Mercados dos EUA e da Europa se descolam em dia de largada de balanços

Após três sessões de queda, futuros de índices nos EUA avançam; na Europa, bolsas inclinam-se para o campo negativo; investidores avaliam onda de índices inflacionários

As variáveis que orientarão os mercados
13 de Abril, 2022 | 07:59 AM

Barcelona, Espanha — Uma série de elementos conforma o pano de fundo nos mercados. A escalada da guerra, o início da temporada de balanços corporativos e indicadores macroeconômicos, com destaque para os de inflação. Contudo, depois de três quedas sucessivas em Wall Street, os caçadores de barganhas podem se ver tentados a entrar em ação.

Os mercados norte-americanos e europeus operam descolados. Nos Estados Unidos, os futuros de índices avançam, com mineradoras e empresas de energia liderando o movimento. As varejistas, no entanto, eram prejudicadas pela queda das ações da Tesco Plc para o menor nível em seis meses. A empresa alertou que o lucro será afetado pela crise do custo de vida do Reino Unido.

Os investidores estão agora voltando sua atenção para a temporada de ganhos, enquanto aguardam a reunião do Banco Central Europeu na quinta-feira. Os traders estão cada vez mais protegendo o risco de estagflação, especialmente na Europa, em meio à preocupação de que a alta inflação e o abrandamento do crescimento acabarão espremendo os lucros das empresas.

O petróleo sobe com a promessa da Rússia de continuar a guerra na Ucrânia e a China aliviando parcialmente as limitações de mobilidade com a covid-19.

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💸 Custo de vida elevado

Falando em Reino Unido, a inflação do país subiu para 7% em março, a maior alta em 30 anos. Um ano atrás, o Índice de Preços ao Consumidor britânico era inferior a 1%. A escalada da crise se tornará ainda mais marcante este mês, quando um aumento de 54% no limite do preço da energia entra em vigor.

Ontem o mercado soube que os preços ao consumidor dos EUA subiram em março para 8,5%, a maior taxa desde o final de 1981, o que reforça a pressão sobre o Federal Reserve para aumentar ainda mais as taxas de juros. A boa notícia é que o núcleo da inflação, que exclui os preços de alimentos e energia, ficou melhor que o esperado.

Hoje há nova rodada de dados inflacionários no radar, com indicadores dos EUA (índice de preços ao produtor) e IPCs na Europa.

Leia também o Breakfast, uma newsletter da Bloomberg Línea: Escola ‘inflação’ de investimento

🏦 Tendência entre bancos centrais

A disparada inflacionária está forçando os bancos centrais a serem mais agressivos em sua política monetária. A Nova Zelândia implementou um aumento da taxa de juros de meio ponto percentual — o maior em 22 anos —, para 1,50%, evidenciando a tendência de aperto monetário em uma série de economias. Para conter a inflação, também se espera que o Canadá eleve hoje o custo do dinheiro na mesma proporção, 0,50 ponto, para uma taxa de 1,00%. E amanhã tem decisão sobre juros do Banco Central Europeu (BCE).

O presidente do Fed Bank of St. Louis, James Bullard, disse que a política monetária dos EUA precisa ser apertada a um ponto que restrinja o crescimento econômico. Do contrário, afirmou Bullard, os formuladores de políticas colocarão em risco credibilidade. Ele apoia um aumento de meio ponto percentual na reunião do Fed em maio e diz que a taxa deve subir “acentuadamente” depois disso.

🚨 Armas químicas?

A guerra recrudesce. O Pentágono informou que está monitorando relatos de que as forças russas teriam implantado uma substância venenosa na cidade sitiada de Mariupol. Ainda não há informações claras, mas se confirmada como uma arma química, escalará a guerra a um nível ainda mais preocupante.

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As alegações foram feitas por membros do batalhão Azov, uma milícia de direita na Guarda Nacional da Ucrânia que fez parte da defesa de Mariupol. O grupo publicou imagens de vídeo de alguns soldados e um civil sofrendo efeitos que, segundo eles, incluem rostos ruborizados, azia, inflamação nas mucosas e ressecamento dos olhos.

O governo dos EUA está preparando um pacote de assistência militar de aproximadamente US$ 750 milhões para a Ucrânia, segundo a Bloomberg. O presidente Joe Biden reiterou as acusações de que Vladimir Putin comete um genocídio. Separadamente, a China e a Rússia continuam a desenvolver e a implantar armas que podem atacar os satélites dos EUA.

⇒ Hoje será dada a largada da temporada de balanços corporativos, com destaque para JPMorgan, BlackRock e Delta Air Lines.

A BlackRock Inc. divulgou em seu balanço que os fundos de longo prazo da gestora tiveram um aumento líquido de US$ 114 bilhões no primeiro trimestre, resistindo à queda generalizada dos mercados de ações no período. Os ativos sob gestão totalizaram US$ 9,57 trilhões no final de março, depois de haver superado os US$ 10 trilhões no final de 2021.

Um panorama dos mercados em dia que marca o início de nova safra de balanços

🟢 As bolsas ontem: Dow (-0,26%), S&P 500 (-0,34%), Nasdaq (-0,30%), Stoxx 600 (-0,35%), Ibovespa (-0,69%)

As bolsas de valores americanas ampliaram as perdas da segunda-feira. O aumento dos preços do petróleo avivou a preocupação de que a inflação continuará a atingir as carteiras dos consumidores. As ações dos grandes bancos foram os principais perdedores na sessão, véspera do início da temporada de balanços. As preocupações com o petróleo caro acabaram por superar a inflação divulgada ontem, que subiu 8,5% em março, a maior taxa em 40 anos, apesar de em linha com as expectativas (+8,4%).

Na agenda

Esta é a agenda prevista para hoje:

• EUA: IPP/Mar; Relatório Mensal da IEA; Pedidos de Hipotecas MBA; Índice de Compras MBA; Estoques de Petróleo Bruto; Atividade das refinarias de Petróleo pela EIA (Semanal); Relatório Semanal EIA de Estoques de Destilados

• Europa: Zona do Euro (Produção Industrial/Fev); Reino Unido (IPP e IPC/Mar; Índice de Preços no Varejo - RPI/Mar; Índice de Preços de Imóveis); Espanha (IPC/Mar); Itália (Produção Industrial/Fev)

• Ásia: China (Balança Comercial/Mar)

• América Latina: Brasil (Vendas no Varejo/Fev; Empréstimos Bancários/Fev; Confiança do Consumidor Reuters/Ipsos/Abr); Argentina (IPC/Mar)

• Bancos centrais: Decisão de Política Monetária do Bank of Canada (BoC); Discurso de Haruhiko Kuroda, dirigente do Bank of Japan (BoJ)

• Balanços do dia: JPMorgan, BlackRock, Delta Air Lines, Tesco, entre outros

📌 E para amanhã:

• Feriados: Argentina, México, Colômbia, Peru, Venezuela, Espanha

• EUA: Pedidos Iniciais por Seguro-Desemprego; Vendas no Varejo/Mar; Projeções de Vendas no Varejo/Mar; Estoques das Empresas/Fev; Confiança do Consumidor Michigan/Abr; Índice Michigan de Percepção do Consumidor/Abr; Expectativas de Inflação Michigan/Abr; Nível de Estoques do Varejo excluindo Automóveis/Fev; Estoque de Gás Natural

• Europa: Zona do Euro (Taxa de Facilidade Permanente de Depósito - BCE/Abr); Alemanha (Índice de Preços por Atacado/Mar); Reino Unido (Pesquisa de Condições de Crédito do BoE)

• Ásia: China (Investimento Estrangeiro Direto)

• América Latina: Brasil (IBC-Br/Fev)

• Bancos centrais: Reunião de Política Monetária e coletiva de imprensa do BCE. Discurso de Loretta Mester, membro do FOMC/Fed

• Balanços do dia: TSMC, Wells Fargo, Morgan Stanley, Goldman Sachs, Citigroup, PNC Financial, UnitedHealth, Coinbase, Ericsson

-- Com informações de Bloomberg News

Michelly Teixeira

Jornalista com mais de 20 anos como editora e repórter. Em seus 13 anos de Espanha, trabalhou na Radio Nacional de España/RNE e colaborou com a agência REDD Intelligence. No Brasil, passou pelas redações do Valor, Agência Estado e Gazeta Mercantil. Tem um MBA em Finanças, é pós-graduada em Marketing e fez um mestrado em Digital Business na ESADE.