O que é uma SAF? Lei pode ‘revolucionar’ o futebol brasileiro, diz BTG

Novo sistema, aprovado em 2021, atrai investimentos para a indústria do futebol e melhora o desempenho e competitividade, disse o banco

Fama do futebol brasileiro ao redor do mundo é o que chama atenção dos empresários para trazer seus investimentos para cá
04 de Maio, 2022 | 04:56 AM

Bloomberg Línea — É uma questão de tempo até que os principais clubes de futebol da primeira divisão do Brasil queiram mudar seus sistemas e se tornar uma Sociedade Anônima de Futebol (SAF), conforme relatório do BTG Pactual (BPAC11) publicado nesta segunda-feira (2).

“A implantação das SAFs não só melhorará os modelos de negócios dos clubes, mas também tem potencial para revolucionar o segmento, atraindo investimentos para a indústria, além de melhorar o desempenho e a competitividade das equipes brasileiras”, disse o banco.

Mas o que são as SAFs?

O Cruzeiro foi o primeiro grande clube brasileiro a adotar o modelo, cuja lei foi aprovada pelo Congresso brasileiro no segundo semestre de 2021. A lei facilita a transformação dos times em empresas – seguindo um modelo que é comum na Europa há duas décadas – com um mecanismo de governança de sociedades anônimas e enquadrado em um regime tributário especial.

Atualmente, além do Cruzeiro, os outros clubes brasileiros que viraram SAF são: América Mineiro, Botafogo, Coritiba, Cuiabá, Figueirense e Gama, de Brasília.

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O Vasco da Gama, do Rio de Janeiro, pode ser o próximo a entrar no modelo, pendente ainda da proposta vinculante da 777 Partners, após assinatura do memorando de entendimento em fevereiro. A 777 Partners também é proprietária do italiano Genoa e tem uma participação minoritária no espanhol Sevilla.

A fama do futebol brasileiro ao redor do mundo é o que chama atenção dos empresários para trazer seus investimentos para cá. De longe, a nação mais populosa da América Latina é um paraíso do esporte, com torcedores apaixonados e alguns dos melhores jogadores do mundo. Os cinco títulos de Copa do Mundo e a Seleção de maior sucesso da história são atrativos fortes. Mas os clubes profissionais do país têm se endividado, com problemas agravados pelo impacto financeiro da pandemia de covid-19.

O modelo de SAF “é uma oportunidade para clubes altamente endividados reestruturarem/reduzirem dívidas, aprimorarem a gestão e melhorarem a liquidez, permitindo que eles façam melhores investimentos em infraestrutura, elenco e tecnologia, melhorando o desempenho em campo e o potencial de geração de receita”, explica a equipe do BTG liderada por Carlos Sequeira.

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Hoje, mais de 130 clubes são corporações, seja uma microempresa, uma sociedade limitada ou uma corporação, de acordo com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF). A maior parte dos clubes que já se tornaram SAF não joga na primeira divisão. Mas, para o BTG, é uma questão de tempo até a nata do futebol se render ao modelo.

“Clubes que geram lucros e bem posicionados no cenário futebolístico em termos de investimentos, infraestrutura e desempenho provavelmente não serão os primeiros a adotar o modelo de SAFs (há exceções como o Atlético Mineiro, que está estudando opções e analisando propostas de investimento para se tornar uma SAF em breve)”. O banco pontua que a expectativa é de que esse cenário mude em três etapas:

  • Primeira fase: A implementação deve se concentrar em equipes em situação financeira difícil, para as quais o modelo de SAF pode ser considerado de grande ajuda e provavelmente é mais urgente do que para outras equipes;
  • Segunda fase: Pode envolver equipes de médio escalão que buscam investimentos e entradas de capital para melhorar o desempenho em campo, elencos, infraestrutura e resultados. Para essas equipes, a combinação de SAF e a criação de uma liga de futebol pode ser transformadora;
  • Terceira fase: Principais clubes da primeira divisão podem passar a sentir a necessidade de migrar para o modelo à medida que outras equipes, que já operem como SAF, melhorarem e se tornarem mais competitivas. Equipes que são atualmente mais bem-sucedidas podem se sentir pressionadas a seguir o exemplo para atrair mais investimentos.

“Estamos entrando em um novo mundo onde os torcedores precisam entender as ideias e os objetivos dos investidores”, disse Cesar Grafietti, consultor que assessora equipes brasileiras na gestão de suas finanças, à Bloomberg News, em janeiro. “Esse é o início de um modelo de negócios muito novo para o futebol brasileiro”, disse ele, acrescentando que os investidores devem ter em mente o potencial de crescimento ao fechar acordos.

-- Com informações de Bloomberg News

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Kariny Leal

Jornalista carioca, formada pela UFRJ, especializada em cobertura econômica e em tempo real, com passagens pela Bloomberg News e Forbes Brasil. Kariny cobre o mercado financeiro e a economia brasileira para a Bloomberg Línea.