Covid e discórdia no poder: Líderes da China expõem opiniões divergentes

Discordância entre primeiro-ministro e presidente da China geram suspeitas de que alta administração do país está dividida no manejo da pandemia

Pequim ainda defende estratégia Covid Zero, que impôs lockdowns pelo país
Por Bloomberg News
10 de Maio, 2022 | 12:21 PM

Bloomberg — O aviso do primeiro-ministro chinês Li Keqiang sobre a situação “complicada e grave” do emprego no sábado (7) foi particularmente sombria, mesmo para alguém que faz o alerta há meses. Mas também foi notável por outro motivo: não mencionou a estratégia Covid Zero do presidente Xi Jinping.

Apenas alguns dias antes, o Comitê Permanente do Politburo – do qual Xi e Li fazem parte – avisou aos cidadãos chineses que não questionassem as políticas de controle da covid que estabeleceram lockdowns em cidades por todo o país, incluindo Xangai. Essa declaração, por sua vez, não continha nenhuma menção à economia.

Além de confundir as autoridades locais que precisam encontrar uma maneira de eliminar o vírus e fazer a economia crescer, as mensagens cruzadas dos líderes mais poderosos da China levantam questões sobre uma possível divisão no alto escalão sobre a melhor maneira de sair da pandemia.

Qualquer diferença entre Xi e Li é examinada de perto em busca de sinais de lutas pelo poder no governo opaco da China. Os dois, que já foram considerados rivais para o cargo mais alto do país, são vistos como líderes de duas linhas distintas na formulação de políticas, com Xi representando a ala mais ideológica e Li associado a uma tradição mais tecnocrática.

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“Provavelmente é um exagero dizer que Xi e Li estão pessoalmente em desacordo, mas suas declarações representam visões divergentes dentro do sistema sobre a covid e seu impacto”, disse Richard McGregor, autor do livro The Party: The Secret World of China’s Communist Rulers. “A China está chegando ao ponto em que é necessário um debate genuíno sobre se o preço pago por mais lockdowns vale o dano econômico.”

Enquanto boa parte do mundo busca voltar ao normal à medida que as vacinas proliferam e as mortes por vírus diminuem, a China avança com a estratégia Covid Zero e equipara cada vez mais a dissidência contra a política com um ataque a Xi.

Pequim defende o sucesso do governo em frear os surtos antes que eles saiam do controle como evidência de como o modelo de governança da China é superior à democracia de estilo americano ou europeu.

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Mas a estratégia de lockdowns resultou em tensões sociais na maior cidade do país, Xangai, onde muitos de seus 25 milhões de habitantes estão sob restrições há mais de um mês. Os controles em Pequim ficaram mais apertados nos últimos dias.

Embora o Comitê Permanente não tenha mencionado equilibrar os controles de covid com o crescimento econômico, a declaração de Li enfatizou o desemprego, que subiu para 5,8% em março, o maior nível desde maio de 2020.

“Estabilizar o emprego é importante para a subsistência das pessoas”, disse Li. É “também um suporte fundamental para a economia operar dentro de um intervalo razoável”.

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