezembro, uma vez que boa parte dos benefícios deixa de ser paga no fim do ano se o Congresso não chegar a um consenso sobre tornar o benefício de R$ 600 do Auxílio Brasil permanente a partir de 2023.

“2023 é o primeiro ano de um novo governo. Geralmente é um ano de ajustes, de reformas e, provavelmente, a discussão fiscal deve ganhar mais importância. E teremos uma situação monetária mais apertada, com o aumento dos juros”, afirmou Nishida.

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Filipe Serrano

É editor da Bloomberg Línea Brasil e jornalista especializado na cobertura de macroeconomia, negócios, internacional e tecnologia. Foi editor de economia no jornal O Estado de S. Paulo, e editor na Exame e na revista INFO, da Editora Abril. Tem pós-graduação em Relações Internacionais pela FGV-SP, e graduação em Jornalismo pela PUC-SP.