Eleições: Turbulência na Petrobras antecipa temas da campanha eleitoral

Disputa colocou em dúvida o modelo de negócios da estatal, que inclui prática de preços de mercado e controle de custos, e que propiciou lucros recordes

Por

Bloomberg — Uma batalha conturbada pela liderança da Petrobras (PETR4; PETR3), maior produtora de petróleo da América Latina, está preparando o cenário para a contenciosa campanha presidencial e evidenciando as complexas tensões entre a busca de lucros da empresa e seu papel como uma ferramenta para medidas populistas.

Desde o fim de semana, as escolhas do presidente Jair Bolsonaro para CEO e presidente do conselho foram abruptamente transformadas em um fiasco de relações públicas. O fato de Bolsonaro mudar a gestão da empresa em fim de mandato ressalta a importância política da Petrobras em um momento em que os eleitores o culpam pelos altos preços dos combustíveis nas bombas, agravados pela invasão russa da Ucrânia.

A eleição colocou em dúvida o modelo de negócios da Petrobras, que inclui prática de preços de mercado e controle de custos, e que propiciou lucros recordes. Idas e vindas de Bolsonaro em pedidos de intervenção nos preços e a privatização total sinalizam um futuro incerto mesmo que ele consiga vencer a corrida presidenciaL. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o favorito na disputa das eleições de outubro, diz que vai abandonar a política de preços de mercado e mais uma vez tornar a Petrobras uma criadora de empregos e impulsionadora do desenvolvimento nacional.

“A volatilidade na liderança da Petrobras está prenunciando a volatilidade que o Brasil verá durante a campanha presidencial e depois”, disse Schreiner Parker, chefe da consultoria para América Latina da Rystad Energy. “A ideia de um executivo experiente de longo prazo no comando da Petrobras, em vez de um aliado político, parece distante na presidência de Lula ou de Bolsonaro.”

As ações da Petrobras têm alta de 15% este ano, desempenho abaixo de outras grandes empresas de petróleo dadas as preocupações sobre a interferência política nos preços dos combustíveis.

Procura-se ajuda

Bolsonaro está tendo problemas para encontrar um CEO após a desistência do economista Adriano Pires. O também consultor inicialmente aceitou, mas depois disse que não conseguiria se desfazer do negócio de sua empresa com rapidez suficiente. Também houve especulações sobre conflitos de interesse relacionados a anos de consultoria para empresas privadas de petróleo e gás.

Um dos candidatos é o secretário do Ministério da Economia, Caio Paes de Andrade, disseram duas pessoas com conhecimento do assunto que pediram anonimato porque a discussão não é pública.

Andrade foi recomendado pelo ministro da Economia Paulo Guedes, segundo as fontes. O czar da economia vem tentando manter distância da turbulência da Petrobras, mas seu candidato é visto como uma boa solução porque ele não enfrentaria nenhum conflito de interesses e Bolsonaro gosta dele, disseram as pessoas. Andrade chegou ao governo em 2019 após anos em áreas como tecnologia da informação e imobiliário no setor privado.

‘Batalha Nacional’

Quem quer que assuma a Petrobras ficará no fogo cruzado da campanha eleitoral. Lula tem criticado Bolsonaro sobre os altos preços dos combustíveis, e a política do petróleo está se tornando a parte mais populista de uma campanha que tem como foco sua história como relativamente moderado.

“A Petrobras precisa se transformar em uma batalha nacional”, disse Lula na semana passada em um evento do sindicato do petróleo, onde foi acompanhado por um ex-presidente-executivo da Petrobras e chefe de exploração. “O caminhoneiro que não consegue mais encher o tanque precisa saber que essa luta é para ele.”

Ainda assim, os robustos pagamentos de dividendos da Petrobras - resultantes de anos de redução da dívida, cortes de custos e desinvestimentos - ajudaram a proteger parcialmente a ação da empresa da política. O JPMorgan Chase disse que os investidores devem olhar além do fluxo de notícias da “saga do CEO” e se concentrar na forte geração de caixa da empresa e no fato de que as ações continuam sendo negociadas com desconto em relação aos pares.

“Seríamos compradores em provável fraqueza”, escreveu o analista Rodolfo Angele em um relatório recente.

Veja mais em bloomberg.com

Leia também