Cerveja e carros mais caros? Consumidores parecem de boa com isso

Diante de uma demanda bastante aquecida, os consumidores parecem destemidos com os preços mais altos de tudo - por enquanto

Empresas de diferentes segmentos tiveram de repassar os custos ao consumidores, diante do aumento generalizado de custos
Por Thomas Mulier e Elisabeth Behrmann
05 de Maio, 2022 | 10:28 AM

Bloomberg — Os consumidores parecem destemidos diante dos preços mais altos de tudo, desde carros de luxo a cervejas, abrindo caminho para que empresas como a Anheuser-Busch InBev (BUD) e a BMW aumentem seus lucros, apesar das ameaças econômicas que vão da inflação à guerra e ao surto de covid na China.

A InBev, a maior cervejaria do mundo, divulgou nesta quinta-feira (5) um crescimento de lucro quase o dobro do o esperado por analistas, enquanto os lucros do primeiro trimestre da BMW aumentaram 12% devido à forte demanda por carros de luxo. A receita da Stellantis, de automóveis, formada pela fusão da Fiat Chrysler e da Peugeot, saltou devido à forte demanda por novos modelos de alto padrão, como o Jeep Grand Cherokee, por exemplo.

Com os custos de muitas matérias-primas disparando em meio a gargalos, as empresas vêm testando o quanto podem aumentar seus preços após anos de uma inflação mais moderada. A invasão da Ucrânia pela Rússia exacerbou os gargalos, cortando do fornecimento de autopeças ao óleo de cozinha, enquanto a contínua política de covid zero da China reduziu a demanda e aumentou os problemas das cadeias de suprimentos.

Europa sofre o maior aumento de preços em anosdfd

A Nestlé aumentou os preços em um ritmo mais rápido em mais de uma década durante o primeiro trimestre do ano, elevando o custo de tudo, desde cápsulas de Nespresso até ração para cães, na tentativa de atenuar o impacto do aumento da inflação de alimentos em seus lucros. A Procter & Gamble e a Danone também iniciaram o ano com aumentos de preços de cerca de 5%.

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Assim como a InBev, proprietária da Budweiser, as cervejarias Heineken e o Grupo Carlsberg apresentaram um crescimento de vendas acima das estimativas dos analistas, em grande parte impulsionadas por conta dos aumentos dos preços. Até agora, os consumidores que retornaram aos bares depois das restrições da covid-19 não se intimidaram diante de preços mais altos, com os custos das matérias-primas das cervejarias, como alumínio e cevada, subindo.

Alta demanda

Até mesmo a construtora de casas do Reino Unido Barratt Developments disse nesta quinta-feira (5) que conseguiu elevar os preços o suficiente para compensar os custos mais altos dos materiais.

As montadoras aumentaram significativamente os preços após uma forte recuperação na demanda, já que a escassez de semicondutores limitou a produção de veículos. Com o número de consumidores que buscam um conjunto de novas rodas superando muito a oferta, os preços dispararam tanto para veículos novos quanto usados.

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Fabricantes como Volkswagen, BMW e Stellantis também aumentaram a produção para seus modelos mais caros, como Porsche e Audi. Esta semana, o presidente-executivo da VW, Herbert Diess, disse que a maior montadora da Europa ficou sem modelos de carros elétricos disponíveis na Europa e nos EUA por causa de gargalos de fornecimento.

Ao mesmo tempo, as montadoras também estão enfrentando um aumento de preços em tudo, desde taxas de remessa até matérias-primas básicas, uma situação que deve permanecer tensa à medida que a guerra na Ucrânia interfere na logística e na produção de componentes, além das políticas de zero covid na China, que impactam também as fábricas. Repassar esses aumentos à medida que a inflação diminui o poder de compra dos consumidores vai ser uma batalha difícil.

“Os preços dos carros ainda precisam subir de 5% a 10% e os carros elétricos mais de 10% para compensar a atual inflação de custos”, escreveram em nota analistas do Bank of America. “Dada a crescente pressão que os consumidores enfrentam, isso pode ser um grande desafio.”

Algumas empresas alertaram para as tensões emergentes. Na semana passada, a Unilever previu crescimento de receita para o ano inteiro no topo de sua previsão, embora tenha dito que a lucratividade pode sofrer à medida que os consumidores começam a reduzir suas compras. A fabricante de sabonetes Dove cobriu cerca de dois terços dos aumentos de custos que vem enfrentando diante do aumentos de preços generalizado, disse o diretor financeiro da empresa, Graeme Pitkethly.

Mas os consumidores europeus já estão à procura de preços mais moderados. Eles estão comprando roupas mais baratas à medida que a inflação reduz os orçamentos das famílias, de acordo com a Zalando, a maior varejista de moda online do continente.

– Esta notícia foi traduzida por Melina Flynn, Content Producer da Bloomberg Línea.

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