País da América do Norte é o maior mercado da Nike
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Bloomberg Opinion — A queda no faturamento da Nike (NKE) na China vem chamando a atenção. Mas é a desaceleração na América do Norte que deve preocupar os investidores.

Na segunda-feira (27), a maior empresa de artigos esportivos do mundo registrou queda de 20% no faturamento (excluindo os movimentos cambiais) da Grande China no trimestre encerrado em 31 de maio, já que as interrupções relacionadas à covid afetaram 60% de seus negócios no país.

Mesmo quando a Nike anunciou um novo programa de recompra de ações no valor de US$ 18 bilhões por quatro anos, a empresa disse que esperava que o faturamento aumentasse em um percentual de dois dígitos este ano e que sua margem bruta ficasse estável a 0,5 ponto percentual, refletindo o impacto das restrições na China.

A receita proveniente da América do Norte caiu inesperadamente em 5% no quarto trimestre fiscal da empresa. As vendas de calçados caíram 6%, e as de vestuário caíram 5%. Embora isto se compare com o período de um ano atrás em que o faturamento de vestuário esportivo estava lento, a queda é preocupante, principalmente porque a América do Norte é o maior mercado da Nike – o faturamento representa cerca de 40% da receita total no ano fiscal de 2022.

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A queda poderia refletir os orçamentos dos clientes limitados por preços mais altos de alimentos e combustíveis, bem como a ausência dos pagamentos de estímulo econômico que impulsionaram os gastos há um ano. A mudança de vestuário casual esportivo – chamado athleisure – para as roupas mais formais para a volta aos escritórios também não ajudou.

Os estoques de produtos da Nike também cresceram em 23%, chegando a US$ 8,4 bilhões no final de maio, elevados por mercadorias que ainda estavam em trânsito. A empresa espera mais descontos neste ano fiscal – voltando as promoções ao normal depois de chegar a níveis muito baixos no ano passado. Mas também está se preparando para aumentar os preços.

Analistas da GlobalData sugerem que alguns dos fatores que impulsionaram a demanda de tênis entre os consumidores mais jovens, como ganhos com criptomoedas e tokens não fungíveis (NFTS), podem estar começando a desandar. E a estratégia da Nike de se tornar uma gigante de artigos para ostentação através da venda mais direta aos consumidores e menos através de varejistas, também pode estar agravando a situação.

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No entanto, seguir a estratégia de luxo é o mais correto. Quando os produtos estão disponíveis apenas nas lojas, site ou aplicativo da Nike, não há nenhum risco de que estejam disponíveis com desconto em outros locais. A Nike disse que sua estratégia de venda direta ao consumidor estava aumentando sua margem bruta, embora isso fosse compensado por custos de transporte elevados e mais descontos.

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Contudo, vale a pena monitorar alguns riscos. Algumas varejistas que tiveram fornecimento reduzido pela Nike podem ter de preencher suas prateleiras com produtos de outras marcas. A loja de calçados Foot Locker receberá acesso exclusivo à coleção de calçados de basquete da Reebok e anunciou recentemente uma parceria de longo prazo com a rival da Nike, a Adidas. Isso é uma ameaça para as vendas da Nike, principalmente à medida que o momento fica mais difícil e os consumidores se preparam para buscar preços melhores.

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As ações da Nike acumulam queda de cerca de 34% este ano. Para interromper a queda, é preciso mostrar que a China, que representou 16% da receita de 2022, está voltando à ativa. Com Pequim e Xangai relatando a inexistência de novas infecções locais de covid no início da semana e o país reduzindo pela metade o tempo de quarentena para os viajantes que chegam ao país, há esperança de um melhor desempenho dos negócios chineses no final deste ano civil.

Mas o gigante de artigos esportivos também precisa demonstrar que a demanda nos Estados Unidos está se mantendo com a aproximação das épocas de volta às aulas e de compras de fim de ano. À medida que os consumidores cortam o que não é essencial, isso parece ser um desafio muito maior.

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Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Andrea Felsted é colunista da Bloomberg Opinion e escreve sobre os setores de varejo e bens de consumo. Anteriormente, escrevia para o Financial Times.

--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.

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