Recessão é inevitável e juro alto ficará por mais tempo, diz Lawrence Summers

Para o ex-secretário do Tesouro dos EUA, um ‘soft landing’ não deve ser mais esperado e Fed terá que elevar as taxas acima do que o mercado precifica

Economista norte-americano e ex-secretário do Tesouro dos EUA participou de painel da Expert XP 2022 nesta quinta-feira (4)
04 de Agosto, 2022 | 02:03 PM

Bloomberg Línea — Com as variações de preços persistentemente altas, economia e mercado de trabalho aquecidos, uma recessão é inevitável e fundamental para conseguir colocar a inflação de volta nos trilhos. A avaliação é de Lawrence Summers, economista e ex-secretário do Tesouro dos Estados Unidos.

“Quando temos uma inflação muito alta e um mercado de trabalho apertado, só tem uma forma de mudar o cenário: trazer a inflação para baixo. E posso estar errado, mas estou confiante de que teremos uma recessão nos próximos 18 meses”, afirmou em painel do evento Expert XP nesta quinta-feira (4).

Segundo ele, um “soft landing” não é esperado e uma recessão nos Estados Unidos e na Europa com consequências para a economia global é “muito provável”. Soft landing é a expressão que designa trazer a inflação para baixo desacelerando a economia de forma gradual, suave.

A avaliação de Summers é a de que o aperto monetário nos EUA deverá ser maior do que o mercado está precificando e que isso não acontecerá sem danos à economia.

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O cenário, contudo, será diferente do visto na chegada da pandemia de covid-19, na crise financeira de 2008, bem como na crise da dívida externa latino-americana na década de 1980, afirmou. “Será uma queda significativa, com a taxa de desemprego nos EUA excedendo os 6%.”

O economista se considerou menos confiante na estratégia do Federal Reserve, o banco central dos EUA, e questionou o tamanho do aperto monetário antes de o país entrar efetivamente em uma recessão, cuja duração ainda permanece uma incógnita.

“É mais fácil acreditar no que o Fed acredita, que é que vai conseguir trazer a inflação de volta aos 2% sem aumentar os juros para mais de 3,25% e fazer isso sem que a taxa de desemprego fique acima de 4%”, disse.

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“Mas não acredito que o Fed vai conseguir reduzir a inflação sem subir substancialmente os juros e sem que isso cause uma desaceleração. Não há nenhuma teoria econômica nem nenhum histórico que suporte essa visão”, disse.

Para Summers, as taxas de juros deverão ficar mais altas do que o esperado pelo mercado. “Se pensarmos que o motivo de termos uma recessão é porque é uma parte necessária no processo de redução da inflação, então se a economia tem se mostrado mais resistente, precisamos apertar ainda mais o freio.”

O cenário implica ainda um grande risco de estagflação à frente, segundo ele. “Quanto menor tempo de recessão tivermos, maior é o risco de uma estagflação nos próximos dois a três anos.”

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.