Os Faria Limers estão obcecados com beach tennis - e não são só eles

Com metas agressivas de expansão, academias de esporte de praia ganharam força na pandemia e veem mercado em ascensão

Jogadores de beach tennis na academia Estação Praia, no Butantã, em São Paulo.
30 de Abril, 2022 | 07:26 AM

Bloomberg Línea — No meio da selva de pedra, estacionamentos ganham areia, rede e guarda-sol. Os locais vão se multiplicando e conquistando novos adeptos. Se você já passou pela região da Faria Lima, Vila Olímpia e Pinheiros, em São Paulo, sabe do que estamos falando: é o fenômeno beach tennis.

O “frescobol gourmet” que conquistou o mercado financeiro tem ganhado cada vez mais espaço na capital paulista, ocupando locais que antecedem a construção de novos empreendimentos e estacionamentos, além de inspirarem academias focadas nos esportes de praia, que ganharam força durante a pandemia.

“A explosão do beach tennis começou nos últimos cinco anos e teve um ritmo muito acelerado nos dois anos de pandemia, com as pessoas buscando opções para praticar esportes ao ar livre por conta do isolamento social e fechamento de academias”, lembra Gabriel Cunha, CEO e fundador do Posto 011.

O Posto 011, fundado em 2017, começou com foco no vôlei de praia e no futevôlei. Hoje, a empresa possui oito unidades na capital e planeja abrir mais sete até junho.

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A expansão agressiva, que deve mirar em franquias no segundo semestre, tem focado no beach tennis dada a demanda, com o esporte representando hoje metade da receita, ante cerca de 15% antes da pandemia. A expectativa, segundo Cunha, é de que esse percentual chegue a 70% nos próximos meses.

A empresa também está apostando em uma nova unidade, com cerca de 4 mil metros quadrados, na esquina da Avenida Faria Lima com a Avenida Juscelino Kubitschek, no coração do centro financeiro paulista.

Outra estratégia que tem sido utilizada por academias de esportes de praia recai sobre unidades itinerantes, que são construídas em parceria com incorporadoras, como Tecnisa e Cyrela, em estandes de vendas de empreendimentos.

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Mas afinal, quem joga beach tennis?

“As construtoras estão vendo que é uma forma de atrair público para o empreendimento, que tem captado mais usuários do que os estacionamentos”, afirma Eduardo ­L’Hotellier, fundador e CEO do GetNinjas (NINJ3).

O executivo começou a praticar o esporte durante a pandemia, de forma a ter uma atividade saudável e que pudesse fazer junto com a esposa. Hoje, faz aula uma vez por semana e joga aos fins de semana com amigos.

Eduardo ­L’Hotellier, fundador e CEO do GetNinjasdfd

A forte demanda pelo esporte levou ­L’Hotellier a incluir o serviço na plataforma do GetNinjas. Apesar de o foco da empresa recair sobre reformas e serviços domésticos, há mais de 500 categorias oferecidas, uma delas a de professores de beach tennis.

O valor das aulas varia de acordo com a região e com o professor, mas custam, em média, entre R$ 100 e R$ 200 a hora – em linha com o cobrado por personal trainers e professores de tênis, segundo o executivo.

Da praia – ou do clube – para a sua esquina

Apesar de não ser um esporte novo, o beach tennis estava muito concentrado em cidades litorâneas e dentro de clubes, na capital paulista, que exigem, além da mensalidade, a compra de um título como forma de adesão.

Cunha, do Posto 011, viu nesse nicho uma oportunidade. “Eu trabalhava engravatado e um amigo, que é sócio do Clube Pinheiros, me convidou para fazer um almoço diferente no meio da semana: jogar futevôlei. Praticar esporte no meio da [Avenida] Faria Lima, ao ar livre, no meio da areia, foi uma experiência muito bacana”, lembra.

Enquanto alguns viram no esporte uma forma de se “desconectar” da cidade grande, outros conseguiram reviver momentos de sua terra natal. Foi o caso da carioca Fernanda Melo, economista e planejadora financeira com certificação CFP, que começou a jogar beach tennis com amigos, durante o fim de semana.

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Ela conta que não tinha o hábito de praticar esportes, mas que o enclausuramento provocado pela pandemia fez com que ela sentisse necessidade de praticar alguma atividade física e então viu no beach tennis algumas vantagens, como o ambiente ao ar livre e descontraído.

“No Rio de Janeiro era algo que se fazia na praia. Quando cheguei em São Paulo, alguns bares tinham areia para simular praias. Agora, com essas quadras, fica muito mais dinâmico e traz um contato maior com a natureza. Isso que é o mais legal, porque nos sentimos em um outro ambiente, apesar de estarmos no meio da cidade”, diz.

De acordo com dados da Confederação Brasileira de Beach Tennis, hoje são mais de 1.200 quadras do esporte em todo o estado de São Paulo, com 30% delas localizadas na capital.

Esporte para todos - que consigam pagar

Ainda que tenha ganhado espaço entre profissionais do mercado financeiro, o beach tennis tem se expandido para diferentes grupos. “O fenômeno beach tennis veio por ser algo extremamente democrático, para todas as faixas etárias, por ser fácil de aprender – em poucas partidas já fica divertido –, e hoje está bem fácil de encontrar quadras”, diz ­L’Hotellier, do GetNinjas.

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A avaliação é compartilhada por Cesar Golfetti, da área de recrutamento e seleção da XP (XP). “É um esporte inclusivo e que une pessoas de todas as idades, homens, mulheres, crianças e idosos. O único problema hoje é que ficou um esporte mais elitizado”, afirma.

Golfetti começou a jogar beach tennis em 2019, em clubes no interior de São Paulo. Ele lembra que na época era mais difícil de encontrar quadras e outros jogadores na capital, o que mudou com a pandemia e chegada das academias de esportes de praia.

O novo campo de golfe

Em meio ao fenômeno beach tennis, as quadras de areia viraram o novo campo de golfe, com espaço para troca de ideias, integrações de empresas e happy hours.

Na academia Estação Praia, localizada no Butantã, uma das grandes demandas é pela locação do espaço para eventos. “Temos tido demanda de empresas que nos procuram para fechar um horário de duas horas na semana, de forma a promover a prática de atividade física para os colaboradores. É uma forma de descompressão do trabalho”, conta Samir Calil Jorge, sócio do Estação Praia.

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No GetNinjas, ­L’Hotellier conta que organizou um happy hour para os funcionários com beach tennis e que foi uma “experiência interessante”.

Jogo de Beach Tennis na academia Posto 011, em São Paulodfd

“As empresas precisam encontrar atividades que sejam inclusivas e ao ar livre para os funcionários. No fim, é uma diversão com fim empresarial. A gente quer que o time esteja unido, confie um no outro, que o erro seja ultrapassado, que os pontos sejam elogiados e que, aqueles com mais dificuldade sejam encorajados. É uma maneira muito simplificada do que vai acontecer no dia a dia da empresa”, conta.

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Além de integração entre os funcionários, a quadra também virou um novo ambiente de negócios. ­L’Hotellier conta que já foi reconhecido jogando e recebeu até pitch de empreendedor após a partida.

Mercado saturado?

Depois das cafeterias, sorveterias e paleterias, o beach tennis é o novo fenômeno da capital paulista – atraindo muitos empreendedores de olho na alta demanda por quadras e aulas. Mas o mercado já está saturado?

Na avaliação de Jorge, do Estação Praia, ainda não estamos próximos desse momento, dado que há muitas pessoas conhecendo o esporte. “Nós estamos em uma curva ascendente de abertura de novas quadras. Vejo a consolidação daqui a um, dois anos, em que vai sobreviver aquele que melhor atender o cliente e tiver o melhor espaço”, afirma.

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Hoje, 70% da receita da academia corresponde ao beach tennis. O futevôlei entra com 20% e o vôlei, com 10%. “As academias que só existiam com futevôlei e vôlei tiveram que se adaptar”, conta.

Quanto custa montar uma quadra de beach tennis?

De acordo com as academias ouvidas pela Bloomberg Línea, para a construção de uma quadra multiesportiva, em que podem ser praticados tanto o beach tennis, quanto vôlei e futevôlei, é desembolsado entre R$ 50 mil e R$ 100 mil.

O montante desconsidera o entorno, que pode incluir vestiários, churrasqueira, lanchonete e demais amenidades. A manutenção também é um dos principais custos, que incluem limpeza e reposição de areia, bem como nivelamento da quadra.

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E quanto custa para jogar?

Já do ponto de vista do jogador, este terá que desembolsar entre R$ 500 e R$ 2 mil por uma raquete. Já as bolinhas custam a partir de R$ 40.

Para fazer aulas em academias em São Paulo, os preços são, em média, de R$ 350, para duas vezes na semana. Os valores, contudo, variam de acordo com a região em que está localizada a academia, horário e número de jogadores, de acordo com as academias consultadas.

A locação de quadra pode custar um pouco mais de R$ 100, mas um dos grandes atrativos oferecidos pelas academias é o day-use, em que é possível pagar entre R$ 30 e R$ 40 e passar o dia em partidas com outros jogadores.

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.