Gestora com US$ 7 bilhões busca pechinchas no Brasil e no Reino Unido

Apesar das preocupações com política e fiscal, não há problema em “correr esses riscos” quando já estão no preço, defende a gestora

Capacidade das empresas brasileiras de prosperar apesar de um cenário macro volátil deve contrabalançar o impacto negativo das altas taxas de juros
Por Vinícius Andrade
25 de Julho, 2022 | 04:02 PM

Bloomberg — Ações de empresas pagadoras de dividendos se destacarão à medida que o Federal Reserve aperta as condições monetárias, com oportunidades no Reino Unido e no Brasil, de acordo com Rupal Bhansali, diretora de investimentos de ações globais da Ariel Investments.

Os dois países “nos parecem especialmente desfavorecidos e baratos, e oferecem boas oportunidades para caçar pechinchas”, disse ela, que supervisiona cerca de US$ 7 bilhões na gestora em Nova York, em entrevista. “Tenho favorecido ações com alto rendimento de dividendos em setores que têm modelos de negócios resilientes e balanços sólidos.”

Bhansali está “muito underweight” (com exposição abaixo da média do índice de referência) nos Estados Unidos, onde o mercado de ações está “supervalorizado”, enquanto a Europa é atualmente sua maior exposição. Empresas farmacêuticas como Roche, Sanofi e GSK estão entre suas principais escolhas, disse ela.

“Muitas inovações no setor de saúde passaram despercebidas, como curas terapêuticas revolucionárias para doenças crônicas e o aumento da cirurgia robótica”, disse Bhansali. “O setor oferece a combinação de inovação e crescimento, mas também com lucratividade superior.”

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Algumas das carteiras que Bhansali administra têm uma exposição à América Latina de “um dígito alto”, mesmo em um momento em que a região enfrenta alta volatilidade política. A gestora tem favorecido nomes fora do setor de commodities, especialmente no Brasil. Há dois anos, apenas 1% de seu porfólio estava em empresas latino-americanas.

“As pessoas estão muito preocupadas com a política e a situação fiscal no Brasil. Isso não quer dizer que eu não esteja, mas quando o risco já está no preço, não há problema em correr esse risco”, disse ela. “A volatilidade política que pode se seguir nos próximos meses pode criar oportunidades e queremos estar prontos, caso isso aconteça.”

Nas pesquisas de opinião para as eleições presidenciais em outubro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está à frente do titular Jair Bolsonaro até agora. Lula propôs uma possível revisão das recentes reformas econômicas, enquanto Bolsonaro acelerou os gastos públicos ao buscar aumentar os índices de aprovação antes da votação.

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“Os déficits fiscais mais altos estão aqui para ficar e, infelizmente, os mecanismos de controle do sistema foram removidos, o que é problemático”, disse Bhansali.

Ainda assim, a capacidade das empresas brasileiras de prosperar apesar de um cenário macro volátil deve contrabalançar o impacto negativo das altas taxas de juros, que tornam os produtos de renda fixa mais atraentes no mercado local, disse.

Uma taxa Selic a 13,25% “levou a resgates na índustria de gestão de recursos local, forçando muitos fundos a venderem”, disse Bhansali. “Mas, em última análise, quando o mercado fica muito barato, investidores estrangeiros como nós aparecerão.”

“Os valuations em geral estão tão caros ao redor do mundo que eu espero ver uma década perdida em relação a performance das bolsas”, disse Bhansali. “No passado, sempre que tivemos uma década perdida, os dividendos tendiam a desempenhar um papel muito importante na entrega de retornos totais”, disse ela, citando ciclos que começaram em torno de 1969 e 2001.

Oportunidades no Brasil podem emergir em setores incluindo varejo, financeiro e transportes, segundo ela. BB Seguridade (BBSE3) é um dos nomes que já estão na sua carteira, oferecendo uma combinação de crescimento de lucros, dividendos altos e uma forte posição de capital. Fora do Brasil, Bhansali gosta de Peru e Chile, enquanto o México está “um pouco caro demais” nos níveis atuais.

O índice MSCI ACWI caiu 19% desde seu pico em novembro em meio a temores de que os bancos centrais serão mais agressivos no combate à inflação, mesmo que a escalada de juros jogue a economia em uma recessão. Essas preocupações levaram a casas como o Citigroup (C) a recomendar que seus clientes favoreçam nomes defensivos em países como o Reino Unido.

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