Por Gino Matos para Mercado Bitcoin
São Paulo — Um estudo da empresa de serviços bancários BNY Mellon Wealth Management, divulgado no fim de 2021, apontou que 77% dos 200 family offices – gestoras do patrimônio de famílias com grandes fortunas – entrevistados em vários países, incluindo o Brasil, investem em criptomoedas ou têm interesse em fazê-lo. Reforçando esse levantamento, uma publicação da Forbes da mesma época mostrou que 4% dos bilionários no mundo estavam expostos às criptomoedas via family offices.
“[O aumento do interesse de family offices no Brasil] tem sido um processo que percebemos por meio de nossa mesa de clientes no último ano. Muitos procuram a educação do time para entender a tese de investimento por trás dos criptoativos, assim como as principais tendências da Web3″, diz Guto Antunes, CEO da MezaPro, empresa do Grupo 2TM, que oferece a clientes institucionais serviços especializados com ativos digitais.
Antunes acrescenta que o volume de family offices buscando criptomoedas se divide igualmente entre gestores querendo aprender mais e aqueles que já conhecem essa classe de ativos e procuram exposição.
Além de family offices, o investimento mensal de fundos de capital de risco em empresas relacionadas a criptoativos bateu recordes em janeiro deste ano, somando quase US$ 5 bilhões. No mês seguinte, a Bloomberg anunciou a integração de ferramentas de monitoramento do mercado cripto à sua solução AIM, que atende 15 mil clientes com US$ 17 trilhões de ativos sob gestão.
A nova geração e a Web 3.0
O interesse de family offices pelas criptomoedas avança na medida em que esses ativos fazem parte do movimento da Web 3.0, que inclui blockchain, contratos inteligentes e identidade autossoberana. O estudo da BNY Mellon indicou ainda que 64% das gestoras de grandes fortunas avaliam que as criptomoedas atendem ao desejo da nova geração de investidores.
Além disso, 86% das family offices acreditam que a geração futura de líderes está mais inclinada a adotar investimentos do ambiente de finanças descentralizadas do que a atual, incluindo empréstimos diretos entre pessoas físicas e o modelo crowdfunding (financiamento coletivo) na mesma prateleira dos ativos digitais.
A visão de Antunes segue na mesma linha. Para ele, o interesse desses gestores está ligado ao do cliente final. “Já temos uma nova geração,que pensa, vive e age por meio dos tokens, jogos e redes descentralizadas. É uma mudança de hábito muito grande que o investidor não pode mais ignorar.”
O que muda no mercado cripto
Ao indicar que 66% das 200 family offices ouvidas pretendem ampliar a exposição em ativos digitais até 2024, o estudo da BNY Mellon aponta em uma direção: a de que a participação delas no mercado de criptomoedas deverá crescer ainda mais.
Maurício Bellinelo, integrante da casa de análises O2 Research, diz que uma das mudanças que deverão ser vistas se refere às variações de preço. Para ele, quanto maior for a entrada de capital maiores os volumes negociados diariamente, métrica que ajuda a reduzir a volatilidade do mercado.
Para Alex Krüger, economista argentino CIO da Asgard Digital, essas alterações já começaram. “O dinheiro institucional é o que guia as criptomoedas agora, e a correlação com os preços das ações nos mostra isso”, diz. Um relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI), publicado em janeiro deste ano, indica um aumento na correlação entre ações e o mercado de criptoativos.
Antunes compartilha da opinião de que o perfil de investimento no setor de criptomoedas passará por mudanças com o aumento da presença de family offices. “O movimento vai trazer investidores qualificados e profissionais que se apoiam em teses de investimentos, analisando profundamente o mercado antes de tomar uma decisão.”
Para ele, haverá ainda uma busca maior por serviços de “assessoria qualificada preparada para ajudá-los em toda sua experiência na nova economia digital”, como mesas do mercado de balcão para movimentação de grandes valores.