Bloomberg — Muito se fala sobre a crise de ESG. Na melhor das hipóteses, os críticos consideram que a estratégia de investimento está em uma encruzilhada; na pior das hipóteses, julgam que a preferência implacável de Wall Street pela sobrevivência das espécies condenou a estratégia desde o início.
Aproximadamente US$ 2,7 trilhões estão alocados em fundos que afirmam focar em riscos financeiros ligados ao meio ambiente, questões sociais e governança corporativa, ou ESG. Embora os investidores já estivessem céticos com todos os exemplos espetaculares de marketing e greenwashing escrachado, o mercado em baixa deste ano gerou maior escrutínio de uma das promessas financeiras de ESG: que a estratégia ajuda a limitar perdas em períodos de baixa.
Os órgãos reguladores estão circulando, investidores estão começando a fugir dos fundos rotulados como ESG, e os políticos (e até mesmo alguns bilionários) estão questionando a relevância do setor. Analistas do Credit Suisse (CS) afirmaram que a possibilidade de saídas de ativos é “um risco real” no segundo semestre, principalmente com os aumentos nas taxas de juros pelo mundo.
Mas nem todos acreditam que ESG é passado. De fato, algumas pessoas enxergam o lado bom dessa prova de fogo de ESG.
Todd Cort, professor da Universidade de Yale, e Georg Kell, presidente de gestão de ativos do Arabesque, escreveram em um artigo de opinião publicado pelo Barron que o debate sobre “a validade de ESG não anuncia o fim do investimento em ESG, mas sim uma transição para uma grande melhoria”.
Cort reiterou que o ESG não vai a lugar algum. A combinação de mudanças regulatórias e tecnológicas, o impacto da crise climática e as normas sociais em evolução tornarão os fatores de ESG ainda mais relevantes nos futuros valuations do mercado, disse ele em entrevista.
Embora seja difícil avaliar a ligação entre ESG e desempenho financeiro no curto prazo, é possível fazê-lo no longo prazo, pois a não descarbonização das operações de empresas causará um “dano enorme e possivelmente irreversível”, escreveram Cort e Kell em seu artigo.
Além disso, há um perigo real de que a atual retaliação contra o ESG atrase o movimento de capital em direção a investimentos mais sustentáveis, justamente quando esse dinheiro é mais urgente, disseram eles.
Um relatório divulgado em fevereiro pelos melhores cientistas climáticos do mundo certamente trouxe um panorama deprimente. A velocidade do aquecimento global excede em muito o ritmo dos esforços para proteger bilhões de pessoas vulneráveis. As consequências são pavorosas, incluindo um aumento nas doenças e mortes relacionadas ao calor e nas doenças infecciosas e transmitidas por alimentos.
Muitas empresas estão desenvolvendo modelos de negócios “mais inteligentes, limpos e ágeis” para enfrentar a crise climática, e a adesão ao ESG terá um papel central na transição energética, disse Cort, que é codiretor da faculdade do Centro de Negócios e Meio Ambiente de Yale e da Iniciativa Yale sobre Finanças Sustentáveis.
Ele destacou três empresas pelo que descreveu como capacidades de ESG de sucesso: a Hannon Armstrong Sustainable Infrastructure Capital, a Unilever (UL) e a Natura (NTCO3).
A Hannan Armstrong se beneficiará de sua relação com o setor de energia solar que prosperará com os subsídios governamentais à medida que os países tomam medidas para melhorar a infraestrutura energética, disse Cort.
A Unilever é conhecida mundialmente por suas marcas de bens de consumo sustentáveis, ao passo que a Natura é incomparável entre as empresas de países não-membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico por ter sistemas sólidos gestão de risco empenhados em enfrentar os desafios de ESG, disse.
“Embora a possível desaceleração do capital no curto prazo não seja grande considerando a necessidade da sociedade, ela permitirá que o mercado esclareça e foque nos aspectos de ESG financeiramente relevantes no longo prazo”, disse Cort.
--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.
Veja mais em Bloomberg.com
Leia também
Os principais pontos da PEC de R$ 41,2 bilhões que amplia benefícios sociais
Por que investidores ainda estão otimistas com startups da América Latina
© 2022 Bloomberg L.P.