Magnata de cripto desafia Wall Street com plano para derivativos

Se o plano da FTX for aprovado pelos reguladores, muitos no setor de finanças tradicionais temem que o modelo possa ser aplicado a outros ativos

Opositores dizem que o plano da FTX comprometeria proteções aos investidores
Por Katherine Doherty - Allyson Versprille e Yueqi Yang
22 de Abril, 2022 | 12:23 PM

Bloomberg — Em um luxuoso encontro do setor financeiro conhecido por palmeiras esvoaçantes e festas noturnas em iates, a principal atração esse ano foi um confronto entre um bilionário de criptomoedas e um chefe do mercado de derivativos.

Sam Bankman-Fried, cuja plataforma FTX rapidamente se tornou um espaço dominante para investimentos em moedas virtuais, bateu de frente com Terry Duffy, o CEO de longa data da CME, no evento na Flórida.

Entre os temas abordados na discussão intensa estava uma proposta da FTX de executar todos os aspectos das negociações de derivativos de criptomoedas dos clientes por conta própria - sem passar por outras bolsas, bancos e intermediários financeiros.

Se o plano da FTX for aprovado pelos reguladores, muitos no setor de finanças tradicionais temem que o modelo possa ser aplicado a outros ativos e ameaçar o domínio de Wall Street sobre aspectos lucrativos do arcabouço do mercado.

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A peça central do plano da FTX é usar algoritmos em vez de corretores para ajudar na compensação de negociações, um processo crucial para liquidar transações que garante que vendedores obtenham seus fundos e compradores obtenham os ativos que adquiriram.

“É a primeira ruptura construtiva real na estrutura tradicional de mercado que vimos em algum tempo”, disse David Weisberger, que no início de sua carreira construiu sistemas de negociação para o Morgan Stanley e Two Sigma e agora administra a empresa de criptomoedas CoinRoutes. “Toda mudança cria tensão.”

Os opositores dizem que o plano da FTX comprometeria proteções aos investidores, poderia custar aos corretores seus empregos ao cortá-los de negócios e arrisca perturbar mercados que funcionam bem.

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Mas uma preocupação maior é que a proposta, sob revisão pela Commodity Futures Trading Commission, que regula o mercado de derivativos dos EUA, possa dar à FTX a chance de se expandir em vastos mercados, desde petróleo a ouro e moedas.

Quando perguntado sobre o plano em entrevista à Bloomberg Television, Bankman-Fried disse que a FTX está focada em transações de criptomoedas de varejo por enquanto. Mas acrescentou que “há aplicações realmente interessantes para uma grande variedade de classes de ativos”.

A CME, a Intercontinental Exchange que controla a New York Stock Exchange, a Cboe Global Markets e os bancos de Wall Street que fazem compensação de transações nessas plataformas podem ser afetados se o FTX realmente crescer além das criptomoedas.

No ano passado, a CME registrou US$ 3,8 bilhões em receita de negociação e compensação de contratos futuros, enquanto a ICE faturou US$ 2,4 bilhões, segundo dados compilados pela Bloomberg.

É muita coisa em jogo, e isso ficou à mostra em março, quando Duffy, 63, e Bankman-Fried, 30, se encontraram no resort de Boca Raton, segundo mais de meia dúzia de pessoas que testemunharam o debate que durou mais de uma hora, ou foram informadas sobre ele. O embate gerou alvoroço na conferência da Futures Industry Association.

Duffy e Bankman-Fried não quiseram comentar sobre a discussão, assim como CME, ICE e Cboe sobre o plano da FTX. A CFTC, que também não quis comentar, não especificou uma data para decidir sobre a proposta.

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