Bloomberg — O presidente Jair Bolsonaro buscará apoio dos Estados Unidos para financiar programas de proteção da floresta amazônica durante uma reunião com Joe Biden nesta quinta-feira (9). Será um raro ponto de entendimento entre dois líderes que raramente estão de acordo.
O apoio à floresta amazônica e para a democracia na América Latina deve ser um tema chave em pauta, já que Biden e Bolsonaro se encontram paralelamente à Cúpula das Américas, realizada em Los Angeles. O presidente brasileiro é um populista combativo e de direita que se alinhou com o ex-presidente Donald Trump; Biden, por sua vez, procura garantir os compromissos de uma cúpula com participação limitada de outros líderes.
Os presidentes não se reuniram nem falaram por telefone desde a posse de Biden. Enquanto concorria à presidência em setembro de 2020, Biden se comprometeu a liderar uma coalizão de grandes economias, prometendo US$ 20 bilhões para que o Brasil parasse com o desmatamento da Amazônia, a maior floresta tropical do mundo. Na época, Bolsonaro taxou os comentários de desrespeitosos, mas desde então seus ministros do Meio Ambiente vêm pedindo o dinheiro.
Tanto autoridades americanas quanto brasileiras disseram que o clima, a floresta amazônica e as instituições democráticas serão abordados na reunião, o que Bolsonaro zombou ao expressar dúvida sobre a vitória eleitoral de Biden.
“Estamos preparados para propor muitas coisas para ajudar países como o Brasil a proteger a Amazônia de mais desmatamento”, disse o Conselheiro de Segurança Nacional Jake Sullivan aos repórteres a bordo do Air Force One na quarta-feira (8), quando Biden voou para a cúpula. “O clima será um tema importante, e acreditamos que pode ser uma área de progresso no relacionamento entre os EUA e o Brasil, principalmente para ações concretas e tangíveis para proteger a Amazônia”.
Os países têm explorado alternativas para direcionar fundos privados através de programas apoiados pelos EUA como uma forma de abordar a outra promessa de US$ 20 bilhões, disseram autoridades brasileiras, falando sob condição de anonimato antes do encontro. Sullivan não deu detalhes sobre o que os EUA ofereceriam.
O desmatamento da Amazônia é um problema contínuo no Brasil, mas aumentou no governo Bolsonaro, alcançando seu nível mais alto em 15 anos em 2021, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
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Desde sua posse em 2019, Bolsonaro entrou em conflito com a comunidade internacional por suas controversas políticas ambientais, reduziu a aplicação das leis ambientais, pressionou a abertura de terras indígenas à mineração comercial e questionou os dados de desmatamento do próprio governo. Como a pressão dos investidores estrangeiros e dos governos se acumulou em seu governo, ele mudou de estratégia e começou a chamar o setor privado para ajudar a proteger a Amazônia.
Bolsonaro nunca escondeu sua admiração por Trump e esteve entre os últimos líderes mundiais a parabenizar Biden após sua posse. A reunião é uma oportunidade para melhorar seu relacionamento e mostrar que o Brasil continua tendo boas relações institucionais com os EUA, disseram as autoridades brasileiras.
Apoio à democracia
Bolsonaro também terá o prazer de assinar uma declaração de apoio à democracia na América Latina, a qual autoridades brasileiras disseram não conter qualquer menção ao próprio processo eleitoral brasileiro – assunto quente no país desde que o presidente começou a alegar que o sistema de votação eletrônica do país está sujeito a fraude.
O apoio do Brasil à democracia na região se tornou ainda mais importante para Biden depois que Andrés Manuel Lopez Obrador, do México, decidiu se ausentar da cúpula em Los Angeles a menos que todos os líderes da região fossem bem-vindos. Os EUA se recusaram a convidar Cuba, Venezuela e Nicarágua para a cúpula, alegando que não consideram seus governos democráticos, um tópico de total convergência com a posição do Brasil.
Biden e Bolsonaro discutirão “eleições democráticas abertas, livres, justas e transparentes” em sua reunião, disse Sullivan. “Não há tópicos fora dos limites de nenhum acordo do presidente, inclusive com o presidente Bolsonaro”.
Bolsonaro havia inicialmente considerado se ausentar da cúpula para focar em sua campanha de reeleição e porque estava frustrado com a decisão de Biden de fazer da migração um tópico importante, de acordo com dois funcionários. Ele acabou mudando de ideia após ser pessoalmente convidado pelo ex-senador americano Christopher Dodd, enviado especial da Casa Branca, que viajou para Brasília para se encontrar com o líder.
Desde então, funcionários americanos e brasileiros têm trabalhado em uma agenda bilateral que inclui cooperação comercial, bem como financiamento de projetos de energia limpa e mineração, e em particular um dos projetos de estimação de Bolsonaro: a exploração do nióbio, que combinado com outros metais pode produzir ligas mais fortes e leves.
Além disso, a Bolsonaro pode solicitar à Biden a eliminação das restrições às remessas de aço brasileiro impostas por Trump em 2019, de acordo com um alto funcionário governamental familiarizado com o assunto.
--Com a colaboração de Jordan Fabian.
--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.
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