Como a dança das cadeiras na Petrobras afeta a disputa eleitoral

Em mais uma tentativa de conter os aumentos nos preços dos combustíveis e evitar mais uma greve geral, presidente trocou liderança da estatal

Troca na liderança da Petrobras deve representar perspectiva de melhoria para população
Por Simone Iglesias e Daniel Carvalho
25 de Maio, 2022 | 04:54 PM

Bloomberg — A decisão de Jair Bolsonaro de demitir um terceiro CEO da Petrobras (PETR4; PETR3) mostra o quanto é crucial para o presidente evitar outro aumento nos preços dos combustíveis que poderia matar suas chances de reeleição em outubro.

A inflação acima de 12% ao ano se tornou a principal dor de cabeça de Bolsonaro durante a corrida liderada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Enquanto os preços de tudo sobem – de alimentos a saúde – o combustível ficou desproporcionalmente mais caro desde que a estatal aumentou os custos do diesel em cerca de 35% desde março – enfurecendo os brasileiros em geral e, em particular, os caminhoneiros que desde então ameaçaram fazer greve geral.

Os eleitores sabem que a Petrobras é controlada pelo governo e isso está tendo um forte impacto em Bolsonaro”, disse Carolina Botelho, cientista política da Universidade Mackenzie, no Rio de Janeiro. “É por isso que ele está fazendo essas mudanças na Petrobras, para parecer que a vida vai melhorar para os brasileiros.”

A intenção de voto para o presidente de direita, que vinha se aproximando de Lula, se estabilizou em 32% na última pesquisa do Ipespe realizada entre 16 e 18 de maio, ainda 14 pontos percentuais atrás do favorito. A mesma pesquisa mostrou que mais brasileiros atribuem a alta dos custos de combustível ao presidente do que à invasão da Ucrânia pela Rússia. E 64% deles esperam que os preços continuem subindo nos próximos meses.

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Outra pesquisa divulgada pelo PoderData nesta quarta-feira (25) confirmou que Bolsonaro parou de ganhar terreno e permaneceu com 35% dos votos, contra 43% de Lula.

Combustível lidera lista, seguido de alimentos e moradiadfd

A decisão de Bolsonaro de substituir o chefe da Petrobras, descrita pelo jornal O Estado de S. Paulo como o primeiro passo antes de mudar a diretoria da empresa e sua política de preços, é apenas a mais recente de uma série de medidas inusitadas que estão sendo implementadas ou consideradas pelo presidente para aliviar a inflação no período que antecede as eleições.

O Ministério da Economia anunciou na segunda-feira (23) uma redução unilateral de 10% nas tarifas de importação de uma série de alimentos e materiais de construção, sem consultar membros do Mercosul, que também inclui Argentina, Paraguai e Uruguai.

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O governo já cortou os impostos sobre os combustíveis e agora está tentando aprovar uma legislação que limitaria em 17% o ICMS cobrado pelos estados sobre uma série de bens e serviços. O projeto de lei que propõe esse limite – e que enfrenta a oposição dos governadores estaduais – deve ir a votação no plenário da Câmara nesta semana, antes de seguir para o Senado. Alguns estados, como o Rio de Janeiro, aplicam atualmente uma alíquota de ICMS de 34% sobre as vendas de gasolina.

A aprovação do projeto de lei reduziria a inflação do ano em cerca de um ponto percentual, segundo o JPMorgan Chase (JPM). Isso seria apenas um alívio temporário para o banco central, que já elevou os custos de empréstimos em 10,75 pontos percentuais desde o ano passado, elevando a taxa básica de juros para 12,75%. Roberto Campos Neto, presidente do BC, disse que o Brasil sofreu o maior choque energético entre os principais países emergentes desde o início da pandemia.

O Rio de Janeiro, por exemplo, aplica atualmente uma alíquota de ICMS de 34% sobre as vendas de gasolinadfd

“Essas medidas podem oferecer algum alívio de curto prazo nos principais preços. Para o combustível, elas podem adiar um aumento de preço há muito esperado”, disse Adriana Dupita, economista da Bloomberg Economics. “No entanto, elas não remediam a questão da inflação galopante e generalizada nem a perspectiva de desinflação lenta.”

O ministro da Economia, Paulo Guedes, até agora evitou a pressão para bancar os subsídios aos combustíveis ao apoiar as mudanças no comando da Petrobras e defender a ideia de que ela deveria reajustar seus preços com menos frequência.

“O novo CEO da Petrobras precisa dizer se os preços vão parar de subir e se há risco de falta de combustível”, disse Wallace Landim, um dos líderes da grande greve de caminhoneiros que paralisou o Brasil em 2018. “Essa política de preços da Petrobras está esmagando a classe média e deixando os pobres ainda mais pobres.”

--Com a colaboração de Maria Eloisa Capurro.

--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.

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